Petrobras -9,8% e BB -2,48% mostram medo da ‘nova’ Lei das Estatais
Câmara flexibilizou quarentena para políticos assumirem cargos de comando nas empresas controladas pela União. Ibovespa sobe 0,20%. Nos EUA, Fed reduz alta de juros.
Parece um milagre. As ações da segunda maior empresa do Ibovespa caíram quase 10%. E mesmo assim o índice termina o dia numa alta sofrida de 0,20%. Estamos falando, claro, da Petrobras.
As ações ordinárias da estatal, com direito a voto (PETR3), derreteram 9,80% nesta quarta. Esse é o papel detido pela União, e que dá ao governo de turno a capacidade de decidir os rumos da companhia. As ações preferenciais (PETR4), mais líquidas, caíram “só” 7,93%. Elas lideraram o ranking das maiores baixas do dia.
O colapso foi causado pela aprovação, a toque de caixa, de uma mudança na lei das estatais. A Câmara reduziu de 36 meses para 30 dias a quarentena de políticos que queiram assumir cargos em empresas públicas. O alvo era liberar Aloizio Mercadante a comandar o BNDES – mas o tiro acertou em mais alvos.
Um deles foi a Petrobras, cujas ações cederam ao menor patamar desde maio de 2021. O outro foi o Banco do Brasil. A ação do banco público recuou 2,48%.
Nomes dos novos CEOs das estatais da bolsa ainda não foram anunciados. O lance é que a Lei das Estatais é relativamente nova, foi criada em 2016 como um instrumento que tentaria evitar o aparelhamento político das empresas de controle público pelo partido de turno.
Não que a lei tenha cumprido o seu papel do jeito que foi escrita. O atual presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, não tinha formação acadêmica e nem experiência prévia no setor, requisitos previstos na lei das estatais para assumir o cargo. E, ironicamente, a lei não teria barrado a posse dos diretores da companhia julgados como pivôs da cobrança de propina descoberta durante a Lava Jato.
Desde a vitória de Lula, o mercado financeiro tem feito sua pressão em prol de políticas mais pró-mercado. E uma das maiores reclamações é que o novo governo pretende acabar com a política de preços da petroleira.
Criada sob o governo Temer, a política seguia a cotação internacional do barril do petróleo e a variação do dólar, com o objetivo de manter o mercado interno abastecido sem que a Petrobras precisasse subsidiar os combustíveis. A mecânica foi abandonada no governo Bolsonaro.
Dado o efeito-imã que a Petrobras exerce sobre o Ibovespa, chega a ser surpreendente que a bolsa tenha terminado o dia em alta. Dos 92 papéis do índice, 61 subiram. E nem dá para agradecer os EUA.
5%
As bolsas americanas fecharam em queda na esteira da decisão amplamente esperada do Fed (o BC de lá) de reduzir o ritmo de altas dos juros americanos. A Selic gringa subiu para 4,5% ao ano (considerando o limite superior da banda).
Dá para ler a história de duas maneiras (ou com uma combinação dessa percepção).
1) Investidores compraram no boato e venderam no fato, o jargão do mercado financeiro para o que acontece quando uma notícia altamente antecipada acontece. Era o caso do aumento de 0,50 p.p. nos juros.
ou
2) Jerome Powell e seus colegas ainda não estão confiantes que a inflação está rumando em linha reta de volta à meta de 2% ao ano, e os aumentos de juros ainda serão pesados.
Powell de fato afirmou que os juros devem ficar em um nível alto por um período longo, e por alto entenda-se algo acima de 5% ao ano.
Os índices americanos também viveram os seus momentos de emoção, e chegaram a virar para o positivo com Powell. No fim, fecharam em queda.
Da mesma forma que não é possível escrever na pedra o apocalipse sobre as estatais, Wall Street não deve levar a ferro e fogo o tombo de hoje. Até amanhã.
Maiores altas
Meliuz (CASH3) 7,02%
SLC Agrícola (SLCE3) 6,33%
Cielo (CIEL3) 6,26%
Usiminas (USIM5) 5,50%
Alpargatas (ALPA4) 5,38%
Maiores baixas
Petrobras (PETR3) -9,80%
Petrobras (PETR4) -7,93%
Gol (GOLL4) -6,35%
Magazine Luiza (MGLU3) 6,07%
São Martinho (SMTO3) -5,06%
Ibovespa: 0,20%, a 103.745,77 pontos
Nova York
Dow Jones: -0,42%, a 33.966 pontos
S&P 500: -0,61%, a 3.995 pontos
Nasdaq: -0,76%, a 11.171 pontos
Dólar: -0,27%, a R$ 5,3010
Petróleo
Brent: 2,50%, a US$ 82,70
WTI: 2,51%, a US$ 77,28
Minério de ferro: -0,05%, a US$ 108,45 por tonelada na bolsa de Singapura