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Paz reina no mercado e leva Ibovespa aos 120 mil pontos

Novo presidente da Petrobras é arroz de festa no setor de petróleo e agrada investidores. Lá fora, Rússia e Ucrânia ensaiam meia trégua.

Por Juliana Américo
Atualizado em 29 mar 2022, 17h38 - Publicado em 29 mar 2022, 17h34

Após um pouco mais de um mês de guerra, as negociações entre a Rússia e a Ucrânia começaram a avançar. A luz no fim do túnel, apesar de longe, aliviou um pouco mais o rali do petróleo e deu espaço para as bolsas subirem – incluindo a brasileira, que voltou ao patamar dos 120 mil pontos. 

Pouco antes do fim do pregão de ontem começou a circular a notícia de que Bolsonaro tiraria o general Joaquim Silva e Luna do comando da Petrobras. Isso ajudou a interromper a onda de alta do Ibovespa. Mas os investidores tiraram a noite para digerir a troca e já começaram o dia com um pensamento de “tá ruim, mas tá bom”. 

Junto com a confirmação da saída de Silva e Luna veio o nome do sucessor: quem assume é Adriano Pires, economista e especialista no setor de óleo de gás. Ele é diretor fundador da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) e trabalhou por na ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) – onde atuou como

superintendente de importação e exportação, superintendente de abastecimento e assessor do diretor-geral da agência. Aliás, ele será o 40º presidente da Petro.

A mudança para valer só vai acontecer depois da confirmação do nome na Assembleia Geral Ordinária, marcada para o dia 13 de abril. Mas os investidores receberam bem a ideia de troca de comando na Petro. Adriano já é conhecido no mercado por ser crítico ao congelamento de preços e intervenção do Estado, o que supostamente neutralizaria os pitacos de Bolsonaro na gestão da empresa.

Essa já não é a primeira vez que Bolsonaro troca o comando da estatal. Na verdade, desde que tomou posse lá em 2019, essa já é a terceira troca: Roberto Castello Branco substituiu Ivan Monteiro no início do mandato e aguentou no cargo até abril de 2021. O anúncio de que sairia veio meses antes, em fevereiro, e sua cabeça rolou justamente por causa da alta nos combustíveis. 

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Silva e Luna completa um ano de Petro no mês que vem. Mas assim como o seu antecessor, passou a ser criticado pelo presidente por causa da política de preços da companhia. O problema é que a alta dos combustíveis é uma pedra no caminho da campanha pela reeleição de Bolsonaro. Na segunda, o Datafolha mostrou que xx% dos eleitores consideram a alta da gasolina e do diesel culpa de Bolsonaro. 

Trocar o comando da Petrobras, mesmo que não baixe os combustíveis, serve para dizer que fez alguma coisa.

E é nisso que o mercado se firmou. Que não vai mudar nada, e que Pires pode segurar um pouco a onda de Bolsonaro até as eleições. Aí o Ibovespa aproveitou para recuperar as perdas de ontem e retomar a sua onda de alta. A bolsa brasileira avançou 1,07%, aos 120.014 pontos – é o seu melhor patamar desde agosto do ano passado. 

As ações da Petrobras também subiram 2,47%, apesar da queda de 1% do petróleo. Esse, inclusive, já é o segundo dia de quedas acentuadas da commodity (ontem a queda foi de quase 7%). O movimento é uma resposta do mercado ao possível acordo de paz no leste europeu – o que retomaria o fornecimento do petróleo russo; e ainda leva em conta a alta dos casos de covid e anúncios de lockdowns na China, que estão reduzindo a demanda de combustíveis. 

Ainda assim, o petróleo segue valorizado. Desde o fatídico dia 24 de fevereiro, quando começou a invasão russa, a commodity já subiu 16% e viu a cotação chegar a US$ 130. Mesmo com a queda de hoje, os preços continuam acima dos US$ 100. 

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Em clima de paz

Rússia e Ucrânia ainda não chegaram a um consenso sobre o rumo do conflito, mas o governo ucraniano já abriu mão da adesão à Otan e fez uma oferta de neutralidade militar de não implementação de bases militares internacionais em seu território. 

No entanto, o país também pediu um acordo internacional de segurança com “países garantidores”. O grupo será responsável por proteger a Ucrânia de qualquer agressão futura. Na proposta do negociador ucraniano, David Arakhamia, o grupo de proteção seria formado pelos países permanentes do Conselho de Segurança da ONU, além da Turquia, Alemanha, Canadá, Itália, Polônia e Israel.

Além da desmilitarização da Ucrânia e o compromisso de o país não ingressar na Otan, a Rússia também pede que o vizinho reconheça a anexação da Crimeia e a soberania do Donbass – região controlada pelos separatistas de Donetsk e Lugansk. Ela também deixou de lado a exigência de desnazificação e ainda sinalizou que pode aceitar a adesão ucraniana à União Europeia.

Após a reunião entre os negociadores, Moscou afirmou que pretende “reduzir drasticamente” a atividade militar em torno das cidades de Kiev e Chernihiv – o que ainda não significa um cessar-fogo, é só um sinal de que a Rússia está “flexível” nas negociações. Detalhe: as tropas russas não conseguiram tomar a capital ucraniana apesar de ataques constantes.

A expectativa agora é de que, conforme os países cheguem próximo de um acordo, seja marcada uma reunião entre os presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.

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Enquanto isso, as bolsas aproveitam a melhora do humor global. Os mercados europeus, que são os mais interessados no desfecho do conflito, fecharam em forte alta, com destaque para Paris e Madri, que dispararam 3%. 

Wall Street também subiu. Mas os investidores ainda estão tensos com o aumento da inflação e o aperto de juros mais agressivo do Federal Reserve. 

Nesta terça, saiu o relatório JOLTs, que é uma pesquisa mensal de ofertas de emprego. Para fevereiro, foram abertos 11,26 milhões de postos de trabalho, em linha com a projeção de mercado. Ainda nessa semana, vão sair outros dois relatórios importantes de emprego para os americanos, o ADP amanhã e o payroll na sexta. O Fed leva em conta o mercado de trabalho para determinar a sua política monetária e, em um cenário de pleno emprego, o banco central pode acelerar ainda mais a alta dos juros. 

O S&P 500 subiu 1,23%, aos 4.631 pontos. Já a Nasdaq avançou 1,84%, aos 14.619 pontos, impulsionada pelos papéis de tecnologia que estão em uma esteira de alta, após um começo de ano ruim. O destaque vai para a Apple, que está em seu 11º pregão seguido de alta; hoje, a alta foi de 1,69%, mas as ações da gigante já acumulam valorização de 18%. 

O clima é de paz, mas as incertezas permanecem. Seja na Ucrânia, na Petro ou no Fed. Basta esperar para ver até quando o mercado vai continuar a considerar o copo meio cheio. 

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Maiores altas

Americanas (AMER3): 8,42%

Magalu (MGLU3): 8,19%

Via (VIIA3): 8,12%

Positivo (POSI3): 8,05%

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IRB Brasil (IRBR3): 5,87%

Maiores baixas

Cyrela (CYRE3): -2,43%

Gerdau (GGBR4): -2,34%

Bradespar (BRAP4): -2,14%

Metalúrgica Gerdau (GOAU4): -1,55%

Tim (TIMS3): -1,44%

Ibovespa: 1,07%, a 120.014 pontos

Em NY:

S&P 500: 1,23%, a 4.631 pontos

Nasdaq: 1,84%, a 14.619 pontos

Dow Jones: -0,97%, a 35.295 pontos

Dólar: -0,31%, a R$ 4,7578

Petróleo

Brent: -1,63%, a US$ 107,71

WTI: -1,62%, a US$ 104,24

Minério de ferro: 0,8%, US$ 136,51 no porto de Qingdao (China)

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