Payroll, Apple (AAPL34) e a recuperação dos bancos regionais geram “sextou”

Normalmente, bons dados do mercado de trabalho americano sinalizam que o Fed vai apertar ainda mais os juros – e derrubam as bolsas. Hoje, porém, eles foram recebidos com festa: um sinal de que a economia não se contaminou com a crise no setor bancário. 

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 21 out 2024, 10h32 - Publicado em 5 Maio 2023, 17h29
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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Pouca gente anda sendo convidada a comparecer ao RH nos Estados Unidos. Pouca mesmo: o Payroll –  principal relatório sobre o mercado de trabalho do país, publicado mensalmente – mostrou que a taxa de desemprego caiu dos já utópicos 3,5% de março para 3,4% em abril. Coisa de Nárnia. 

É uma situação de pleno emprego, bem mais pleno que o normal. Esse é o menor número desde 1969, quando os americanos estavam (literalmente) na Lua. E foi uma surpresa, já que a expectativa dos analistas era que o dado na verdade subisse um pouquinho, para 3,6%. 

Os salários, na comparação com um ano atrás, cresceram 4,45% em abril, versus 4,20% em março. O salário médio por hora subiu 0,48% de março para abril – e de março para fevereiro, a alta havia sido de 0,3%. E claro, há o dado das vagas, que é sempre um dos mais aguardados. Foram criadas 253 mil posições no mês passado, ante a previsão de 185 mil. 

Esses resultados exemplares surpreendem, considerando o contexto macroeconômico atual. O Fed pôs a taxa básica de juros dos EUA em 5,25% para conter a inflação – que já desacelerou consideravelmente em relação ao pico de 9,1% em 2022, mas ainda marca 5% nos últimos doze meses; muito diante da meta de 2% do Fed. 

O banco central americano subiu a “Selic” deles para esfriar a economia, conter a alta nos preços e mirar na meta. Mas os indicadores nem sempre respondem satisfatoriamente a esses esforços – o Payroll anunciado hoje é um exemplo claro de economia mais aquecida que o esperado. 

Uma alta de 4,45% nos salários na base anual mostra que os patrões estão dando aumentos quase proporcionais à desvalorização do dinheiro. O que é ótimo em curto prazo, porque preserva o poder de compra dos trabalhadores. Mas, no longo prazo, é combustível para mais inflação, o que motiva o Fed a aumentar ainda mais os juros para contê-la. É uma corrida armamentista na política monetária. 

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É por isso que, em um dia normal, o mercado não reagiria bem aos dados de emprego desta sexta. Mas…

Muito pelo contrário

Hoje, porém, não foi um dia normal: o S&P 500 fechou em alta de 1,85%, e a Nasdaq, em 2,25%. O que aconteceu?

O primeiro ponto é que ações de alguns bancos regionais, de médio porte – que estavam desabando desde a falência do First Republic Bank e sua compra pelo JPMorgan –, se recuperaram um bocado na bolsa. O PacWest foi o grande destaque: fechou em uma alta espetacular de 81,70%, após cair 50% na quinta em meio a um surto de pânico. Sinal de que os investidores acordaram com menos medo de uma quebradeira no sistema bancário. 

Sob a luz dessa notícia, faz sentido comemorar os dados de emprego sólidos: eles são um sinal extra de que os problemas nas instituições financeiras não estão contagiando o resto do país.  

O segundo ponto é que o balanço da Apple alegrou, e embora o lucro da maçãzinha tenha recuado 3,4% no 1T23 em relação ao mesmo período de 2022, o resultado das vendas de iPhones ainda veio acima do esperado: alta 1,5% no período, o que gerou uma receita de US$ 51,3 bilhões, acima dos US$ 48,66 bilhões previstos. O mercado preferiu ver o lado meio cheio do copo e as ações fecharam em alta de 4,69%. Como a Apple tem o maior peso do S&P 500 (quase 5%), deu uma ajuda considerável para puxar o índice para cima. 

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Um terceiro ponto é que a Secretaria de Estatísticas do Trabalho, o órgão americano que publica o Payroll, revisou os dados de março e fevereiro para baixo. Cutucando as estatísticas, eles descobriram que, na verdade, foram criadas 165 mil vagas em março e 248 mil em fevereiro. São números muito menores que os divulgados originalmente, que foram 236 mil e 326 mil. Sinal de que a economia, no primeiro trimestre, estava mais fria do que parecia à primeira vista – ou seja, de que os juros do Fed fizeram parte do efeito esperado.

Por trás de tudo isso, há algo mais simples: o fato de que o Fed prometeu considerar o fim do ciclo de alta nos Estados Unidos ao divulgar o hike mais recente de 0,25 ponto percentual, na última quarta (3). É claro que essa é só uma sinalização, algo preliminar. Mas trata-se de uma tendência capaz de gerar bom humor. A plataforma de monitoramento do CMEGroup indica apenas 7% de chance de mais uma alta de 0,25 p.p. na próxima reunião do Fomc. 

Se o CPI de abril (o IPCA deles) vier acima das expectativas, a combinação entre dados de emprego e inflação será um motivo para reconsiderar altas. Por ora, os dados de emprego, sozinhos, não fizeram política monetária na cabeça dos investidores. E sempre vale o lembrete: a leitura de inflação favorita de Powell e sua turma não é o CPI, e sim o PCE, que tem menos distorções – mas, em contrapartida, é publicado mais tarde no mês, o que atrapalha conclusões precipitadas. 

Brasil 

O Ibovespa se inspirou com o otimismo generalizado e subiu também: o índice da B3 fechou em alta de 2,91%. A estrela do dia, de longe, foi a Braskem (BRKM5), que disparou 25,39% após a notícia de que a “Petrobras” dos Emirados Árabes, chamada Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), está interessada em adquirir integralmente a petroquímica brasileira, conhecida pela fabricação de plásticos. Dada a infinitude dos bolsos árabes, espera-se que eles paguem caro pelas ações. Isso gerou uma demanda acachapante, e as ações chegaram a entrar em leilão durante o dia. 

Seja como for, altas generosas se propagaram por toda a carteira do índice. As petroleiras, por exemplo, fizeram bonito, acompanhando a alta forte de 3,86% no barril: PETR4, 4,38%, PRIO3, 4,95%, RRRP3, 4,86%. O rali permitiu ao Ibovespa dar a volta por cima e fechar a semana em alta de 0,69%, compensando as perdas acentuadas da terça, que fechou em queda de 2,40%. 

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PETZ3 garantiu a medalha de prata do dia após um balanço considerado bom. O lucro, de R$ 19,1 milhões, veio 9,1% abaixo do 1T22. Mas o Ebitda subiu bem: 24,9%, para R$ 64,9 milhões. Não são números de arrasar quarteirão, mas animaram o mercado – alta de 15,82%. Em grande parte pelo fato de as ações estarem em queda livre há um bom tempo. Mesmo com a subida espetacular de hoje, a perda em 12 meses ainda é de 48%.    

Bom final de semana!

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Maiores altas

Braskem (BRKM5): 25,39%
Petz (PETZ3): 15,82%
Soma (SOMA3): 11,47%
Alpargatas (ALPA4): 11,33%
Renner (LREN3): 9,96%

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Maiores baixas

Assaí (ASAI3): -8,54%
Embraer (EMBR3): -2,60%
Cemig (CMIG4): -2,38%
Carrefour (CRFB3): -2%
Tim (TIMS3): -1,57%

Ibovespa: 2,91%, a 105.148 pontos. Na semana, 0,69%.


Em NY:

S&P 500: 1,85%, a 4.136 pontos.
Nasdaq: 2,25%, a 12.235 pontos.
Dow Jones: 1,65%, a 33.674 pontos.

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Dólar: -0,99%, a R$ 4,94. Na semana, -0,88%.


Petróleo

Brent: 3,86%, a US$ 75,30. Na semana, -5,06%.
WTI: 4,05%, a US$ 71,34. Na semana, -7,09%.


Minério de ferro: 

-0,69%, a US$ 98,75 a tonelada na bolsa de Cingapura

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