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O que Buffett viu no Nubank para investir US$ 500 milhões na fintech

Nubank já tem clientes e oferta de produtos como um bancão, mas a rentabilidade do negócio é um segredo bem guardado.

Por Tássia Kastner
Atualizado em 18 out 2024, 09h32 - Publicado em 8 jun 2021, 17h41
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 (Nubank/Divulgação)
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O Nubank anunciou um aporte de US$ 500 milhões feito pela Berkshire Hathaway, a empresa de investimentos de Warren Buffett. E aproveitou para bater bumbo, com toda a razão. O megainvestidor é conhecido pela diligência quando coloca uma nova empresa em seu portfólio.

A rodada de investimentos na fintech teve outros US$ 250 milhões – com dinheiro de fundos como o “Buffett brasileiro”, o fundo Verde de Luis Stuhlberger. A captação elevou o valor de mercado do Nubank para US$ 30 bilhões, disse o The Wall Street Journal, o primeiro veículo a noticiar o acordo. Isso é mais que os US$ 22 bilhões da XP e pau a pau com o BTG (que está prestes a emitir mais ações no mercado).

A fintech surgiu há oito anos. No começo, era só o cartão de crédito roxinho, você sabe. Foi um crescimento viral: o poder do Nubank veio da combinação de um marketing quase que de guerrilha com um serviço de atendimento ao consumidor decente. E funcionou, claro. O trauma de taxas escorchantes e serviço soviético dos bancões persistirá por gerações.

Esse diferencial, que parece banal, levou o Nubank a alcançar uma “escala-bancão” de número de clientes: 40 milhões deles – o Santander, o menor do top 5 brasileiro, tem perto de 50 milhões. Entre os digitais concorrentes, o Inter é o maior após ter alcançado a marca de 10 milhões.

Outra coisa começa a colocar o Nubank na “escala-bancão”: a quantidade de serviços oferecidos. Depois do cartão, vieram a conta digital para pessoas e empresas, cartão de débito, crédito pessoal, seguro de vida e investimentos – a compra da corretora Easynvest, anunciada no segundo semestre do ano passado, foi efetivada há poucos dias e turbinou esse braço da fintech. Faltam algumas vacas leiteiras, pelas quais todas as instituições financeiras se estapeiam: crédito imobiliário e consignado, entre elas. Só que isso é coisa de banco de verdade e exige muito, mas muito dinheiro.

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Tem uma coisa engraçada nessa história. Desde que o Nubank era só uma casquinha de ferida para os bancões, com o cartão sem anuidade, executivos de grandes bancos diziam que a ambição da fintech era vender de tudo, como eles faziam. Claro, é dessa venda cruzada (quase casada) que vem a rentabilidade polpuda do sistema financeiro.

De fato, esse é o caminho – ainda assim, com custos menores.

Então, o que diferencia o Nubank dos bancões hoje é o mistério. Não se sabe quão rentável ele é a que distância dos lucros bilionários de Itaú e companhia ele realmente está – longa, supõe-se. Segundo dados do Banco Central, a startup lucrou R$ 6,8 milhões no primeiro trimestre, mas o lance é que muito do dinheiro que entra é usado para financiar o crescimento – além da operação brasileira, o Nubank lançou o cartão roxinho no México e na Colômbia. Já os bancões, você sabe, são grandes pagadores de dividendos a seus acionistas.

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David Vélez, o fundador e CEO do Nubank, concedeu entrevista à coluna Pipeline, do Valor Econômico, em que falou mais sobre o interesse da Berkshire Hathaway. Como faz há oito anos, não abriu dados muito concretos sobre os resultados da empresa, uma prerrogativa de empresas ainda sem ações em bolsa. Listou, porém, alguns pontos que teriam seduzido Warren Buffett.

O principal deles, na percepção de Vélez: o sucesso com a venda de 300 mil apólices de seguro de vida em cerca de três meses. É impressionante mesmo, especialmente porque não tem alguém oferecendo o seguro – mesmo com a figura do corretor, as seguradoras ainda cortam um dobrado nesse mercado.

O mago de Omaha é um entusiasta de empresas do setor financeiro e de seguros, cerca de 30% do portfólio da Berkshire está investido nesse segmento. Também é conhecido por estudar a fundo os negócios em que entra e foge daquilo que não entende. Levou anos até colocar ações da Apple em sua carteira, por sinal.

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O Nubank não informou qual a participação que a Berkshire levou ao desembolsar os US$ 500 milhões, mas diz que os sócios originais mantêm o controle do negócio. Já foram 7 rodadas de captação de recursos com investidores (no mundo das startups, isso se conta em letras. Eles estão na G).

Depois desse aporte, Vélez disse que não precisará de mais dinheiro por anos. Tem caixa para financiar sua expansão local, internacional e ainda pagar os salários bombados dos novos executivos. Há meses o Nubank começou a contratar executivos de peso para o chamado C-Level (os cargos de vice-presidente que acompanham o CEO). Eles listaram, em nota à imprensa, as contratações de executivos com passagens por Amazon, Apple, Nike, Uber, Twitter e Google, por exemplo.

Ainda assim, os planos de estreia na bolsa estão próximos, ainda que o executivo não tenha cravado uma data. Em janeiro, a fintech teriam dito que esse era um plano para coisa de “um ano”. Vélez afirmou, também ao Valor, que seria um jeito de abrir uma porta de saída a investidores e também de mostrar ao mercado aquilo que só Buffett (e ok, outros investidores) conhece. É normal que fundos, após anos financiando a expansão de uma startup, queiram embolsar uma parte dos lucros.

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Por sinal, esse caminho dos fundos não costuma ser a estratégia de Buffett, que curte casamentos de longuíssimo prazo. Outra coisa que não é tão comum é a compra de participações de empresas de capital fechado em que ele não vá ter controle. Por isso, o anúncio da associação Nubank + Buffett tem contornos apoteóticos.

Por que exatamente o megainvestidor decidiu apostar no Nubank provavelmente só saberemos no próximo encontro anual da Berkshire Hathaway, o Lollapalooza do mercado financeiro.

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