O dia em que o Ibovespa subiu (quase) sozinho
Bolsa brasileira avançou 1,33%. S&P 500 correu atrás do prejuízo no finalzinho do pregão, e fechou quase estável. Europa e Ásia caíram.
O Ibovespa viveu uma sexta-feira de exceção. É que a bolsa brasileira foi uma das únicas na categoria de elite (e na série B do mercado financeiro) a subir. Enquanto o mundo mergulhava em pessimismo, o principal índice brasileiro galgava uma alta de 1,33% para o maior patamar de fechamento em um mês: 106.928 pontos.
O empurrão veio da Petrobras. Pela manhã, a estatal informou ter batido a meta de produção de petróleo em 2021, fechando em 2,77 milhões de barris de óleo equivalente (boed) por dia. A expectativa era de extrair 2,72 milhões. E o lance é que esse petróleo vendo sendo vendido a preço de ouro – como você pode conferir toda vez que passa por um posto de combustíveis.
Nesta sexta, por sinal, o petróleo subiu ainda mais. O barril do tipo brent, a referência internacional da commodity e que serve de base para a Petrobras, saltou 1,88%, a US$ 86 por barril. O patamar está em linha com as máximas registradas em outubro do ano passado.
Nisso, a expectativa é que a estatal continue a ganhar dinheiro como nunca e a pagar dividendos generosos a investidores. A Economatica estima que o dividend yield da Petrobras ficará em 19,87% neste ano, mais que o dobro da Selic atual. Resultado: as ações subiram 4,06%, a R$ 31,05.
Nessa surra de notícias positivas, investidores se deram ao luxo de ignorar a redução do preço-alvo das ações fixado pelo Bank of America. O banco americano disse estimar que a estatal terminará o ano em R$ 40,50, abaixo dos R$ 43,50 estimados anteriormente. A revisão foi atribuída ao maior risco trazido pelas eleições – e a desaceleração natural do programa de venda de ativos durante 2022. O banco também teme questionamentos à política de preços da companhia durante as eleições – não que isso seja surpresa, já que até o presidente Bolsonaro critica a alta dos combustíveis e os lucros superlativos da companhia registrados no ano passado.
O mercado financeiro também viu com bons olhos o resultado das vendas do comércio de novembro, que cresceram 0,6%, enquanto economistas esperavam estagnação. Quem ajudou a tirar o setor da lama foram as promoções de comida na Black Friday, o que mostra que o setor não está tão pujante quanto desejado.
Isso criou, inclusive, uma espécie de distorção nas ações. Empresas ligadas a vestuário, como Renner e Alpargatas, ficaram entre as maiores baixas do dia. Grandes varejistas, tipo Magazine Luiza, Americanas e Lojas Americanas, subiram.
Só que o grande destaque de alta foi o Banco Inter. Desde o pico, em julho do ano passado, BIDI11 sofreu uma queda vertiginosa de 72%. Foi um tombo tão feio que um fundo, o carioca Ponta Sul, teria colocado mais um lote de ações hoje à venda, em uma estratégia chamada de stop loss, nada mais que estancar a sangria que ter Inter na carteira vinha causando. A venda em leilão na bolsa movimentou R$ 700 milhões, a R$ 23,51, segundo o Broadcast. Com a operação, o fundo teria reduzido sua participação a 5% no banco digital.
No fim do dia, os papéis subiram 7,92%, a R$ 23,68, contrariando um pouco a lógica. Se alguém se desfaz de ações com tanta pressa, a tendência é que o mercado caia. Mas hoje investidores decidiram desafiá-la. Segundo a Nord Research, os papéis caíram de uma maneira muito abrupta e estão baratos em comparação com as perspectivas para a companhia, que vem entregando os resultados esperados.
Lá fora
Enquanto aqui os dados surpreenderam para cima, lá nos EUA foi o contrário. As vendas no varejo americano caíram 1,9% em dezembro, enquanto economistas esperavam uma baixa de modestos 0,1%.
Além disso, os bancos JP Morgan e Citi abriram a temporada de balanços nos EUA com números aquém do esperado. Agora, investidores começam a avaliar se a inflação elevada não começou a afetar a economia americana.
O dia foi de tanto pessimismo, que na Europa a queda foi disseminada – o índice europeu EuroStoxx50 tombou 1%. Na Ásia, todo mundo foi para o negativo.
E essa parecia ser a sina de Nova York para esta sexta. Os três principais índices (S&P 500, Dow Jones e Nasdaq) passaram boa parte do dia no negativo. O Nasdaq começou a reagir no meio da tarde e conseguiu uma alta sólida, de 0,59%. Só que a reação mal apaga as perdas do ano, que superam os 5%. O S&P 500 virou na última volta do relógio, mas só para ficar ali perto do zero a zero (+0,08%), enquanto o Dow Jones continuou no negativo (-0,56%).
Não é sempre que acontece, mas hoje a Faria Lima tem mais motivos para sextar que a turma lá de Wall Street. Até segunda.
Maiores altas
Inter (BIDI11) 7,92%
BR Malls (BRML3) 7,01%
Banco Pan (BPAN4) 6,13%
Weg (WEGE3) 6,04%
B3 (B3SA3) 5,44%
Maiores baixas
Locaweb (LWSA3) -4,11%
Positivo (POSI3) -3,87%
Alpargatas (ALPA4) -3,31%
Lojas Renner (LREN3) -3,19%
CVC (CVCB3) -2,01%
Ibovespa: 1,33%, a 106.928 pontos.
Nova York
Dow Jones: -0,56%, a 35.911 pontos
S&P 500: 0,08%, a 4.663 pontos
Nasdaq: 0,59%, a 14.894 pontos
Dólar: -0,29%, a R$ 5,5132
Petróleo
Brent: 1,88%, a US$ 86,06
WTI: 2,07%, a US$ 83,82
Minério de ferro: -1,43%, a US$ 128 a tonelada no porto de Qingdao, na China