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“O de cima sobe, e o de baixo desce”

Essa história todo mundo já conhece, e foi ela que regeu os mercados hoje: recordes de alta lá fora, e baixa de 0,78% no Ibovespa, com o manifesto da Fiesp e da Febraban criando uma rusga entre Bolsonaro e os donos do PIB.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 30 ago 2021, 17h34 - Publicado em 30 ago 2021, 17h29

O S&P 500 já subiu 22% desde o início do ano, contra 1% do Ibovespa. E hoje rolou mais um capítulo desse distanciamento: 0,43% para o S&P, que renova seu recorde histórico, contra – 0,78% para o Ibov.   

Lá fora, o mercado ainda comemora o discurso de Jerome Powell da última sexta, no qual ele se comprometeu em pegar leve com a redução dos estímulos à economia americana e a manter inalterada a perder de vista a política do juro zero. 

A fala do presidente do Fed até animou a nossa bolsa na semana passada – mais estímulos nos EUA, afinal, também significa mais dinheiro na B3. Mas a onda de bom humor perdeu tração por aqui. 

Culpa, para variar, do clima político – sob tensão com a escalada autoritária do presidente da república, em rota de colisão com o STF e o Congresso. O capítulo de hoje dessa novela foi um manifesto organizado pela Fiesp em defesa do equilíbrio entre os três poderes. 

O texto foi assinado por diversas associações empresariais. Entre elas, a toda-poderosa Febraban, que reúne as instituições financeiras do país. Em resposta, a Caixa e o Banco do Brasil – bancos estatais e, portanto, sujeitos à batuta do executivo, deixaram de participar do sindicato patronal. 

O ato, em si, é pouco relevante. Mas dá uma amostra de até onde vai o poder de cizânia do bolsonarismo. 

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Por conta da polêmica, Paulo Skaf, presidente da Fiesp, adiou a publicação oficial do documento. Mas o conteúdo vazou, naturalmente. No meio da tarde, o jornal O Globo publicou na íntegra o manifesto, intitulado “A Praça é dos Três Poderes” (numa referência não muito inspirada, dada a gravidade do momento, à praça comandada por Carlos Alberto de Nóbrega no SBT). Segue um resumo do texto: 

A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República (…)

As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas.

(…) 

O momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira.

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Ou seja: nada além do óbvio. Mas, quando os donos do PIB se vêm obrigados a dizer o óbvio num abaixo assinado, é sinal de que o caldo está fervendo. E, sim, de que valores que damos como naturais correm perigo.   

A desaceleração do IGP-M

No campo estritamente econômico, o dia teve uma boa notícia. 

A formação do preço de qualquer coisa começa lá na matéria prima. Quem produz gasolina precisa comprar petróleo primeiro. A cotação do barril subiu 65% de um ano para cá. Logo, o preço do combustível na bomba foi basicamente na mesma toada: 60% nos últimos 12 meses. 

O índice oficial de inflação (IPCA) não mede a variação das matérias primas, só o preço do produto final para quem consome. Ele é só um retrato do presente. Quem realmente pode dar uma perspectiva para o futuro da inflação é outro índice, o IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas. Ele reflete, ainda que em parte, a variação dos “preços ao produtor”, o das matérias primas. E passou os últimos tempos em alta acelerada.

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Há um ano, o IGP-M já roçava os 20% em 12 meses, contra basicamente zero do IPCA. Era uma amostra clara de que havia muita pressão de alta para o índice oficial. E essa pressão seguiu firme. 

Em maio de 2021 o índice para os últimos 12 meses chegaria a 37%, após uma alta de violentos 4% só naquele mês. Em junho e julho, porém, a alta desacelerou, baixando a “média móvel” para 33%. 

E nesta manhã veio outro dado positivo: mais uma desaceleração. Em julho, a alta no mês tinha sido de 0,78%. Agosto fecha agora em 0,66%, baixando o índice em 12 meses para 31%.

Sim, ainda são valores altos. Mas o fato é que o índice vem desacelerando num ritmo maior do que o previsto pelo mercado – a aposta era de manutenção em 0,78% para agosto. E isso alivia outra área. Um IGP-M menos agressivo reduz a pressão de alta para a Selic, já que o objetivo da elevação dos juros é justamente baixar o IPCA. E um ambiente de juros menos altos é sempre melhor para o PIB. 

Na quarta (01), aliás, o IBGE divulga a variação do PIB no segundo trimestre. O mercado prevê uma alta tímida de 0,20%. Se o dado oficial vier acima disso, o humor do mercado pode melhorar, claro – a não ser que a novela política ganhe novos, e tenebros, capítulos.    

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Até terça.

MAIORES ALTAS

Americanas SA (AMER3): 2,85%

Lojas Americanas (LAME4): 2,35%

CVC (CVCB3): 1,23%

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Totvs (TOTS3): 1,06%

Ambev (ABEV3): 0,76% 

Minerva (BEEF3): 1,08%

MAIORES QUEDAS

Cyrella (CYRE3): – 4.04%

Cogna (COGN3): -3,83%

Yduqs (YDUQ3): – 3,76%

Gol (GOLL4): – 3,37%

Azul (AZUL4): – 3,14%

Ibovespa: queda de 0,78%, aos 119.739 pontos

Em Nova York

S&P 500: alta de 0,43%, aos 4.528 pontos

Nasdaq: alta de 0,90%, aos 15.266 pontos

Dow Jones: queda de 0,16%, aos 35.399 pontos

Dólar: queda de 0,12%, a R$ 5,18

Petróleo

Brent: alta de 0,74%, a US$ 72,23

WTI: alta de 0,68%, a US$ 69,21 

Minério de ferro: ​​queda de 0,56%, a US$ 156,66 a tonelada no Porto de Qingdao

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