Nothing else matters: todos os olhos voltados para a inflação dos EUA
O dado sai às 10h30. Se vier grande e gordo (tipo 7%), forçará uma alta veloz e intensa na "Selic" deles – algo capaz de deprimir o mercado global.
O clima é de final de Copa. Todos os olhos aguardam, roendo as unhas, o dado mais definidor para os rumos do mercado: a inflação americana.
A dita cuja está em 6,2% nos últimos 12 meses. Não se vê algo assim nos EUA desde 1990. Com uma diferença: há 31 anos, a “Selic” deles estava em grossos 7% – justamente para apagar a fogueira inflacionária.
Agora não. Os juros nos EUA seguem entre 0% e 0,25%. Juros baixos são ótimos para estimular a economia. E está acontecendo. Ontem, o número de pedidos de seguro desemprego (que sai toda semana) caiu ao menor nível em 52 anos. Para dar uma ideia: há apenas 18 meses, no alvorecer da pandemia, o número de pedidos bateu em 6 milhões numa única semana. Agora, foi de 184 mil – algo que não se via desde 1969.
Legal. O problema é que, de brinde, vem a inflação. Manter juros baixos demais por tempo demais equivale a jogar dinheiro na rua de helicóptero.
Para ficar num exemplo pueril: quem estava na dúvida sobre se comprava ou não casa própria, vai lá e compra (já que vai pagar juros baixíssimos no financiamento). Comprada a casa, os donos começam uma reforma. Pedreiros passam a ter mais trabalho. Com mais trabalho, passam a comprar mais carne para o churrasco do fim de semana. A produção de carne, porém, não acompanha o aumento na demanda. Com mais gente a fim de comprar, e pouco para vender, os preços sobem. Todos os preços, de todos os ítens. Inflation is coming.
Bom, chegar, ela chegou faz tempo. E as expectativas para o dado de hoje, que vai mostrar a inflação acumulada entre novembro de 2020 e novembro de 2021, não são exatamente otimistas: chegam a 7%.
Seria o maior nível em 12 meses desde 1984.
Caso o número venha mesmo grande e gordo, o Banco Central dos EUA se sentirá pressionado a aumentar os juros de forma mais veloz e intensa do que se esperava. Isso apaga o incêndio da inflação, mas também diminui a temperatura da recuperação econômica – coisa que o mercado não curte, já que fere diretamente os lucros das empresas (e o potencial de valorização das ações delas).
Os maiores interessados já prevêem uma baixa forte nos papéis. Caras como Elon Musk, Mark Zukerberg, Sergey Brin e Larry Page venderam US$ 63,5 bilhões em ações que detém de suas próprias companhias em novembro (o levantamento, do Wall Street Journal, engloba as vendas realizadas por fundadores de grandes companhias). Esse número é 50% maior na comparação com novembro de 2020.
Segue o grande motivo: o S&P 500 dobrou de valor desde o vale mais profundo da pandemia. E está léguas acima dos níveis pré-Covid. Como tudo o que sobe uma hora desce, ainda mais com um aumento forte de juros à espreita, para eles foi hora de vender: talvez para recomprar mais barato lá na frente. Este gráfico, do Yahoo Finance, desenha o cenário:
Mesmo assim, os índices futuros dos EUA abriram o dia em alta (veja abaixo). Mas a tendência real para o dia só vai vir depois das 10h30, quando sair a gloriosa inflação dos EUA. Força lá, minha filha.
E boa sexta 🙂
Futuros S&P 500: 0,26%
Futuros Nasdaq: 0,28%
Futuros Dow: 0,12%
*às 7h40
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,25%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,07%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,21%
Bolsa de Paris (CAC): -0,29%
*às 7h55
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): –0,46%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,00%
Hong Kong (Hang Seng): -1,07%
Brent: 0,30%, a US$ 74,64*
*às 7h46
9h IBGE divulga IPCA de novembro
10h30 Sai o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA
Queda livre industrial
O Brasil caiu uma posição no ranking de maiores produtores industriais do mundo, da 13ª para a 14ª, sendo ultrapassado pela Rússia. O dado é da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a entidade, a pandemia afetou a indústria em todo o mundo, mas, por aqui, o baque foi maior: queda de 4,4% na produção industrial no ano passado, contra retração de 4,1% da produção mundial. De 2009 para cá, fomos ultrapassados por Índia, México, Indonésia e Taiwan, e, agora, Rússia. Quem lidera o ranking é a China, responsável por 31,3% da produção industrial global.
Direitos trabalhistas do século 21
A União Europeia anunciou um projeto para garantir os direitos de trabalhadores de serviços de aplicativos no bloco, como Uber e Deliveroo. Se aprovada, a legislação será uma das mais avançadas para esse grupo de trabalhadores, incluindo em seu texto proteções legais como salário mínimo, benefícios e férias, por exemplo. Serviços de aplicativos vêm sendo criticados mundo afora nos últimos anos por conta das suas condições de trabalho, mas pouco foi feito para mudar isso. Agora, o projeto da UE promete ser pioneiro – mas deve avançar um longo caminho antes da aprovação total, e as empresas de serviços de entrega estarão fazendo campanha contra ela. O argumento é de que os direitos vão aumentar o custo ao empregador – e, portanto, o desemprego.
Bye-bye, Brasil
Cada vez mais empresas brasileiras decidem abrir capital em Nova York – ou planejam mudar suas ações para lá. Entenda a migração, conheça os riscos e saiba como aproveitar a tendência na reportagem de capa de dezembro da VOCÊ/SA.
A volta do táxi?
O aumento do preço da gasolina e a crise econômica tornaram aplicativos como Uber e 99 menos atrativos para motoristas. Com menos oferta de serviço, o preço sobe – e quem precisou usar o serviço recentemente sabe que achar uma corrida não é uma missão fácil. Com isso, quem diria, os táxis voltam a ser uma opção viável e mais barata. A Folha de São Paulo fez um levantamento de preços na capital paulista e descobriu que pegar um táxi está saindo mais em conta do que usar os aplicativos. Leia aqui.