Continua após publicidade

Minério de ferro desaba 8%, leva Vale junto e Ibovespa cai (de novo)

Interferência do governo chinês no mercado não tem data para acabar. E não é só em Pequim. Em Brasília, só se fala em socializar lucros da Petrobras.

Por Bruno Carbinatto, Tássia Kastner
Atualizado em 16 set 2021, 18h13 - Publicado em 16 set 2021, 18h11
--
 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
Continua após publicidade

Tem dias que dá para prever com certa segurança o humor do investidor logo de manhã. Não é bola de cristal, é só fuso horário mesmo. Enquanto os brasileiros acordavam nesta quinta-feira, os chineses terminavam suas negociações do dia e iam dormir. Foi no fim do pregão lá em Qingdao, na China, que veio o número responsável por derrubar o Ibovespa: queda de 8,09% no preço do minério de ferro, cotado a US$ 107,21 por tonelada.

A commodity é de longe a mais importante para nossa bolsa. A toda-poderosa do Ibovespa é a Vale, uma empresa cujo negócio é vender minério de ferro. Sozinha, ela corresponde a 13,6% do índice todo. E quando o preço do seu produto cai, as ações, naturalmente, também acompanham a queda.

Dito e feito: hoje, os papéis da empresa fecharam em forte queda de -4,15%. Não só ela: outras empresas dos setores de siderurgia e mineração acompanharam na sangria: CSN -6,18%, Usiminas -5,41%, Gerdau, -3,40%, Metalúrgica Gerdau, -3,03%.

É que o problema vai além de uma queda pontual (ainda que brutal. perdão pela rima). O minério de ferro vem, há meses, desabando, depois de um movimento de supervalorização. Em maio deste ano, a commodity atingiu sua máxima histórica e estava cotada a US$ 230 por tonelada, em meio a um otimismo generalizado sobre a retomada econômica no mundo (em especial na China e nos EUA, onde Biden tem um ambicioso plano de infraestrutura para sair do papel).

Desde esse pico, a commodity já desvalorizou mais de 50%. E os motivos são dois. 

O primeiro é que as previsões otimistas demais sobre a recuperação econômica começaram a ser revisadas para baixo, com dados mostrando uma certa desaceleração da China e dos EUA. 

Continua após a publicidade

Só que da China chegam notícias um tanto assombrosas. Há no mercado o temor de que a Evergrande, uma enorme incorporadora do país, quebre. Ela tem mais de US$ 300 bilhões de dívidas em bancos e instituições financeiras. Se falir mesmo, tudo isso vira calote e mesmo quem não era credor dessa empresa fica com medo de conceder novos empréstimos. O crédito seca. É algo parecido com o que aconteceu na crise de 2008, com a falência da americana Lehman Brothers, ainda que seja impossível saber de antemão o tamanho do estrago.

Sem esse dinheiro, ninguém constrói nada e nem compra carros, de modo que a economia paralisa. Nesse cenário, ninguém precisa de vergalhão para construir prédios e nem chapas de latarias. Daí dá para entender a magnitude do tombo no preço do minério.

E o segundo motivo para desvalorização é porque, bem, Pequim quis. Desde antes das suspeitas sobre a Evergrande, o governo chinês passou a interferir e limitar a produção de aço (que é feito de minério de ferro) no país. Com menos demanda, o preço da matéria-prima cai. A justificativa foi ambiental, já que a China (e o mundo todo) está tentando ser mais eco-friendly com o aquecimento global batendo na porta. Mas o Partido Comunista Chinês também quer evitar a inflação no setor industrial.

O que importa para gente é que a canetada de Xi Jinping machuca nossa bolsa. E, com a Vale puxando para baixo, seria difícil sustentar uma alta. Talvez se alguma outra commodity ajudasse – não foi o caso.

Petróleo

Continua após a publicidade

A outra matéria-prima que importa para gente também não ajudou muito nesta quinta-feira. Em grande parte do dia, o petróleo ficou no negativo, em um movimento de realização de lucros das altas de ontem. No fim, ele ainda conseguiu voltar para o positivo: o Brent, referência para nós, subiu 0,28%.

Já a Petrobras, outra peso-pesado do Ibovespa, não acompanhou a virada. Os papéis da estatal fecharam em queda de 0,87% e 0,93%, respectivamente para PETR4 e PETR3. E o motivo não é novidade.

Sendo uma empresa estatal, o risco político sempre pesa na Petro – o próprio presidente já fez declarações sobre a política de preços da companhia que deixaram o mercado com medo. Hoje, foi dia de Arthur Lira jogar gasolina no incêndio.

O presidente da Câmara disse que “não está clara qual política da Petrobras neste momento de crise energética” e que a companhia tem que “dividir a riqueza com o povo”. Na terça, o presidente da empresa, Joaquim Silva e Luna, esteve no Congresso para prestar esclarecimentos aos deputados sobre o aumento do preço do combustível, mas Lira não se convenceu. E a Faria Lima aguarda cenas dos próximos capítulos.

Clima ruim

Continua após a publicidade

O resultado foi uma queda de 1,10% no Ibovespa, a terceira seguida. Ser uma economia baseada em commodities e em meio a uma crise doméstica não ajudou – e não houve quem nos salvasse lá fora. 

O dia ruim foi também nos EUA, onde os principais índices caíram em meio ao receio com a recuperação econômica americana (veja abaixo). Os dados de vendas no varejo surpreenderam: houve uma subida de 0,7% em agosto em relação a julho, contrariando a expectativa de queda 0,8%. Mas os pedidos de seguro-desemprego aumentaram e foram para 332 mil, um pouco acima dos 322 mil esperados. Na dúvida, investidores ficaram com o lado meio vazio do copo estatístico do dia.

Natural, até, dado o medo de um contágio dessa ameaça de crise chinesa. Enquanto a Evergrande balança, Pequim acelera em suas intervenções na economia, o que afasta o mundo das ações de empresas chinesas, antes que o governo de lá avance. O resultado é que por lá as bolsas também tombaram: o índice Xangai Shenzhen caiu 1,22%, enquanto a bolsa de Hong Kong recuou 4,19%.

Veja bem, não adianta o mundo ir bem e a China ir mal, economicamente falando. A segunda maior economia do mundo funciona como um aspirador de tudo que se produz no planeta. E se eles não conseguem comprar, dá ruim para todo mundo que não tem para quem vender. Aí dá para entender porque a gente disse, lá no começo, que a queda dos mercados mundo afora hoje era mesmo uma questão de fuso-horário. Era tudo com a China.

Maiores altas

Continua após a publicidade

Cielo (CIEL3): 5,44%

Hering (HGTX3): 4,90%

Assaí (ASAI3): 3,07%

Minerva (BEEF3): 2,50%

Banco do Brasil (BBAS3): 1,62%

Continua após a publicidade

Maiores baixas

CSN (CSNA3): -6,18%

Suzano (SUZB3): -5,75%

Usiminas: (USIM5): -5,41%

Méliuz (CASH3): -4,66%

Klabin (KLBN11): -4,62%

Ibovespa: queda de 1,10%, a a 113.794 pontos

Em Nova York

S&P 500: queda de 0,15%, a 4.473 pontos

Nasdaq: alta de 0,13%, a 15.181 pontos

Dow Jones: queda de 0,18%, a 34.751 pontos

Dólar: alta de 0,53%, a R$ 5,2655

Petróleo

Brent: alta de  0,28%, a US$ 75,67

WTI: estável a US$ 72,61

Minério de ferro: queda de 8,09%, cotado a US$ 107,21 por tonelada no porto de Qingdao (China)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 6,00/mês*

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.