Marfrig, CVC e IRB surpreendem com belas altas em dia de baixa puxada pelo petróleo
Frigorífico consolida-se como a maior alta do mês, com 22%. IRB apresenta resultados animadores. Na outra ponta, Europa faz petróleo desabar 6%.
O Ibovespa tentou uma empinadinha, mas a pipa do mercado não subiu. Quem garantiu a queda foi aquela estraga-prazeres de sempre, a realidade. O índice brasileiro acompanhou as bolsas americanas, e o recado realista veio de lá. O presidente do Fed (o BC dos EUA), Jerome Powell, reiterou que “a recuperação econômica do país ainda está longe”.
Janet Yellen, o Paulo Guedes de Joe Biden, também deu sua contribuição para o balde de água fria. Deixou claro que o país precisa elevar sua receita de impostos, dada a dívida brutal que o governo dos EUA está amealhando para bancar seus auxílios emergenciais. No dicionário do mercado, a palavra “imposto” consta como sinônimo de “roubo” (se você concorda ou não, não é o caso). Resultado: uma baixa relevante por lá, que ecoou por aqui. S&P 500 em queda de -0,76%. Ibovespa, em baixa de -1,49%.
CVC
Mas enquanto alguns choram outros vendem lenço. É o caso da CVC, que, estranhamente, ficou entre as maiores altas de hoje. “Estranhamente” porque a empresa tem sede no epicentro global da Covid-19, o Brasil, claro, responsável por uma em cada quatro mortes pela doença no planeta, e cujo número de mortes se aproxima dos 300 mil. O de casos confirmados desde o início da pandemia chegou à marca dos 12 milhões na segunda-feira, colocando o Brasil em segundo lugar nesse quesito (atrás dos EUA, com 29,8 milhões, e à frente da Índia, com 11,6 milhões).
A alta da empresa de lazer e turismo, de qualquer forma, pode ser explicada pela expectativa de um ritmo de vacinação mais acelerado, com a chegada recente de novos lotes de imunizantes. O Brasil recebeu, no último domingo (21), 1,02 milhão de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca enviados pela Covax-Facility. A organização é uma aliança internacional da OMS para a distribuição de vacinas, que pretende garantir a imunização para algo entre 10 e 20% da população de cada país participante até 2021.
“O mercado sempre olha para as perspectivas futuras, e vimos ontem 500 mil pessoas sendo vacinadas no País. A expectativa é que isso acelere nos próximos dias com a chegada de vacinas”, disse Régis Chinchila, analista da corretora Terra Investimentos, à Você S/A. “O momento realmente é muito tenso, mas a sensação é que o maior volume de vacinas deve contribuir para uma retomada mais rápida da economia”.
As aéreas, porém, não seguiram na mesma toada. As ações da Azul e da Gol são casadas com as da CVC. Tendem a subir e descer junto com as da empresa de turismo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Hoje, porém, parte do trisal deu um tempo na relação. Azul (-6,87%) e Gol (-1,45%) caíram.
A Azul, aliás, já soma mais 13% de queda só entre hoje e ontem. Talvez seja um ajuste natural – a valorização da companhia em um ano ainda é de grossos 230%.
Marfrig
Aérea triste, frigorífico feliz. A Marfrig, com uma alta de 3,97%, consolidou-se hoje como a maior alta do mês no Ibovespa. Já foram 22,30% desde o início de março.
Não houve uma notícia específica para estimular a alta. O fato é que a empresa começa a entrar com mais força no radar dos investidores. E há um motivo claro: apesar de a empresa ter aumentado seu lucro em 1.400% entre 2019 e 2020 (de R$ 218 milhões para R$ 3,3 bilhões), ela ainda é uma empresa barata na bolsa.
Para saber se uma empresa está barata ou cara, você pega preço somado de todas as ações que ela tem no mercado e divide pelo lucro que ela teve nos últimos 12 meses. Essa é a razão preço sobre lucro (P/L). Quanto menor for o número que sair dessa divisão mais barata está a companhia.
Pois bem. O P/L médio de todas as empresas do Ibovespa está em 28. O da JBS, concorrente da Marfrig, está em 24. O da Marfrig, em 3,6. Exato.
Isso significa das duas uma: ou o lucro da Marfrig em 2020 foi um espetáculo que tende a não se repetir, ou há uma oportunidade de compra aí. Neste mês, pelo visto, cada vez mais gente passou a confiar na segunda hipótese.
IRB
O IRB acabou fechando como a maior alta do dia. Também seria normal se tivesse finalizado como a maior baixa, dado que a reafirma como o papel mais especulativo entre os listados no Ibovespa.
Mesmo assim, resultados animadores amparam a alta. Num relatório divulgado na manhã desta terça (23), a empresa reportou faturamento bruto de R$ 813,6 milhões em janeiro – alta de 29,9% sobre o mesmo mês de 2020. O lucro foi de R$ 17,9 milhões, contra um prejuízo de R$ 132 milhões no mesmo período de 2020.
Petróleo
A queda do barril foi assustadora: -5,93%. Seguindo a baixa, a Petrobras registrou perdas de -3,06%; a PetroRio, de -3,89%. A explicação está no anúncio de novos lockdowns na Europa.
O continente teme uma terceira onda da Covid. E tem motivos para tanto. A taxa semanal de infecções na Alemanha, por exemplo, subiu para 107 pessoas para cada 100 mil. Há três semanas, eram 60. Por essas, Angela Merkel prorrogou o lockdown no país até o dia 18 de abril.
Sim. Por lá é o governo federal que determina lockdowns. Enquanto isso, em uma certa nação do Hemisfério Sul, o presidente da república quer que todo mundo vá para a rua como se nada estivesse acontecendo. Nesse estranho país, a taxa de infecções para cada 100 mil habitantes é de 251. Durma com isso.
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MAIORES ALTAS
IRB: 5,91%
CVC: 5,56%
Marfrig: 3,98%
Notredame: 1,76%
Eletrobras: 1,68%
MAIORES BAIXAS
Azul: -6.80%
Gerdau: -4,36%
CSN: -4,29%
BRF: -4,17%
PetroRio: -3,89%
Ibovespa: -1,49%, aos 113.261 pontos
Em NY:
S&P 500: -0,76%, com 3.910 pontos
Nasdaq: -1,12%, aos 13.227 pontos
Dow Jones: 0,94%, aos 32.423 pontos.
Dólar: -0,04%, a R$ 5,51
Petróleo
Brent: -5,93%, a US$ 60,79
WTI: -6,17%, a US$ 57,76
Minério de ferro: alta de 2%, na bolsa de Dalian (China).