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Lula lança uma “carta ao mercado brasileiro”. E Musk diz ter finalmente comprado Twitter

Petista divulga texto comprometendo-se em manter a responsabilidade fiscal, mas também fala no uso de bancos públicos para promover a infraestrutura. Enquanto isso, Wall Street tem novo dia de derretimento tech.

Por Bruno Carbinatto, Alexandre Versignassi
27 out 2022, 18h14

Flashback? Dejá-vu? Ou apenas política brasileira?

Vinte anos depois da “Carta ao povo brasileiro”, o ex-presidente Lula publicou um outro documento do tipo, a “Carta para o Brasil do Amanhã”. Dessa vez, o foco do texto foi em reforçar o compromisso com a responsabilidade fiscal em um eventual governo petista – que, segundo as pesquisas, tem mais chances de sair vencedor no pleito de domingo.

No documento, o petista defende que seu governo combinará responsabilidade fiscal e social e elenca 13 pontos que sintetizam seu projeto. Em vários trechos há a clara tentativa de acalmar os mercados.

A carta diz: “É possível combinar responsabilidade fiscal, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável – e é isso que vamos fazer, seguindo as tendências das principais economias do mundo”.

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E segue: “A política fiscal responsável deve seguir regras claras e realistas, com compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação”.

Bom, o compromisso com responsabilidade fiscal em si pegou bem. Logo que a carta saiu, o Ibovespa passou por um pico, indo direto dos 114 mil, onde estava, para os 116 mil pontos. Mas em precisamente 10 minutos voltou ao patamar original. 

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Porque bastou lerem a carta para ficar claro que aquilo não era uma ode de amores à Faria Lima. Ela diz: “Vamos investir em serviços públicos e sociais, em infraestrutura econômica e em recursos naturais estratégicos. Os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo”. 

Ou seja: é o mesmo discurso do Lula do PAC, o antigo Plano de Aceleração do Crescimento. Da última vez, o que vimos foi o uso pouco responsável de recursos do BNDES para injetar dinheiro em empresas que já eram gigantes. E o foco na Petrobras, numa década que se prepara para a eletrificação dos automóveis e caminhões, também parece anacrônico – ainda que totalmente esperado.

No fim, sem alarmes e sem surpresas. E o mercado voltou ao normal. O Ibovespa, de qualquer forma, já vinha em alta durante todo o pregão, tentando se recuperar de três dias de queda. E fechou em bons 1,66%. 

Musk x Twitter

Fim da novela?

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Elon Musk deu a entender, no próprio Twitter, que finalmente comprou a rede social, após um longo vai e vem que ameaçava acabar no tribunal.

A empresa, porém, ainda não confirmou a venda oficialmente. Amanhã (28) é a data limite estabelecida pelos tribunais para o negócio ocorrer. Se tudo ocorrer como o previsto, a negociação das ações do Twitter vai ser suspensa na NYSE, a bolsa de Nova York, ainda na sexta.

A novela começou em abril, quando Musk ofereceu US$ 44 bilhões pela empresa, ou US$ 54,20 por ação, e a empresa aceitou. Já em maio o bilionário deu o primeiro sinal que iria recuar, acusando a empresa de omitir dados sobre contas falsas e bots na rede social. A briga se instaurou, e, em julho, o dono da Tesla decidiu voltar atrás de vez. A empresa do passarinho entrou na Justiça para obrigar que a transação fosse feita.

Não fosse resolvido até amanhã, o problema iria parar em um julgamento no estado de Delaware. Aparentemente, isso não será mais necessário. Ontem, Musk visitou a sede do Twitter na Califórnia; também mudou a descrição em seu perfil para “Chief Twit” (chefe do Twitter) e a localização para “Twitter HQ”. Hoje, publicou no seu perfil um texto afirmando que de fato comprou a rede.

No comunicado, o bilionário diz que o Twitter deve ser uma “praça digital do mundo, onde uma variedade de crenças pode ser debatida de forma saudável”, reforçando sua visão contrária política atual da rede, em que contas são banidas e excluídas por postarem desinformação, fake news ou discurso de ódio, por exemplo.

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A notícia de que Musk confirmou a compra da rede fez as ações subirem 0,66%, a 53,60%, valor próximo da oferta do bilionário. Foi uma exceção. O dia foi marcado por queda entre as techs, em especial a rede prima do Twitter, o Facebook.

Pesadelo tech

Antes do pregão desta quinta abrir, a amargura já dominava as ações de tecnologia. Em apenas um ano, as gigantes do setor perderam, juntas, impressionantes US$ 3 trilhões em valor de mercado, segundo um levantamento feito pela CNBC

O pregão de hoje não fez nada para ajudar. Pelo contrário: as ações das principais techs desabaram, e a sangria continua no after hours em Nova York. O Nasdaq, que concentra os papéis do ramo, teve o maior tombo, de 1,63%, enquanto o S&P 500 caiu 0,61%.

O setor de tecnologia, é claro, já vive seu inferno astral nos EUA com o Fed pisando no acelerador do aumento de juros e sem previsão para frear. Empresas de alto potencial de crescimento, é claro, são as mais prejudicadas quando a grana fica mais escassa.

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Mas não é só isso. Balanços decepcionantes vieram para injetar uma dose forte de pessimismo nos mercados quando o assunto é tech. Nessa semana, as gigantes Alphabet (dona do Google) e Microsoft amargaram o clima em Wall Street com seus números. Hoje, foi a vez da Meta (ex-Facebook) ter seu foco negativo.

E bota negativo nisso. As ações da empresa de Zuckerberg desabaram chocantes 24,56% hoje. Em um dia, a empresa perdeu um quarto de seu valor de mercado, a maior queda diária desde fevereiro. No ano, a perda é de quase US$ 700 bi. Agora, ela nem aparece no top 20 das gigantes americanas.

O principal problema foi a queda na receita (-4,5%) e as previsões de nova baixa para o próximo trimestre. Além disso, investidores não compram a ideia de que a companhia está indo no caminho certo ao apostar no metaverso e na competição com o TikTok no ramo dos vídeos curtos, posição defendida por Zuckerberg.

Se não bastasse isso, uma outra enorme dose de pessimismo veio logo após o fechamento do pregão desta quinta-feira. A Amazon divulgou seu balanço e as ações caem 16% no after hours de Nova York. O lucro da gigante de Bezos caiu 9% no trimestre.

Aparentemente, o pregão de hoje já encomendou mais um pesadelo tech para o de amanhã. A ver.

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Até amanhã.

Maiores altas

Yduqs (YDUQ3): 11,14%

IRB (IRBR3): 8,14%

Magazine Luiza (MGLU3): 7,93%

Qualicorp (QUAL3): 7,25%

Soma (SOMA3): 6,72%

Maiores baixas

Vale (VALE3): -3,56%

Bradespar (BRAP4): -3,29%

Klabin (KLBN11): -0,71%

Minerva (BEEF3): -0,67%

CSN (CSNA3): -0,53%

Ibovespa: 1,66%, aos 114.640 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,59%, aos 3.808 pontos

Nasdaq: -1,63%, aos 10.792 pontos

Dow Jones: 0,62%, aos 32.037 pontos

Dólar: –1,39%, a R$ 5,3067

Petróleo

Brent: 1,33%, a US$ 95,04

WTI: 1,33%, a US$ 89,08

Minério de ferro: – 5,48%, a US$ 88,96 por tonelada em Cingapura

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