Lula dá gás em aéreas, educação e varejo, mas derruba PETR4 e BBAS3
O primeiro pregão após as eleições foi volátil: um cabo de guerra entre as ações com mais chances e menos chances de se darem bem na nova gestão do PT. O otimismo venceu: alta de 1,31%.
Um dia após Lula conquistar seu terceiro mandato, muitos papéis se comportaram conforme o esperado para o caso de uma vitória do ex-presidente: subiram as ações que têm grande chance de se beneficiar da gestão petista, desceram as que tendem a se dar mal.
Ao longo do dia, esse cabo de guerra fez o Ibovespa flutuar violentamente: ele desabou 1,8% entre 10h e 10h15 e depois subiu 3,7% das 10h15 até 11h, atingindo a máxima do dia. Após mais algumas idas e vindas, o índice da B3 encerrou o expediente em alta de 1,31%
A Petrobras (PETR4) desabou 8,47%, já que a chance de Lula privatizar a petroleira é zero. O Banco do Brasil (BBAS3), pelo mesmo motivo, viu suas ações caírem 4,64%. Também há receio sobre se uma administração petista tornaria essas estatais menos lucrativas para os acionistas. Ambos puxaram as quedas mais bruscas do índice.
As gigantes do ensino superior privado Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) subiram 3,46% e 5,42% com a expectativa de que os programas Fies (que financia as mensalidades de cursos universitários para pessoas de baixa renda) e Prouni (que dá bolsas) ganhem um fôlego renovado – as gestões do PT foram marcadas por investimentos generosos em educação. A MRV, por sua vez, subiu 3,98%, com a esperança de que as construtoras se beneficiem da volta do Minha Casa, Minha Vida.
O grande destaque no ranking de maiores altas foram as aéreas – que, com o perdão do trocadilho manjado, decolaram: GOLL4, 8,83%, AZUL4, 8,91% – mais a operadora de pacotes turísticos CVCB3, com 9,63%. Elas subiram pelo mesmo motivo que o varejo: a expectativa de que o consumo da classe média baixa dispare na gestão de Lula. Essa foi uma promessa do candidato, ainda que sua realização dependa de variáveis que não estão sob controle do presidente – como a previsão quase unânime de uma recessão global puxada pelo Ocidente em 2023.
Apesar do tempo ruim para economia mundial, a gestora de patrimônio italiana Azimut afirmou ao Valor que o Brasil deve voltar a ser alvo de investidores estrangeiros por dois motivos: a percepção de que Bolsonaro vai ceder o poder pacificamente – uma demonstração da solidez das nossas instituições democráticas – e a queda da inflação nos últimos meses. Ajudaria mais, é claro, o tão esperado anúncio da equipe econômica de Lula.
Em uma nota final, a China revelou hoje mais alguns indicadores minguados na indústria e nos serviços, o que fez a cotação do minério desabar 4,11% na bolsa de Dalian. O ferro brasileiro alimenta o mercado imobiliário chinês e vem sofrendo com a desaceleração na economia no país mais populoso do mundo. O dado puxou a turma do metal para ligeiramente para baixo até o final do pregão – ainda que esses papéis tenham começado o dia em alta. Vale (VALE3) fechou em – 0,47%.
A desaceleração na China lembra que o crescimento do Brasil nas duas gestões originais de Lula foi abastecido por um clima de otimismo generalizado na economia mundial até a crise de 2008, que fez bem para as commodities. O Lula de hoje, na ressaca econômica da covid-19, precisa navegar um cenário adverso, marcado por inflação global e uma tensão entre Ocidente, Rússia e China que torna laços diplomáticos e comerciais mais escorregadios. Que os próximos quatro anos sejam bons para a bolsa e para o Brasil.
Maiores altas
CVC (CVCB3): 9,63%
Alpargatas (ALPA4): 9,04%
Azul (AZUL4): 8,91%
Gol (GOLL4): 8,83%
Hapvida (HAPV3): 8,48%
Maiores baixas
Petrobras PN (PETR4): – 8,47%
Petrobras ON (PETR3): – 7,04%
Banco do Brasil (BBAS3): -4,64%
JBS (JBSS3): -3,47%
Suzano (SUZB3): -3,22%
Ibovespa: 1,31%, a 116.037 pontos
Em NY:
S&P 500: -0,74%, a 3.872 pontos
Nasdaq: -1,03%, a 10.988 pontos
Dow Jones: -0,39%, a 32.734 pontos
Dólar: -2,54%, a R$ 5,16
Petróleo
Brent: -1,02%, a US$ 92,81
WTI: -1,56%, a US$ 86,53
Minério de ferro: – 4,11%, a US$ 83 a tonelada na bolsa de Dalian