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Juros americanos e crise imobiliária na China travam o Ibovespa: -0,07%

Nos EUA, rendimento dos Treasuries de 10 anos vão às máximas desde 2007, enquanto na China a incorporadora Evergrande segue dando calotes. O destaque positivo fica para WEGE3 após sua maior aquisição da história.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 25 set 2023, 18h19 - Publicado em 25 set 2023, 18h17

Tem coisas que levam algum tempo para serem absorvidas. Vale para a vida, e também para o mercado financeiro. Parece ter sido o caso com o comunicado do Fed, que veio semana passada e estabeleceu os próximos passos da política monetária americana. O banco central já deixou bem claro qual é a sua postura atual: juros altos por mais tempo nos EUA. Nada dovish.

O mercado, por sua vez, vem absorvendo a notícia aos poucos. Na bolsa, a resposta na semana passada foi um acumulado de forte baixas: -2,82% no S&P 500 e -3,35% no Nasdaq. Hoje, quem mais refletiu os ajustes foi o mercado de títulos públicos americanos, os treasuries. Os rendimentos deles foram às alturas hoje, sendo que o destaque ficou para o Treasury com vencimento de 10 anos, que chegou a 4,53%, patamar visto pela última vez em outubro de 2007, às vésperas da crise global.

O mercado de ações, por sua vez, mostrou uma certa recuperação após a sangria dos últimos dias. S&P 500 subiu 0,40%, e Nasdaq 0,45%, num dia sem grandes novidades. Investidores agora aguardam dados concretos para saber se a postura do Fed realmente se manterá firme. O mais importante é o PCE, o indicador de inflação favorito do banco central para guiar suas decisões sobre os juros no país. Em julho, esse número ficou em 3,3%, acima da meta de 2% ao ano imposta pelo Fed.

Shutdown!?

Enquanto isso, o noticiário econômico americano noticia a possibilidade real de um “shutdown” (paralisação) do governo federal americano. Isso porque as agências e órgãos federais só têm dinheiro para se sustentar até o final desta semana. É preciso de um acordo para aprovar um novo projeto orçamentário no Congresso, mas republicanos (que controlam a Câmara) e democratas (que controlam o Senado e a presidência) não estão em harmonia.

Se isso não acontecer, funcionários públicos federais serão mandados para a casa, parques serão fechados e vários serviços prestados pelo governo federal (emissão de passaporte, por exemplo) serão congelados. A divulgação de dados econômicos planejados para as próximas semanas poderá ser cancelada também, como no caso do payroll (relatório de empregos) e do CPI (índice de inflação). Isso tudo resulta, é claro, em desperdício de dinheiro público e dor de cabeça para os americanos.

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Mas, apesar disso, não seria o fim do mundo. Na era Trump, o governo entrou em shutdown duas vezes, sendo que, em uma delas, o problema durou mais de um mês. 

Mesmo assim, a Moody’s, uma das maiores agências de classificação de risco, alertou que uma nova paralisação seria ruim para a imagem do país aos olhos dos investidores. Isso porque “demonstraria os constrangimentos significativos que a intensificação da polarização política impõe à elaboração de políticas orçamentárias” e também traria à tona o enfraquecimento das instituições americanas. Vale lembrar que, em agosto, a Fitch, outra importante agência de classificação, rebaixou a nota dos EUA, citando inclusive os impactos da polarização política na condução da economia americana.

Crise imobiliária na China, de novo

Mesmo com um ensaio de recuperação nos EUA, o Ibovespa foi travado no pregão desta segunda-feira por conta das notícias do oriente. A crise imobiliária na China, um fantasma que paira sobre a segunda maior economia do mundo há anos, voltou a ter desdobramentos preocupantes.

A protagonista da vez é, de novo, a Evergrande, gigantesca incorporadora que já quase faliu dois anos atrás (relembre aqui). A empresa novamente atrasou um pagamento de US$ 547 milhões que deveria acontecer hoje. Com os calotes se acumulando, a construtora cancelou reuniões importantes com credores em cima da hora e também disse que reavaliará seu plano de reestruturação. A sensação é que a empresa está desmoronando, à beira de uma falência completa, que poderia gerar um efeito dominó caótico.

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A turbulência voltou a atingir todo o setor imobiliário chinês, que corresponde a quase um quarto do gigantesco PIB do país. A Evergrande não é a única em apuros; outra grande incorporadora em crise, ainda maior que ela, é a Country Garden, que tem forte atuação em cidades médias e pequenas na China. A empresa também está endividada e ameaça acumular calotes.

O saldo da crise é especialmente ruim para o Brasil porque a China é a maior consumidora de aço do mundo, de longe. Com a expectativa de que o segmento está à beira do colapso, cai o preço do minério de ferro, matéria prima do aço.  Hoje mesmo a commodity teve forte queda de 2,03% na bolsa chinesa de Dalian; em Cingapura, o tombo foi ainda maior: -4,01%.

E, com ele, caem também as ações do importante grupo de siderúrgicas e mineradoras do Ibovespa. O destaque aqui fica, é claro, para a gigantesca Vale, cuja participação sozinha no índice é de 13%. Hoje mesmo VALE3 caiu 2,32% de olho na turbulência chinesa, colocando o Ibov de vez no território vermelho.

Depois de andar o dia na corda bamba, o índice da bolsa brasileira fechou quase no zero a zero, emque da de 0,07%. Já o dólar fechou em alta: 0,68%, a R$ 4,9662.

WEGE3: +4,60%

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Na contramão do Ibovespa, quem se destacou foi a WEG, fabricante de equipamentos eletroeletrônicos e máquinas com forte atuação em motores elétricos e com forte atuação nos segmentos de energia eólica e solar – mercados em alta na transição energética. A empresa virou uma espécie de queridinha do mercado após acumular resultados operacionais considerados fortes em seus balanços.

Agora, a notícia que fez a ação saltar foi a de que a Weg comprou as operações de motores elétricos e geradores da Regal Rexnord, companhia americana. A transação saiu por US$ 400 milhões, a maior da história da empresa de Jaraguá do Sul, e inclui aquisição de dez fábricas em sete paíse, além de filiais comerciais em 11 países e uma equipe de 2,8 mil funcionários. 

Analistas viram o movimento com bons olhos, já que fortalece ainda mais a internacionalização da Weg, que já é uma empresa com forte atuação na gringa. O Goldman Sachs, por exemplo, considerou a aquisição como positiva, porque pode “expandir ainda mais a exposição [da Weg]  a mercados com moeda forte, diversificando seu portfólio de vendas e protegendo ainda mais a empresa da volatilidade  macroeconômica do Brasil”. Um dia ensolarado para a WEGE3.

Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

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CVC Brasil (CVCB3): 5,75%

Weg (WEGE3): 4,60%

IRB Brasil (IRBR3): 2,35%

Hapvida (HAPV3): 2,34%

Grupo Soma (SOMA3): 1,97%

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MAIORES BAIXAS

Casas Bahia (BHIA3): -13,24%

Magazine Luiza (MGLU3): -4,02%

Gol (GOLL4): -3,58%

Azul (AZUL4): -2,85%

MRV (MRVE3): -2,81%

Ibovespa: -0,07%, aos 115.924 pontos

Em Nova York

S&P 500: 0,40%, aos 4.337 pontos

Nasdaq: 0,45%, aos 13.271 pontos

Dow Jones: 0,13%, aos 34.007 pontos

Dólar:  0,68%, a R$ 4,9662

Petróleo

Brent: -0,09%, a US$ 91,88

WTI: -0,39%, a US$ 89,68 

Minério de ferro: -2,03% cotado a US$ 115,50 a tonelada na bolsa de Dalian (China).

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