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Juros altos: mais uma chance para travá-los

A diretoria do Fed passou a vislumbrar juros mais altos por mais tempo nos EUA. Isso muda os rumos da renda fixa – tanto lá fora como no Brasil. E abre uma oportunidade rara a quem deseja travar rendimentos altos para as próximas décadas.

Por Alexandre Versignassi
11 out 2023, 05h42
-
 (Getty Images/Reprodução)
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Dois fatos científicos: 

1) A Terra gira em torno do Sol.

2) O mercado financeiro gira em torno da inflação americana. 

É pelo menos o que ocorre neste momento. A Terra orbita o Sol há 4,5 bilhões de anos, e permanecerá nessa situação por mais 7 ou 8 bilhões de primaveras, quando a estrela explodir. Um intervalo curto diante da grandeza temporal do Universo – já que a última estrela só deve se apagar em 100 trilhões de anos. Mas o bastante para a escala de tempo em que vivemos, claro. 

Já o mercado financeiro orbita a inflação americana há quase dois anos. No início de 2022, ficou óbvio que as altas nos preços por lá não eram um mero soluço pós-pandemia, mas um desbalanço profundo. 

Tal como no Brasil dos anos 1980, o que havia era dinheiro demais em circulação – mais precisamente, os US$ 5 trilhões que o Fed tinha produzido para enfrentar a pandemia. De cada quatro dólares na praça, um tinha sido produzido entre 2020 e 2022. Aí não existe a quem apelar: começa a haver mais dinheiro por aí do que coisas para comprar com esse dinheiro. E os preços sobem. Com força.

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O único jeito de trazer a inflação de volta aos eixos era drenar dinheiro da economia, via juros altos. Eles diminuem a oferta de crédito. A grana deixa de circular para ficar rendendo na forma de títulos públicos que pagam bem. Com menos dólar na praça, a inflação desacelera. 

Foi o que aconteceu. O Fed pisou no acelerador dos juros, elevando-os de 0,25% (a taxa lá no começo de 2022) para 5,5% – a maior desde 2001. Deu certo. A inflação medida pelo núcleo do PCE (o índice que o Fed usa para balizar sua política de juros) caiu de 5,57%, em fevereiro de 2022, para 3,88% em agosto de 2023. Só que o banco central americano esperava mais. A ideia era que a inflação estivesse caindo mais rápido rumo à meta, de 2%.   

A resiliência da inflação mudou a cabeça dos diretores do Fed. Em setembro de 2022, eles imaginavam que os juros estariam abaixo de 4% em 2024, chegando a mais tragáveis 2,9% em 2025. 

Agora a projeção dos responsáveis pela política econômica dos EUA é bem diferente: que os juros terminem o ano que vem ainda acima de 5%. E que no ainda distante 2025 estejam a grossos (para os padrões americanos) 3,9%. Um intervalo longo demais na escala frenética do mercado financeiro. 

A divulgação dessas previsões, em meados de setembro, jogou água no chope das bolsas, e criou uma onda de euforia na renda fixa. Com a expectativa de juros altos por mais tempo, o rendimento dos títulos públicos americanos de 10 anos foi a 4,6% a.a. – patamar que não se via desde 2006. Em abril deste ano, para dar uma ideia, eles estavam a relativamente módicos 3,3%.  

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Juros futuros mais altos nos EUA pressionam os daqui. E não deu outra. O rendimento real (acima do IPCA) dos nossos títulos de inflação voltou à cercania dos 6% – patamar que não era visitado desde os primeiros meses do ano.

Mas o panorama geral é diferente agora. A inflação americana está cedendo. A brasileira também. A queda dos juros por lá pode atrasar, mas vai vir. A daqui, já começou. Títulos públicos pagando juros fora da curva num cenário assim é algo pouco usual.    

Um desses títulos é o RendA+2055, voltado para a aposentadoria. Com juros na vizinhança dos 6% ao ano, ele opera mágicas. Alguém de 30 anos que colocar R$ 95 mil ali, sob essa taxa, garante uma renda mensal de R$ 4.100 em dinheiro de hoje entre os 61 e os 80 anos de idade (total de R$ 985 mil – 936% de juro real). Uma bela aposentadoria complementar – pelo preço de um carro. 

Sobre oportunidades como essa, uma coisa é certa: elas não duram até o fim do Universo.

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