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Jerome Powell reabre a porteira dos juros nos EUA e previsões superam 5,5% ao fim de 2023

Consequência deve ser um esfriamento da economia americana. Resultado: -1,53% no S&P 500, com reações adversas sobre o petróleo (-3,35%) e Ibovespa (-0,45%).

Por Tássia Kastner, Camila Barros
7 mar 2023, 18h34

A definição de apocalipse nos filmes americanos pode ser uma bomba atômica, um tsunami e até uma nova era do gelo. Para investidores de Wall Street (e da Faria Lima também), o gatilho pode ser uma declaração de Jerome Powell.

Nesta terça, o presidente do Fed (o BC dos EUA) afirmou que os juros americanos poderão subir até um patamar mais elevado e mais rápido do que se previa, caso a inflação não dê sinais de trégua. Spoiler: a inflação não está dando sinais de trégua, não do jeito idealizado, ao menos.

Aí virou uma sequência previsível: as bolsas derreteram lá em Nova York e aqui no Brasil, o barril de petróleo afundou, o dólar ganhou força… foi o caos.

“Os dados econômicos mais recentes foram mais fortes do que o esperado, o que sugere que o nível final das taxas de juros provavelmente será mais alto do que o previsto anteriormente”, afirmou Powell.

Nível final da taxa de juros, em português, é até quanto a Selic deles vai subir antes de se estabilizar. Até agora, o mercado apostava em uma elevação de 0,25 p.p. na reunião que ocorre no dia 22 deste mês e era mais ou menos isso. Afinal, o Fed já tinha colocado o pé no freio. Depois de quatro aumentos de 0,75 p.p., eles passaram a frear o ritmo de altas: 0,50 p.p em dezembro e 0,25 p.p em fevereiro.

 A fala de Powell abriu a possibilidade de alta de 0,50 p.p. O lance é o seguinte: na reunião de dezembro (a penúltima), os dirigentes do Fed haviam sinalizado que a taxa de juros subiriam até 5% (na mediana das projeções) para que a inflação terminasse 2023 em 3,1% (ainda acima da meta). Isso significaria uma alta mirrada de 0,50% no PIB e um aumento do desemprego para 4,6%.

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Hoje a inflação medida pelo PCE (o indicador que o Fed usa) está em 5,4% e o desemprego será atualizado na sexta-feira – o dado de janeiro estava em 3,4%.

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Agora vem o pulo do gato. Para chegar em 5%, aquela taxa que estava no radar, o Fed poderia fazer apenas mais um aumento, de 0,25 p.p, já que a Selic deles está em 4,75% ao ano. Colocar mais aumentos no radar é consolidar que, para baixar a inflação, o desemprego vai subir além daquele esperado anteriormente.

Deu ruim. O double check do apocalipse, de qualquer maneira, vai ser dado nos próximos dias. Além do payroll, na sexta, os EUA divulgam o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e o Índice de Preços ao Produtor (PPI) na próxima semana. O recado, de qualquer maneira, está dado.

“Se o conjunto de dados indicar que um aperto mais rápido é justificável, nós estaremos preparados para aumentar o ritmo de alta de juros”, afirmou.

Nisso, as apostas de que os juros americanos terminarão o ano entre 5,5% e 5,75% subiram para 36,4%, segundo monitoramento da CME (a bolsa de Chicago, que negocia derivativos). Até ontem, a maior aposta era em alta até 5,5%. 

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Ter um aumento de juros maior para esfriar a economia resulta em menos consumo de tudo que é tipo de produto. E não só nos EUA, vale para o mundo todo. Se as pessoas passam a consumir menos, há menos exportações para lá. Os gringos queimam menos petróleo porque têm menos produtos para transportar, a commodity cai e pega, você sabe, na Petrobras. Vira um efeito cascata, exatamente como o que aconteceu hoje nos mercados financeiros.

Não à toa, terminamos o dia assim: -1,53% no S&P 500, -1,25% na Nasdaq e -1,72% para o Dow Jones. Já o dólar foi na direção contrária, pronto para atrair mais dinheiro ansioso pelo juro mais gordinho do Fed. O DXY, índice que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de outras moedas valorizadas, subiu 1,21%. 

No Brasil, a queda foi de 0,45%, a 104.227 pontos, muito puxado pela baixa de 3,12% na PETR4 e de -1,20% na VALE3. Das 88 ações do Ibovespa, 41 subiram, e 43 caíram.

A tormenta não termina nas próximas 24 horas. É que o pronunciamento de Powell hoje no Senado não foi a única visita que ele fará ao Capitólio nesta semana. Amanhã ele fala aos Deputados americanos, também às 12h. E aí o silêncio será feito: esse será o último compromisso público do banqueiro antes da próxima reunião do Fed. Não se trata de calmaria, mas pelo menos não tem onda atrás de onda pra balançar o barco. Até amanhã. 

 

Maiores altas

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Azul (AZUL4): 20,12%

CVC (CVCB3): 9,88%

Gol (GOLL4): 5,67%

Qualicorp (QUAL3): 4,16%

Bradesco (BBDC4): 2,33%

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Maiores baixas

Dexco (DXCO3): -6,79%

BRF (BRFS3): -4,17%

Petrobras PN (PETR4): -3,31%

Petrobras ON (PETR3): -3,03%

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PetroRio (PRIO3): -3,00%

 

Ibovespa: -0,45%, a 104.227 pontos

 

Em NY:

S&P 500: -1,53%, aos 3.986 pontos

Nasdaq: -1,25%, aos 11.530 pontos

Dow Jones: -1,72%, aos 32.856 pontos

 

Dólar:  0,44%, a R$ 5,19

 

Petróleo

Brent: -3,35%, a US$ 83,29 por barril

WTI: -3,58%, a US$ 77,58 por barril

 

Minério de ferro: 1,34%, a US$ 131,21 a tonelada na bolsa de Dalian

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