Inflação sobe e é mais alta que pico do governo Dilma, mas ainda é boa notícia para Ibovespa
Apesar do pico de 10,71%, mercado financeiro vê sinais de desaceleração do IPCA – e espera que isso poderá segurar alta da Selic.
A inflação brasileira subiu 0,95% só em novembro, o que nos leva a um acumulado de 10,74% em 12 meses. É mais alto que o pico do governo Dilma Rousseff, em 2015, quando os preços subiram 10,71%. Ainda assim, investidores decidiram procurar o lado meio cheio do copo. Foi assim que o Ibovespa avançou 1,38% nesta sexta, acumulando 2,56% de ganhos na semana.
A felicidade mora nos detalhes, não é? Pois a previsão dos economistas era de que o IPCA (o indicador oficial de inflação) tivesse subido 1,1% no mês passado, fazendo a alta de 0,95% não ser tão grande assim. Também foi uma desaceleração na comparação com outubro, quando os preços haviam avançado 1,25%.
E uma boa notícia que vale por duas foi a seguinte: houve uma redução de preços na categoria alimentos e bebidas, cortesia do segmento alimentação fora de casa. O lance é que isso significa uma arrefecimento nos preços do setor de serviços também, que tentava tirar o atraso com a reabertura da economia, mas foi freado pelo empobrecimento da população.
É uma visão pragmática da inflação, claro. Para controlá-la, é preciso tirar dinheiro de circulação, esfriando a economia e deixando as pessoas com menos dinheiro para gastar. Quem tira dinheiro da economia é o Banco Central, quando sobe a taxa de juros. E aqui está a chave da inflação de hoje ter sido positiva. É que juro alto faz com que investidores migrem dinheiro da bolsa para a renda fixa, que passa a ser mais rentável, a um risco substancialmente menor.
Quanto mais sobe o juro, mais forte é a mudança. Mas com os sinais de desaceleração da inflação, o mercado financeiro agora espera que o BC não precisará subir os juros tanto assim para trazer a inflação para a meta. É um pouco conto de fadas, já que o centro da meta é de 3,5% em 2022, com tolerância de até 5% – o mercado financeiro ainda acredita que ela terminará o próximo ano acima disso.
O IBGE, que divulga a inflação oficial do país, também deu uma sinalização positiva, ainda que sem querer. É que o órgão fez a conta de qual é a inflação máxima para dezembro capaz de garantir que o IPCA termine o ano na casa de um dígito: 0,74%. Em dezembro de 2020, ela foi de 1,35%. E há economistas, como Rafaela Vitoria, do banco Inter, que acreditam que isso é possível. O banco prevê IPCA de 9,92% no fechamento de 2021.
Para isso funcionar, seria preciso contar com uma força da gasolina, que subiu mais de 7% no mês passado e foi responsável por 0,46 p.p da inflação do mês. No ano, ela já subiu mais de 50%.
Vai baixar
Mais de uma vez nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro disse que a Petrobras estava prestes a anunciar a redução nos preços dos combustíveis. Seria um repasse da queda que o petróleo havia sofrido no mercado internacional.
Não aconteceu e aí criou-se um problema de timing. Nesta semana, o petróleo acumulou valorização de mais de 7%, ainda que se mantenha abaixo dos US$ 80 o barril. As ações da Petrobras subiram pouco mais de 1% no pregão.
Bem, a exceção do dia foi a queda. Das 92 ações do Ibovespa, 12 recuaram. E não foi só aqui que a inflação, mesmo alta, ajudou a bolsa. Nos EUA, a inflação acumulada é de 6,8%, a mais alta desde 1982. Só que essa foi exatamente a alta esperada pelo mercado financeiro.
Nisso, investidores ficaram mais que satisfeitos que a coisa não piorou mais e as bolsas voltaram a subir, e não foi pouco. O S&P 500 ganhou quase 1%, enquanto o Nasdaq subiu 0,73%. Bem, se é para sextar, que seja com otimismo e com o copo cheio – afinal, ninguém é de ferro. Até segunda.
Maiores altas
Banco Pan (BPAN4) 16,17%
Méliuz (CASH3) 16,12%
Cogna (COGN3) 9,27%
Eztec (EZTC3) 8,64%
Dexco (DXCO3) 8,26%
Maiores baixas
Weg (WEGE3) -1,73%
Natura (NTCO3) -1,39%
Azul (AZUL4) -0,84%
CSN (CSNA3) -0,70%
Gol (GOLL4) -0,62%
Ibovespa: 1,38%, a 107.758 pontos
Nova York
Dow Jones: 0,61%, a 35.972 pontos
S&P 500: 0,96%, a 4.712 pontos
Nasdaq: 0,73%, a 15.631 pontos
Dólar: 0,72%, a R$ 5,6140
Petróleo
Brent: 0,98%, a US$ 75,15
WTI: 1,03%, a US$ 71,67
Minério de ferro: -0,46%, a US$ 108,03 no porto de Qingdao, na China