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Inflação de 1% na China faz mercado temer por VALE3 e sua turma – e derruba Ibovespa

Mineradoras e siderúrgicas caíram com o temor de que a economia do tigrão asiático esteja fria demais para sustentar a demanda por minério. Enquanto isso, nos EUA, um dado preliminar de desemprego gerou um surtinho de otimismo matinal. Mas não deu: NY em queda.

Por Bruno Vaiano e Camila Barros
9 mar 2023, 18h46

Hoje, às 10h30, os coletinhos de Wall Street receberam uma notícia péssima: houve 211 mil pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos na última semana de fevereiro, um aumento de 21 mil em relação ao mesmo dado da semana anterior. Então, eles fizeram o que todo coletinho anda fazendo quando pessoas são demitidas: comemoraram. 

Não é crueldade. O negócio é que a economia americana – você já sabe – está muito aquecida. Apesar de oito altas sucessivas na taxa básica de juros do Tio Sam, os salários continuam subindo, e a taxa de desemprego está estacionada em utópicos 3,5%. 

Em curto prazo, isso é ótimo para a população, claro. Mas, com tantas vagas, muita gente vê espaço para pedir aumentos aos seus gestores. Isso significa mais gente com grana para gastar – o que dificulta a tarefa do Fed de drenar dinheiro da economia e frear a inflação. E inflação é ruim para todo mundo, em longo prazo. Esfriar a economia na marra (com o efeito coleteral das demissões) é o remédio amargo usado para combatê-la. 

Juros altos travam a bolsa e movem todo mundo para a renda fixa. Nessas circunstâncias, um único dado de emprego ruim se tornou um fio de esperança tênue para os índices americanos: fez os investidores acreditarem que outros indicadores, mais importantes, também virão em queda, o que poderia convencer o Fed a pegar mais leve na alta de juros na próxima reunião do Fomc. 

Os dados em questão são o Payroll, que chega amanhã (10) e o CPI, que chega na terça que vem (14). O Payroll (nome que significa, literalmente, folha de pagamento) é a principal pesquisa de desemprego americana. O CPI, por sua vez, é o IPCA deles. 

A esperança era tênue mesmo: não passou da hora do almoço. As bolsas americanas abriram em alta, mas logo passaram para o lado vermelho do gráfico, e fecharam em queda acentuada. No final das contas, o medo do Payroll e do CPI foi maior do que a alegria gerada por esse dado preliminar. 

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Aqui no Brasil, o Ibovespa até viu alguns ligeiros picos verdes, por volta do mesmo horário. Mas o índice da B3 acabou ficando quase o dia todo no modo Holanda: abaixo do nível do mar. E fechou em queda de 1,38% 

É que aqui houve outras forças deprimindo a Faria Lima. Se, por um lado, os investidores não gostam de inflação alta demais, eles gostam menos ainda de inflação baixa demais. E foi exatamente essa a notícia que chegou da China na abertura do pregão de quinta deles – que corresponde à noite de quarta aqui no Brasil. O “IPCA” de fevereiro no tigrão asiático veio super baixo, a 1%, contra 2,1% em janeiro. Muito aquém da bola de cristal do mercado, que falava em 1,9%. 

Isso é sinal de que, ao contrário da economia americana, a economia chinesa está gelada de tão fria. E como eles são os maiores consumidores de commodities brasileiras (do mundo) – especialmente o minério de ferro –, as empresas desse setor sofreram um baquezinho. A Vale fechou em queda de -1,31%, e suas companheiras no bloquinho do heavy metal tampouco se deram bem. 

A CSN (CSNA3) foi a campeã nas perdas do setor – 8,06% –, porque a notícia do outro lado do Pacífico se somou a um balanço ruim aqui em Pindorama: o lucro caiu 81% no último trimestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano anterior. Seu braço de extração de minério, por outro lado, está muito bem, obrigado: a empresa de ticker CMIN3 lucrou R$ 871,3 mi no quarto trimestre, uma alta de 23,8% na base anual. Mas a mineradora não segurou o tranco chinês e caiu 4,92% – menos que a siderúrgica, mas ainda uma queda considerável. 

Você pode estar pensando que, com a economia chinesa indo devagar e os papéis de mineradoras e siderúrgicas caindo por aqui, o minério de ferro naturalmente estaria em queda na Ásia. Ledo engano: na verdade, ele subiu 0,42% em Cingapura e 0,60% na bolsa de Dalian. Uma alta ligeira, que não tocou o coração da Faria Lima.  

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Outro assunto do dia, aqui no Brasil, foram os juros futuros, que finalmente tiveram motivo para cair em uníssono. O nome do motivo é Simone Tebet. Ela falou o que o mercado queria ouvir: que o novo arcabouço fiscal terá o objetivo de zerar o déficit fiscal e estabilizar a relação dívida/PIB. Mas também falou o que os apoiadores de Lula querem ouvir: que o novo conjunto de regras será mais flexível em relação a investimentos do que o engessado teto de gastos de Temer. Além do discurso, que agradou os dois lados do espectro político, a ministra do Planejamento disse acreditar que o novo pacote de normas pode ser divulgado ainda neste mês.

Os juros futuros costumam subir quando os faria limers estão incertos com os rumos da política fiscal ou monetária. A disputa de Lula com o Banco Central em torno da meta de inflação, ao longo de fevereiro, foi um bom exemplo disso. Por outro lado, saber que o substituto do teto de gastos tem data para sair – e que ele considera preocupações ortodoxas em vez de abraçar com tudo a pauta desenvolvimentista – dá segurança em relação ao futuro. E num futuro mais seguro, os juros são mais baixos. 

Passadas as notícias grandes, podemos nos concentrar em um peixe pequeno da bolsa: a Hapvida, que, veja só, está em queda vertiginosa desde 1º de março, quando seu balanço mostrou um prejuízo de R$ 316,7 milhões no quarto trimestre de 2022 – e uma dívida que cresceu de R$ 6,4 bilhões para 7 bilhões. O desabamento acumulado até ontem era de 40,3%. Hoje, a operadora de planos de saúde anunciou que está considerando alguma medida de captação de dinheiro – como a emissão de novas ações, um follow on – para cobrir esse buraco. O mercado “adorou”: dá-lhe mais uma queda de -33,22%. 

Enquanto isso, as companhias aéreas continuam fazendo juz aos seus serviços e decolando na bolsa: GOLL4 e AZUL4 subiram 9,15% e 12,10% hoje e 23,94% e 68,64% desde que as altas começaram nesta segunda (6), após a Azul fechar um acordo de aluguel de aeronaves considerado positivo para a saúde financeira da empresa. Será que esse foguete tem ré?

Boa noite, até amanhã! 

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Maiores altas

Azul (AZUL4): 12,10%
CVC (CVCB3): 9,74%
Gol (GOLL4): 9,15%
Dexco (DXCO3): 8,80%
Locaweb (LWSA3): 7,52%


Maiores baixas

Hapvida (HAPV3): -33,22%
CSN (CSNA3): -8,06%
Petz (PETZ3): -7,09%
3R Petroleum (RRRP3): -6,09%
Metalúrgica Gerdau (GOAU4): -4,92%

Ibovespa: -1,38%, a 105.071 pontos

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Em NY:

S&P 500: -1,84%, a 3.918 pontos
Nasdaq: -2,05%, a 11.338 pontos
Dow Jones: -1,65%, a 32.256 pontos

Dólar: 0,02%, a R$ 5,14


Petróleo

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Brent: -1,29%, a US$ 81,59
WTI: -1,23%, a US$ 75,72

Minério de ferro: 0,60%, a US$ 131,70 a tonelada na bolsa de Dalian

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