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Ibovespa tem dia salvo por Brasília, mas foi por pouco que não caiu mais de 3%

Por dia salvo, leia-se queda de apenas 0,32%. Com novo tombo da Petrobras, ficou difícil colocar a bolsa no azul.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
3 mar 2021, 20h07

Arthur Lira salvou o dia. O presidente da Câmara anunciou que o Bolsa Família ficará dentro do teto de gastos e tirou o Ibovespa da tragédia de queda de mais de 3%. A bolsa não fechou no positivo, mas deu uma boa recuperada. Para quem bateu a mínima de 107.465 pontos, terminar o dia em 111.183 mil pontos, com leve queda de 0,32%, é lucro — ainda mais depois do segundo dia de massacre seguido de alívio. Também foi a salvação do dólar, que chegou a bater a máxima de R$ 5,77 no dia, para fechar praticamente estável a R$ 5,66.

Não tinha como fazer milagre: durante o pregão, todas as 81 ações do Ibovespa estavam no negativo. A declaração de Lira ajudou a salvar 38 delas. Só que ficou faltando a Petrobras, que responde por 10% do índice. 

Na terça-feira (2), após o pregão, quatro dos 11 membros do conselho da companhia anunciaram que estavam deixando o cargo, ainda na esteira da decisão de Jair Bolsonaro de mudar o comando da Petrobras. Para o lugar de Roberto Castello Branco, o presidente indicou o general Joaquim Silva e Luna — o  nome ainda precisa ser aprovado na assembleia geral dos acionistas.

Essa debandada é mais um sinal para o mercado financeiro de que a intervenção na estatal deve continuar e pode ter impacto direto sobre os lucros da companhia. Os papéis da estatal caíram 3,64%, entre as maiores baixas do dia (veja abaixo). 

A Petro é só um dos sintomas de que a agenda econômica liberal não vai nada bem. Outro está em Brasília. A Câmara passou o dia discutindo sobre a PEC Emergencial, que prevê cortes de gastos e é considerada crucial para a liberação de uma nova rodada do auxílio às famílias que perderam renda por causa da Covid.

A minuta do projeto ainda rodava pelos corredores da Câmara no final do pregão. Segundo o Estadão, o texto prevê valores entre R$ 150 a R$ 375  por mês para 45 milhões de brasileiros, em quatro parcelas. O custo extra com a nova rodada do auxílio deve ficar entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões. O senador Márcio Bittar propôs um limite de R$ 44 bilhões, mas a intenção do governo é tentar reduzir o teto para R$ 40 bi.

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Beleza. Mas a pergunta é a mesma há meses: de onde vai sair o dinheiro? Desde ontem e até o final da tarde, discutia-se a ideia de tirar o Bolsa Família do tal do teto de gastos (o que impede o aumento de despesas). Isso permitiria colocar outra despesa no lugar, como o auxílio emergencial, mas não passaria de uma contabilidade criativa. Por isso, a bolsa chegou a cair mais de 3% no pior momento do dia. Tirar o Bolsa Família das contas, não significa que o programa não vai custar aos cofres públicos, já que o gasto continua existindo. 

Lira afirmou que essa coisa de driblar o teto não ia rolar, o mercado respirou aliviado. Era, afinal, uma sinalização de compromisso com o equilíbrio das contas públicas. Mas não é que o problema esteja resolvido. Ninguém sabe ainda o que vai ser cortado para a nova rodada de auxílio. 

E esse pagamento é cada vez mais urgente. Nas últimas 24 horas, morreram 1.910 pessoas de covid no país, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Não precisamos dizer que é recorde — você sabe.

A situação é tão grave que mais governadores determinaram medidas que restringem a circulação de pessoas, em mais uma tentativa de controlar o avanço da Covid e garantir que os doentes possam ser atendidos nos hospitais. O estado de São Paulo, por exemplo, ficará na fase vermelha por 14 dias a partir de sábado (6); além disso, o toque de restrição foi ampliado entre 20h e 5h. Já o governo do Pará decretou toque de recolher na capital Belém das 22h até as 5h. 

Claro que pessoas e empresas precisam de uma contrapartida, ou então a economia colapsa. O auxílio foi um dos responsáveis por fazer a economia brasileira afundar “apenas” 4,1% no ano passado, segundo o dado oficial do IBGE. Essa é a menor taxa da série histórica, iniciada em 1996. Apesar do massacre, no quarto trimestre o PIB dava sinais de recuperação, com alta de 3,2%. O agravamento da pandemia neste começo de ano já desacelerava a economia, algo que tende a piorar ainda mais se o socorro financeiro não for aprovado. 

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Nos EUA

Lá fora, o dia também não foi dos melhores. Hoje saiu o resultado da pesquisa de emprego e ele foi um tanto decepcionante: foram criados 117 mil postos de trabalho em fevereiro – um número bem abaixo da expectativa de 225 mil. Isso, por si só, já deixou desanimados os investidores que esperavam por uma rápida recuperação econômica após o início das vacinações. 

Além disso, a volatilidade nos yields para os títulos de longo prazo, com vencimento em 10 anos, continua a assombrar os investidores da bolsa. Como já explicamos aqui, quando o governo americano aumenta os juros dos títulos de longo prazo, é porque precisa de dinheiro para rolar suas dívidas. E quando isso acontece, os investidores tendem a tirar dinheiro da bolsa para colocar em títulos públicos, que é uma aplicação mais segura do que ações. 

No final, Wall Street fechou no negativo: Nasdaq caiu 2,70% (aos 12.997 pontos) e S&P 500 teve queda de 1,30% (aos 3.819 pontos). 

Maiores altas

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Petro Rio: 4,61%

Magazine Luiza: 3,50%

Bradesco: 2,02%

Sabesp: 1,90%

Qualicorp: 1,86%

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Maiores baixas

Grupo Pão de Açúcar: -5,17%

CVC: -4,53%

Petrobras ON: -4,29%

Cyrela: -4,09%

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Petrobras PN: -3,64%

Dólar: -0,03%, cotado a R$ 5,66

Petróleo

Brent (referência internacional): +2,19%, cotado a US$ 64,07 o barril

WTI (referência nos EUA): +2,56%, cotado a US$ 61,28o barril

Minério de ferro: +0,48%, cotado a US$ 176,40 por tonelada em Qingdao (China)

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