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Com cabo de guerra entre otimistas e pessimistas, Ibovespa fica em 0,08%

De um lado, bom humor com o PIB. Do outro, exterior cabisbaixo. E destaque para PCAR3, que dispara com novos rumores sobre a saída do Casino do comando da empresa.

Por Tássia Kastner e Sofia Kercher
Atualizado em 5 dez 2023, 20h41 - Publicado em 5 dez 2023, 19h02

A bolsa brasileira viveu um dia de indecisão: passou o dia todo alternando entre quedas e ganhos. Puxava para o positivo a alta do PIB no terceiro trimestre, acima do que esperavam os economistas. Para o negativo, o dia azedo em Nova York, complementado pela nova baixa do petróleo e do minério.

O resultado foi uma leeeeeeve alta de 0,08% no Ibov, a 126.903 pontos.  O dólar fechou em baixa de 0,47%, a R$ 4,92.

Vamos, então, do começo. Por aqui, o IBGE divulgou no início da manhã os dados do PIB do 3º trimestre de 2023. O indicador registrou alta de 0,1% em comparação com os três meses anteriores, enquanto a expectativa do mercado apontava para uma queda de 0,2%. Esse é o terceiro trimestre consecutivo de expansão, depois de queda de 0,1% nos últimos três meses do ano passado.

Faz tempo que o PIB tem sido um exercício de humildade aos economistas. Eles projetam queda, e a economia teima em continuar a subir. 

No trimestre passado, o que impulsionou a atividade foi a aceleração do consumo das famílias, isso enquanto os investimentos recuaram. A surpresa do lado das famílias serviu de combustível para as varejistas da bolsa, que lideraram as altas do dia: PCAR3 (sem relação com o PIB, explicaremos mais adiante), CVCB3 (7,81%), MGLU3 (7%), e BHIA (5,7%).

Ao lado das varejistas, a alta dos bancos também ajudou a manter o Ibov no azul, isso enquanto Vale e Petrobras, as “donas” da bolsa brasileira, fecharam em baixa.

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A mineradora fechou o dia em queda de 0,92%, isso após o “Vale Day”. Grandes empresas de capital aberto fazem reuniões anuais com investidores para apresentar suas projeções e metas para os anos seguintes – é tipo a São Paulo Fashion Week da companhia. 

Pois bem, nesta terça a companhia anunciou que pretende produzir entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas de minério de ferro em 2024, o que é virtualmente manter a produção estável (ou um cadinho menor) que em 2023, quando o número projetado era de 315 mi de toneladas (isso faltando sair o balanço do 4ºTRI para confirmar o resultado). O Goldman Sachs escreveu que a companhia apresentou previsões de produção e custos piores que o esperado pelo mercado – e que as despesas para encerrar as disputas em relação à Samarco ficaram acima do estimado. 

A análise do Goldman é uma das explicações para a baixa da Vale. A queda de 1,31% no minério de ferro, que fechou cotado a US$ 127,03 na bolsa de Dalian, é outra.

O minério – e, portanto, a Vale – depende da China, e nesta terça a agência Moody’s cortou a perspectiva de crédito da chinesa, justamente na esteira da crise do setor imobiliário – um dos grandes consumidores de aço.

Não foi só o minério que teve um dia ruim. O petróleo, a outra commodity mestra do Ibovespa, também cedeu.

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Desde que o calendário virou para dezembro, o Brent ainda não subiu. Uma parte dessa queda está ligada à disputa na Opep+, que não consegue chegar a um acordo para cortar a produção do óleo e manter os preços estáveis.

Mas, claro, eles só precisam reduzir a oferta porque há sinais de que o mundo precisará de menos combustível. E isso não apenas na China em desaceleração.

Nesta terça, os EUA anunciaram que haviam 8,7 milhões de postos de trabalho abertos em outubro (esse é o relatório Jolts). Legal, só que em setembro eram 9,3 milhões – isso depois de uma correção, já que, quando o dado foi lançado, eram 9,5 mi de vagas não preenchidas. A desaceleração também não estava no radar dos economistas, que previam 9,3 mi de vagas. 

Teoricamente, essa é uma boa notícia para o mercado financeiro, ansioso por mais e mais indícios de que os juros americanos 1) não vão mais subir e 2) podem começar a cair já no primeiro trimestre de 2024.

Além disso, o indicador também é um spoiler do que pode vir com o payroll, que será divulgado na manhã de sexta-feira (8). O relatório oficial de emprego é uma das peças-chaves, depois da inflação, para o Fed definir o futuro da política monetária americana. 

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No dia de hoje, porém, investidores não conseguiram se agarrar ao Jolts – ou uma parte deles. O S&P 500 escorregou leves 0,06% e o Dow Jones recuou 0,22%. Já o Nasdaq subiu 0,31%. 

Antes de fechar o dia, vamos falar de mais dois destaques do Ibovespa  – um bom, outro não.

PCAR3: +12,32%

Não há nada como uma fofoca para bombar uma ação. Nesta terça, os papéis do Grupo Pão de Açúcar dispararam mais de 12% após uma notícia divulgada pelo Broadcast e reproduzida pelo serviço Bom Dia Mercado. O que circulou é que os executivos do PCAR estão engajados na proposta para que a empresa deixe de ter um dono. 

Isso é importante porque o “dono” da companhia é o grupo francês Casino, com 40,9% das ações – 59% já está pulverizado na mão do mercado. Em junho, os franceses anunciaram uma reestruturação dos seus negócios, o que incluía a possibilidade de vender a operação do grupo Éxito, na Colômbia, e o Pão de Açúcar, no Brasil. O Éxito já trocou de mãos.

A proposta de converter o GPA (ou seja, do Casino) em uma corporação – uma empresa sem acionista controlador, como Renner e Vale, por exemplo – já havia circulado em outubro. A fofoca novidade do dia é que papéis sobre o tema estão na mesa dos executivos. Por sinal, o Broadcast diz que a pulverização poderia ser feita vendendo a fatia do Casino na GPA para grandes gestoras, como a Advent e a Pátria. 

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Por ora, a notícia foi bem recebida. A ver como o tema se desenrola.

Saga Braskem

Antes tarde do que mais tarde, nesta terça a B3 anunciou a retirada da Braskem do índice de sustentabilidade da bolsa, o ISE. Pelo menos desde 2018 a companhia já sofria autuações por problemas ligados às minas em Manaus.

Por sinal, também hoje o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas pediu à Braskem uma indenização de R$ 72 milhões por danos ambientais e omissão de informações (que explicamos melhor aqui). O órgão afirmou que, desde 2018, a empresa já foi autuada 20 vezes. São pelo menos 15 mil famílias afetadas pelo afundamento do solo. As ações? -2,57%.

Pois bem, nessa corda bamba, uma altinha de 0,08% do Ibov é mesmo para ser comemorada. Até amanhã.

MAIORES ALTAS 

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Grupo Pão de Açúcar (PCAR3): 12,32%

CVC (CVCB3): 7,81%

Magalu (MGLU3): 7%

Casas Bahia (BHIA3): 5,77%

Cyrela (CYRE3): 3,87%

MAIORES BAIXAS

Raízen (RAIZ4): -5,46%

Vibra (VBBR3): -5,26%

BRF (BRFS3): -4,10%

Marfrig (MRFG3): -4,03%

São Martinho (SMTO3): -3,36%

Ibovespa: 0,08%, aos 126.903 pontos

Em Nova York

S&P 500: -0,06%, aos 4.567 pontos 

Nasdaq: 0,31%, aos 14.229 pontos

Dow Jones: -0,22%, aos 36.125 pontos

Dólar: -0,47%, a R$ R$ 4,9255

Petróleo 

Brent: -1,06%, a US$ 77,20

WTI: -0,98%, a US$ 72,32

Minério de ferro: -1,31%, cotado a US$ 127,03 por tonelada na bolsa de Dalian (China).

 

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