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Ibovespa registra quinta alta seguida. Dólar, a quinta queda: R$ 4,91

Ata do Banco Central canta Selic a 12,75% para a próxima reunião, mas queda do dólar pode aliviar o aperto monetário.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 22 mar 2022, 18h30 - Publicado em 22 mar 2022, 18h21

Com os 0,96% de alta hoje, o Ibovespa já soma 7,62% de alta nos últimos cinco pregões, e está de volta à casa dos 117 mil pontos – um patamar que o índice não visitava desde setembro de 2021.

E o dólar contabiliza cinco dias seguidos de queda. Desde a última quarta-feira, a desvalorização é de 4%. Ontem, a moeda americana furou a barreira dos R$ 5 pela primeira vez desde junho do ano passado. E hoje ela se manteve em baixa: -0,59%, cotada a R$ 4,91. 

Os dois fatores estão interligados. A bolsa segue recebendo um fluxo recorde de investimento estrangeiro. Até 18 de março, data do último dado disponível, foram R$ 79,48 bilhões de saldo positivo no ano, ou seja, o tanto que as entradas de investidores de fora superaram as saídas. 

Seguindo neste ritmo, a B3 teve superar a marca de 2021 (R$ 102 bilhões) ainda em abril. Trata-se de algo completamente fora da curva. E ajuda a explicar a queda da moeda americana. Para investir aqui, os gringos trocam seus dólares por reais. Passa a circular mais moeda americana no mercado. Dólar é igual tomate: se tem muito, o preço cai. Caiu para R$ 4,91.

Não são só as ações, que mesmo com as altas recentes seguem relativamente baratas, em comparação às que são negociadas no mercado americano. Os juros altos também atraem dinheiro de fora. O título IPCA+2026 está pagando 5,50% de juro real (acima da inflação). Isso não existe lá fora (talvez só na Rússia, mas aí é outra história). Logo, o pessoal vem comprar títulos públicos daqui, e entram mais dólares. 

E os juros vão seguir em alta por um bom tempo, de acordo com a ata da última reunião do Banco Central, divulgada hoje. A ata reafirmou a expectativa de um outro ajuste de 1 p.p. na próxima reunião, marcada para 3 e 4 de maio, o que significaria uma Selic em 12,75%. 

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Mas pode não parar por aí. O BC já alertou que “estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente”. O cenário inclui a guerra na Ucrânia – que pressiona não só o petróleo para cima, mas também a cotação internacional dos alimentos, já que Rússia e Ucrânia são grandes produtores de grãos. Ou seja, se o problema se agravar, teremos uma Selic ainda mais alta.  

E alguns analistas já apostam nisso. O Itaú já elevou a sua projeção para a taxa básica de juros de 13% para 13,75%, prevendo que o ciclo do aperto monetário vá até até agosto. 

Por outro lado, a queda do dólar joga a favor de uma desaceleração dos juros, já que reduz a inflação automaticamente. A ver quem ganha esse cabo de guerra. 

Commodities

O petróleo terminou o dia estável, com o Brent em queda de 0,12%.

A União Europeia está dividida em relação à campanha de embargo ao petróleo russo, liderada pelos EUA e Reino Unido. Enquanto a França não descarta parar de comprar óleo de Putin, a Alemanha rejeita o boicote. 

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O problema nem é tanto a falta da commodity (dá para importar de outros países, ainda que saia mais caro), mas sim represálias vindas da Rússia sobre um produto ainda mais importante para a Europa: o gás natural. O país fornece cerca de 40% do gás consumido na região, e não é simples substituir esse tipo de importação por gás liquefeito (que chega de navio, não por gasoduto, e por isso é bem mais caro). Moscou já alertou que pode fechar gasodutos caso o bloco decida de fato pelo embargo do petróleo. 

E já que estamos falando de commodities: o minério de ferro caiu 3,06% em Cingapura. Isso, e o dado de que as compras dos distribuidores de aço caíram 8,7% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2021, ditaram o rumo das maiores baixas do dia. A Vale liderou com queda de 2,24%, seguido pela CSN (-1,33%) e Gerdau (-1,47%)

A Metalúrgica Gerdau e a Usiminas também não ficaram de fora do movimento negativo do setor de mineração e caíram 1,47% e 0,96%, respectivamente. 

Wall Street

Nos EUA, nada como uma boa noite de sono fazer o mercado digerir os comentários feitos ontem por Jerome Powell. Durante um evento, o presidente do Federal Reserve sinalizou que o banco central americano projeta aumentos mais agressivos nas taxas de juros – algo que já era esperado, mas que o mercado preferia que não acontecesse. 

Na semana passada, o Fed elevou as taxas de juros pela primeira vez desde 2018 como medida para tentar controlar a maior inflação do país nos últimos 40 anos. Os preços por lá acumulam alta de 7,9% em 12 meses. Os juros subiram 0,25 p.p. (para uma faixa de 0,25% a 0,50%). A aposta é de uma nova alta, agora de 0,50 p.p.

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Passado o susto, os índices americanos voltaram a subir: a Nasdaq avançou 1,95%, a 14.108 pontos. Já o S&P 500 valorizou 1,13%, a 4.511 pontos. 

A alta da Nasdaq também foi impulsionada pela Tesla, que subiu 7,9%. A empresa de Elon Musk inaugurou a sua primeira fábrica na Europa, em Berlim. E Elon Musk aproveitou a ocasião para entregar as primeiras 30 unidades do carro elétrico Model Y produzidos no continente.

Esses não precisam de petróleo.

Até amanhã. 

Maiores altas

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Americanas (AMER3); 6,67%

Eneva (ENEV3): 6,65%

Banco Inter (BIDI11): 6,18%

Méliuz (CASH3) 6,05%

Grupo Soma (SOMA3): 5,62%

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Maiores baixas

Vale (VALE3): -2,24%

Bradespar (BRAP4): -1,81%

JBS (JBSS3): -1,81%

Gerdau (GGBR4): -1,68%

Marfrig (MRFG3): -1.50%

Ibovespa: 0,96%, a 117.272 pontos

Em NY:

S&P 500: 1,13%, a 4.511 pontos

Nasdaq: 1,95%, a 14.108 pontos

Dow Jones: 0,74%, a 34.807 pontos

Dólar: -0,59%, a R$ 4,9152

Petróleo

Brent: -0,12%, a US$ 115,48

WTI: -0,64%, a US$ 109,27

Minério de ferro: -3,06%, US$ 145,60 em Cingapura

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