Ibovespa escapa do estresse geopolítico e sobe em dia difícil
A tensão entre Rússia e Ucrânia, somada às expectativas de aperto monetário do FED, leva as bolsas globais ao negativo. Mas não foi o caso da nossa, que aproveitou a entrada de dinheiro estrangeiro. Alta de 0,29%.
Hoje é Valentine’s Day nos EUA e em alguns países da Europa – o Dia dos Namorados deles. Mas o estado atual das coisas não tem nada de romântico. A tensão entre Ucrânia e Rússia derrubou as bolsas de valores pelo mundo, de novo.
Durante o final de semana, os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin falaram por telefone. Mas a conversa não foi suficiente para aliviar as tensões. De acordo com a Casa Branca, Biden simplesmente deixou claro que os EUA agiriam “de forma decisiva, e que rapidamente imporiam custos severos à Rússia” caso a invasão à Ucrânia se materialize.
Enquanto isso, diversos países ocidentais já pediram que seus cidadãos deixem a Ucrânia imediatamente. A Rússia também começou a retirar diplomatas de sua embaixada e consulados na região. Toda essa movimentação indica uma possível invasão nos próximos dias, embora Moscou siga negando qualquer intenção de atacar.
Falta os russos combinarem com o mercado, porém. As bolsas europeias fecharam em forte queda. O índice Stoxx 600 caiu 1,92% e as bolsas locais afundaram ainda mais: Paris (-2,27%), Madri (-2,53%), Frankfurt (-2,03%) e Londres (-1,72%). Nos EUA, o S&P 500 caiu 0,39%.
Não é só o front militar que pressiona os mercados para baixo. Nas trincheiras da macroeconomia a coisa também está feia, você sabe. A projeção de um aperto monetário mais forte do Federal Reserve, afinal, deixa o mercado menos propenso aos riscos da renda variável. Na quarta-feira, o banco central americano libera a ata da sua reunião, na qual discute o futuro da sua política econômica.
Na semana passada, os EUA registraram 7,5% de inflação nos últimos 12 meses (encerrados em janeiro). A alta veio acima do que o mercado esperava. A expectativa agora, então, é de que o Fed não pense duas vezes na hora de aumentar a taxa de juros – que desde o início da pandemia estão em zero.
Diante disso, alguns dirigentes do Fed já apoiam a ideia de um aumento de 0,50 ponto percentual a partir de março. Até outro dia, só se falava em 0,25%.
Ou seja: forma-se aí uma tempestade perfeita, com nuvens carregadas vindas simultaneamente da Rússia e do Fed.
Mesmo assim, o Ibovespa resistiu. Alta de alta de 0,29%, a 113.899 pontos.
Ibovespa
O pregão de hoje foi um cabo de guerra. Quem jogou a favor foi o fluxo de investidores internacionais. Só neste ano, que não completou nem dois meses ainda, a B3 já registrou R$ 42,29 bilhões em aportes. Já dá quase metade do que os gringos deixaram por aqui no ano passado inteiro (R$ 102 bilhões, que já tinham sido um recorde histórico).
Motivo: as ações brasileiras estão bem mais baratas que as americanas. Na média, o valor de mercado das empresas que fazem parte do Ibovespa equivale a 7 anos dos lucros dessas companhias. Já as do S&P 500 valem neste momento 22 anos de lucros, também na média. Quando acontece esse tipo de assimetria, a tendência é de correção. Também conta a desvalorização do real, que começa a ser vista como excessiva por parte do mercado. Se for isso mesmo, o real tende a subir, e os gringos que apostarem em ações brasileiras pode ganhar também com uma eventual apreciação da nossa moeda. São as apostas deste início de ano.
Entre as maiores altas, o destaque ficou com a Petz, que subiu 6,29%. O movimento positivo nada mais é do que uma recuperação da semana passada, quando os papéis da companhia acumularam perda de 6,54%.
Na ponta negativa, o Ibov também precisou aguentar o peso do minério de ferro. Os preços da commodity caíram 0,74%, na China nesta manhã.
A maioria das empresas do setor fecharam no negativo: Metalúrgica Gerdau (-1,37%), Gerdau (-1,10%), Vale (-0,43%) e CSN (-0,18%). Só a CSN Mineração (1,06%) e Usiminas (0,97%) registraram alta.
Petróleo
Com a ameaça de guerra envolvendo o segundo maior produtor de petróleo do mundo (a Rússia, que só fica atrás dos EUA), a commodity renovou seu recorde em sete anos. O barril do tipo Brent (referência internacional) disparou 2,16%, a US$ 96,48 o barril. O WTI (referência nos EUA), avançou 2,53%, a US$ 95,46.
O banco JP Morgan Chase projeta que os preços do petróleo podem subir para US$ 120 por barril em caso de guerra – as sanções contra o petróleo russo, afinal, derrubariam a oferta da commodity.
A PetroRio subiu junto com o barril. A Petrobras não: caiu 2,25%. Pesa sobre a estatal as expectativas sobre a votação no Senado do projeto de lei 1.472/2021, que pode instituir um imposto de exportação sobre a venda de petróleo bruto – que seria utilizado para subsidiar o preço dos combustíveis nas refinarias.
Ou seja: a Petrobras pagaria a conta. Já vimos este filme antes: é aquele que fez o preço de PETR4 tombar a R$ 6 no início de 2016. Hoje as ações estão a R$ 36. Pois é.
Mesmo assim, o Ibov ainda conseguiu aproveitar o jantar de dia dos namorados junto com os investidores. Vejamos até aonde vai esse romance. Até amanhã.
Maiores altas
Banco Inter (BIDI11): 8,04%
Petz (PETZ3): 6,29%
Hypera (HYPE3): 4,41%
Totvs (TOTS3): 3,62%
Americanas (AMER3): 3,10%
Maiores baixas
Meliuz (CASH3): -2,54%
Carrefour (CRFB3): -2,40%
Marfrig (MRFG3): -2,27%
Petrobras (PETR4): -2,25%
Via (VIIA3): -2,18%
Ibovespa: 0,29%, a 113.899 pontos
Em NY:
S&P 500: 0,39%, a 4.401 pontos
Nasdaq: estável, a 13.790 pontos
Dow Jones: -0,50%, a 34.565 pontos
Dólar: -0,46%, a R$ 5,2185
Petróleo
Brent: 2,16%, a US$ 96,48
WTI: 2,53%, a US$ 95,46
Minério de ferro: -0,7%, US$ 148,20 no porto de Qingdao (China)