Ibovespa desvia de queda em NY e sobe 1,73% com IPCA-15 e reformas
Apenas 4 ações fecharam em queda. Vale anuncia R$ 10 bi em dividendos e avança 2,17% antes do balanço.
Tem dias que Deus é mesmo brasileiro e olha pela Faria Lima. É o caso desta quinta-feira em que o Ibovespa conseguiu ignorar os sinais negativos do exterior para fechar em alta de 1,73%, a 114.776 pontos.
O sinal verde veio do IPCA-15, que funciona como uma prévia da inflação oficial do país. O índice subiu 0,21% em outubro, em linha com as expectativas dos economistas e abaixo dos 0,35% registrados em setembro. Decompondo a inflação, a principal queda foi no setor de alimentos e bebidas.
O que economistas notaram, porém, é que os dados mostram uma desaceleração nos preços do setor de serviços, que resistiu mais à alta de juros e ainda era objeto de preocupação por parte do BC. A segunda boa notícia é que a desaceleração indica que a inflação poderá cair para dentro do teto da meta oficial. O compromisso do Banco Central é manter a inflação em 3,25% ao ano, com tolerância de 1,5 p.p. para cima e para baixo.
O que o IPCA-15 nos avisa é que o BC tem a faca e o queijo na mão para manter o ciclo de corte da Selic, que já desceu dos 13,75% ao ano para 12,75%. Foram pré-contratados mais dois cortes para esse ano, de 0,50 ponto cada um, nas reuniões de 1º de novembro e 13 de dezembro.
Se dependesse apenas do Brasil, por sinal, a ceifada poderia ser maior. O problema é que os Estados Unidos não andam colaborando. A gente já chega lá. Antes precisamos falar mais de Brasil.
Outro motivo que fez o Ibovespa subir foi o andamento das reformas em Brasília. A Câmara aprovou o projeto de taxação de fundos de super-ricos, seja offshore ou aqui no país, uma proposta crucial para que o governo cumpra a meta prometida de zerar o déficit público. Agora o texto precisa do aval do Senado.
Por lá, também houve avanços. Foi lido o relatório da reforma tributária, que tem menos implicações de curto prazo na economia do país, mas é considerada crucial para que o Brasil seja competitivo no longo prazo. A expectativa é de que o texto seja votado ainda em novembro.
Não foi de graça, claro. Na queda de braço que é Brasília, Lula demitiu a presidente da Caixa, Rita Serrano, e nomeou para o posto Carlos Antônio Vieira, aliado de Arthur Lira. O mercado financeiro não deu muita bola.
A alta do Ibovespa foi tão disseminada que apenas 4 das 86 ações do índice fecharam em queda. Quem puxou a fila foi a BRF, mas depois vieram PETR3 e PETR4 A Petrobras está na mira dos investidores por mudanças em seu estatuto que liberariam indicações políticas para a companhia, além de uma proposta que pode reduzir dividendos. E hoje não tinha nem como contar com o petróleo, que fechou em queda de 2,32%. Para fechar o ranking top 4, a Prio também recuou.
Por outro lado, o Ibov teve um empurrão generoso da Vale, que subiu 2,17%. A mineradora divulga seus resultados agora à noite. Mas, enquanto o pregão rolava, a empresa divulgou um fato relevante em que confirmou o pagamento de dividendos de R$ 1,56 por ação e juro sobre capital próprio de R$ 0,76. Haverá ainda um programa de recompra de ações para retirar até 3,5% dos papéis da companhia de circulação.
Fato relevante com a bola rolando é falta. E a B3 colocou VALE3 em leilão. O documento oficial dos dividendos veio após o Broadcast divulgar, com fontes, que a companhia pagaria US$ 2 bi em dividendos extraordinários. Com o dólar a R$ 5, é mais ou menos esse o tamanho da bolada confirmado pela Vale.
Isso tudo num dia que o Brasil precisou contar só com ele para subir.
PIBão nos EUA: +4,9%
A economia americana cresceu 4,9% no terceiro trimestre, a maior alta desde 2021. Vale lembrar que essa é a medida anualizada, que projeta a taxa de crescimento do trimestre para os três períodos seguidos. Na medida que a gente conhece, apenas no TRI, a alta foi de 1,2%.
Acontece que esse PIBão veio depois do mais rápido ciclo de alta de juros, que levou a “Selic” deles para 5,5% ao ano. Não só isso. Quem puxou o desempenho do PIB foi o consumo das famílias, gente supostamente estaria com o orçamento ainda baqueado pela inflação e pagando mais pelos empréstimos.
Nesse ritmo, a inflação não volta tão cedo a 2% ao ano. E é justamente esse o problema. O sólido desempenho da economia é uma notícia boa, mas renova o medo de juros elevados – e ainda maiores – por um tempo prolongado. E quanto mais o tempo passa, maior o risco de esses bons resultados do PIB não se repetirem.
Isso, somado às reações ruins de investidores aos balanços das big techs, azedou Nova York. Mesmo as ações de empresas que entregaram resultados acima do esperado recuaram, como foi o caso da Meta (a dona do Facebook) e seu tombo de 3,73%.
Aí o Nasdaq abriu a fila com uma baixa de 1,76% e levou junto o S&P 500 e o Dow Jones. O curioso é que os juros das Treasuries, que deveriam expressar o medo de uma reação mais pesada do Fed, caíram. São tempos estranhos em Wall Street.
Por isso, é dia de comemorar que você é brasileiro. Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Carrefour (CRFB3): 6,38%
Pão de Açúcar (PCAR3): 6,10%
Assaí (ASAI3): 6,07%
IRB (IRBR3): 5,99%
MRV (MRVE3): 4,98%
MAIORES BAIXAS
BRF (BRFS3): -2,61%
Petrobras PN (PETR4): -1,25%
Petrobras (PETR3): -0,95%
Prio (PRIO3): -0,74%
Ibovespa: 1,73%, a 114.776 pontos
Em Nova York
Dow Jones: -0,76%, a 32.784 pontos
S&P 500: -1,18%, a 4.137 pontos
Nasdaq: -1,76%, a 12.596 pontos
Dólar: 0,23%, a R$ 4,9902
Petróleo
Brent: -2,32%, a US$ 87,05
WTI: -2,55%, a US$ 83,21
Minério de ferro: 0,69%, a US$ 119,75 na bolsa de Dalian, na China