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Ibovespa decola 2,3% e volta aos 120 mil pontos

Nova York no positivo, commodities em alta e endosso de Arthur Lira ao equilíbrio fiscal deram ânimo a investidores após semana turbulenta.

Por Tássia Kastner
24 ago 2021, 18h33

O Ibovespa decidiu pegar embalo no mercado internacional e voltou aos 120 mil pontos nesta terça-feira. Foi uma alta expressiva no pregão, de 2,33%, que funcionou como uma espécie de exorcismo da tempestade perfeita que se formou sobre o mercado na semana passada.

Decolar, aqui, não é só uma metáfora fácil – não dessa vez. É que da última semana para cá, o ministro da Economia, Paulo Guedes, concedeu sucessivas entrevistas afirmando que a economia brasileira está decolando “neste momento”. Era uma tentativa de, no gogó, afastar o pavor do mercado financeiro com as propostas de parcelar precatórios (as dívidas que a Justiça mandou a União pagar), de reforma do IR e ainda o risco de um bolsa família turbinado colocar na lama de vez o teto de gastos (a medida que limita o crescimento da dívida pública acima da inflação).

Mas a Faria Lima não vinha dando muita bola para Guedes. O que valeu, mesmo, foi a participação de Arthur Lira em um evento da XP nesta manhã. Lira fez gestos positivos ao mercado ao dizer que buscaria um consenso para a reforma tributária e que também queria uma solução para os precatórios sem patrocinar um libera-tudo em termos de gastos públicos.

Nada disso é muito concreto, mas o mercado decidiu se agarrar a esse fio de esperança depois de dias afundado em pessimismo. Aí o Ibov subiu 2,33%, a 120.210 pontos, recuperando o patamar perdido na segunda-feira da semana passada (16). E foi uma mudança de ânimos bastante importante, já que o dólar afundou mais de 2%, a R$ 5,2622. Além disso, os juros futuros também caíram – mas se mantiveram acima de 10% de 2027 para frente. Em resumo, tudo deu uma despiorada no mercado.

Isso enquanto o presidente Jair Bolsonaro recebia, em Brasília, Umaro Sissoco Embaló, o presidente de Guiné-Bissau, chamado de “Bolsonaro da África”. A viagem, para continuar na temática aérea, foi em um avião da FAB, enviado pelo governo brasileiro. Isso apesar de a praxe ser chefes de Estado usarem aeronaves do próprio país ou pagar pelo deslocamento.

Gol

No universo das decolagens menos metafóricas ficou a Gol. A companhia aérea pegou um vento de cauda na notícia de reabertura das fronteiras no exterior para brasileiros. Na segunda, a Espanha anunciou a autorização de entrada (inclusive para vacinados com a Coronavac), enquanto a Alemanha havia permitido viagens nossas desde o último domingo (aí com a limitação da vacina do Butantã).

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Resultado é que a Gol ficou em terceiro lugar entre as maiores altas do dia, com expressivos 10,97%. Com a disparada de hoje, voltou ao preço do começo do mês.

É uma espécie de esperança do mercado com a volta das viagens, isso apesar dos riscos de avanço da variante delta e da necessidade de doses de reforço da vacina, algo em discussão pelo mundo todo.

Na mesma linha foi a Embraer, que ainda se beneficia do otimismo do mercado com a Eve, sua subsidiária que trabalha em “carros elétricos voadores”, o substituto futuro do helicóptero.

Commodities

O dia positivo foi patrocinado por Vale e Petrobras. É que minério de ferro e petróleo voltaram a marcar altas de respeito, de 6% e 3% (veja abaixo), puxando as ações das maiores companhias da bolsa. A Vale avançou 3,65%, enquanto a Petro ganhou 2,07%.

Aqui foi uma lufada de otimismo, uma percepção de que as medidas de isolamento na China, adotadas para conter o avanço da variante delta do coronavírus, causaram impacto menor que inicialmente previsto sobre a economia de lá (e, portanto, sobre a economia global).

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Sem voo de cruzeiro

Só que, numa espécie de efeito espelhado, a alta só foi sustentada porque americanos esperam exatamente o oposto: que a delta cause um efeito mais danoso que o inicialmente previsto sobre a economia.

Nisso, investidores passaram a contar que o Fed adiará o anúncio da redução nos estímulos à economia, há tanto aventado. Nisso, é aquela história: muito dinheiro circulando no mundo faz chover nas bolsas, e os principais índices americanos enfileiraram mais um recorde e ainda sobrou um trocado para o Brasil.

Bem, a gente escreve sobre esse vaivém dos estímulos toda semana. Essa, a gente jura, é um pouco diferente. É que no final da semana acontece o simpósio de Jackson Hole, o evento anual do Fed, o banco central americano. Neste ano, a única coisa que importa é se Jerome Powell, o presidente do Fed, dará já algum indicativo de redução de impressão de dinheiro ou não. Agora, a aposta é que não. Amanhã, tudo pode mudar de novo.

O importante é que, enquanto essa dúvida persistir, a bolsa brasileira pode até se dar ao luxo de ignorar seus outros problemas – como aconteceu hoje. Mas quando o Fed reduzir a impressão de dinheiro, só resolvendo os problemas domésticos para seu dinheiro sofrer um pouco menos. Estamos na torcida.

MAIORES ALTAS

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Cyrela (CYRE3) 11,94%

Lojas Americanas (LAME4)  11,43%

GOL (GOLL4) 10,37%

Eztec (EZTC3) 9,73%

Americanas s.a. (AMER3) 9,41%

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MAIORES QUEDAS

JBS (JBSS3) -3,26%

Raia Drogasil (RADL3) -2,64%

Pão de Açúcar (PCAR3) -2,09%

Hypera (HYPE3) -1,47%

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Vivo (VIVT3) -0,73%

Ibovespa: alta de 2,33%, a 120.210

Nova York

Dow Jones: 0,09%, a 35.366 pontos

S&P 500: 0,15%, a 4.486 pontos

Nasdaq: 0,52%, a 15.019 pontos

Dólar: queda de 2,23%, a R$ 5,2622

Petróleo

Brent: alta de 3,49%, a US$ 71,15

WTI: alta de 3,06%, a US$ 67,65

Minério de Ferro: alta de 6,89%, a US$ 146,13 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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