Haddad e Rui Costa se encontram hoje para reunião definitiva sobre arcabouço fiscal
Após uma ata do Copom venenosa, a Faria Lima põe fé no ministro da Fazenda: se o novo conjunto de regras decepcionar, a Selic ficará alta por mais tempo. Enquanto isso, o exterior sobe com uma mãozinha de Alibaba e UBS.
No começo da semana, Haddad negou que existam duas alas do governo disputando o novo arcabouço fiscal. Uma delas (a ala em que a Faria Lima põe o próprio Haddad) deseja regras mais austeras e alinhadas com as expectativas ortodoxas. Outra é o núcleo desenvolvimentista, o PT old school, que quer uma margem generosa para gastos além da arrecadação.
O resultado do cabo de guerra entre as duas visões dará o tom do documento que chegará às mãos do Congresso até 15 de abril, acompanhando o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 – que, por sua vez, dá as bases para a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024. Isso explica porque a nova âncora, que entrará em ação só no ano que vem, precisa ficar pronta tão cedo neste ano.
A discussão em torno da existência de alas – ou não – é um capricho teórico. Na prática, Haddad está enrolado com o problema, independentemente de como prefira enquadrá-lo. Está marcada para hoje uma reunião decisiva entre ele e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa – justamente um dos figurões que encarnam o PT gastão, das antigas. Haddad também passou o final de semana fazendo o que chamou de “interlocução” com deputados e senadores, para “preparar o terreno político”.
O Banco Central pôs mais lenha nessa fogueira com a ata do Copom: confirmou que a Selic fica onde está, por ora – e que quaisquer cortes dependerão do novo arcabouço, que precisa não só ser como parecer convincente (as palavras exatas foram “sólido e crível”). O comitê não hesitará em aprovar mais hikes na taxa básica de juros caso a alta generalizada nos preços ganhe fôlego novamente. Se a ala política falar mais alto e as regras fiscais vierem flexíveis demais, o choro com os 13,75% pode virar choro com 14%.
No exterior, as bolsas europeias estão operando todas em alta, e as asiáticas fecharam igualmente no verde. O movimento contagiou os futuros de Nova York: o Nasdaq estava em +0,86% às 7h43 da manhã, e o S&P 500 marcava 0,88%.
Em Hong Kong, o pessoal foi às compras depois que a gigante tech chinesa Alibaba anunciou um plano de reestruturação e suas ações dispararam 12%. Na Europa, o retorno de um antigo CEO ao UBS animou os angustiados com a crise bancária e a fusão dos dois gigantes suíços. A questão é saber se o entusiasmo dura: a Alibaba amanheceu em queda no pré-market da bolsa de Nova York hoje (-1% às 7h53), enquanto a UBS segura o bom desempenho, em alta de 2,02%.
Para nós, não há Alibaba que mexa com o Ibovespa, claro: o mercado quer arcabouço fiscal, e quer logo. Que a reunião de Haddad e Rui Costa seja produtiva.
Bons negócios!
Futuros S&P 500: +0,88%
Futuros Nasdaq: +0,86%
Futuros Dow: +0,74%
*às 7h34
CEO da Americanas no Senado
Leonardo Coelho Pereira, o atual CEO da Americanas, afirmou que, apesar de ser impossível conseguir empréstimos com instituições financeiras atualmente, a empresa deve conseguir levantar dinheiro com a venda de alguns negócios – como sua rede de hortifrutis. Ao lado de Sérgio Rial, ex-CEO, Pereira esteve ontem em uma audiência da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) no Senado para dar explicações sobre a crise na varejista. Ele contou que a Americanas continua recebendo a auditoria da PwC, mas que, agora, a consultoria Deloitte também é responsável por validar os números. Ele admitiu que o caso indica fraude – mas ponderou que “é preciso concluir as investigações”.
Brasil, sem hora definida: reunião de Haddad e Rui Costa sobre novo arcabouço fiscal.
Índice europeu (EuroStoxx 50): +1,04%
Bolsa de Londres (FTSE 100): +0,79%
Bolsa de Frankfurt (Dax): +0,86%
Bolsa de Paris (CAC): +1,17%
*às 8h03
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): +0,17%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): +1,33%
Hong Kong (Hang Seng): +2,06%
Brent: +0,70% a US$ 79,20 o barril
*às 7h07
Minério de ferro: +1,54%, a US$ 129,32 a tonelada, na bolsa de Dalian
Mudança de curso do BNDES
Em 2022, o BNDES ofereceu R$ 97,5 bilhões em crédito. Quem abocanhou a maior fatia desse montante foi o setor de infraestrutura, que ficou com 43,3%. Depois veio a agropecuária, com 22%, e a indústria em terceiro, com 19,6% do bolo. Esse ranking se repete há 5 anos, desde o final do governo Temer. Antes, a indústria era tradicionalmente a segunda maior beneficiada pelo banco de desenvolvimento. A gestão atual, comandada por Aloizio Mercadante, pretende voltar às raízes, e voltar a priorizar o setor secundário. Esta reportagem da Folha relembra a trajetória dos investimentos do BNDES nos últimos oito mandatos presidenciais, e conta qual tem sido a postura da instituição agora.