Fed pega leve no aperto, e as bolsas se animam

EUA sobem forte, e puxam o Ibovespa para fora do buraco: alta de 0,63%.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
15 dez 2021, 18h26
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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Em dias normais, o mercado financeiro começa a funcionar logo cedo. Às 10h, o pregão da bolsa brasileira começa. Pouco depois é a vez de Wall Street. Mas hoje não foi um dia comum. As bolsas, claro, abriram no horário normal, mas o mercado entrou em modo de espera. 

O que era tão esperado? O anúncio sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve, que só veio na parte da tarde. O banco central americano confirmou que vai aumentar o ritmo do tapering – que é a retirada gradual dos estímulos monetários que começaram lá em março, no início da pandemia. 

A partir de janeiro, o Fed reduzirá em US$ 30 bilhões a sua compra mensal de títulos em poder dos bancos, fechando ainda mais a torneira de US$ 120 bilhões que vinha sendo despejados na economia todo mês desde o primeiro semestre de 2020. No mês passado, a instituição já tinha reduzido a compra mensal em US$ 15 bilhões. 

Faz a conta aqui com a gente: até novembro, eram US$ 120 bilhões todos os meses. Para dezembro, já caiu para US$ 105 bilhões Agora, com a nova mudança, serão R$ 75 bilhões em janeiro. Em março, a festa acaba. 

Essa é a primeira decisão oficial do Fed desde que o presidente da entidade, Jerome Powell, afirmou já ser hora de aposentar o termo “temporário” quando o assunto era a pressão inflacionária. Na época, ela já tinha indicado uma possível aceleração do tapering. 

Mais: ontem saiu o PPI, que é o índice de preços ao produtor nos EUA (o IGPM deles). O indicador subiu 0,8% em novembro e atingiu 9,6% em comparação ao mesmo período do ano passado. É o maior índice da história (o cálculo pelos moldes atuais começou em 2010, então não se trata de uma história tão longa assim). Mas claro: isso deixou o mercado cauteloso durante toda a manhã, tentando adivinhar o que o Fed estava planejando para 2022 com esse novo dado na mesa. 

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A projeção do banco central do EUA para a inflação em 2021 passou de 4,2% para 5,3% (um tanto otimista, dado que em 12 meses ela está em 6,8%); para 2022, a estimativa subiu de 2,2% para não muito menos utópicos 2,6%.

Os juros, por outro lado, continuam entre zero e 0,25% ao ano. Mas a alta nas taxas vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Em seu pronunciamento, Powell afirmou que alta dos juros não deve ocorrer antes de março, quando o tapering já estiver encerrado. Ou seja: provavelmente querem entender se a redução nos estímulos conseguirá segurar a inflação sozinha (spoiler: é improvável)

O Fed aponta que devem acontecer, pelo menos, três aumentos de juros ao longo do ano que vem. Além disso, a maioria dos dirigentes da instituição acredita que os juros devem ficar entre 0,75% e 1,0% em 2022. Para 2023, as opiniões se dividem: parte espera juros entre 1,25% e 1,5%; outros entre 1,75% e 2,0%.

Em suma: o Fed foi amigo do mercado ao não anunciar nenhuma alta violenta nos juros – o aumento do tapering, por outro lado, já era esperado. Finda a reunião do banco central e feitos os anúncios que você leu aqui, então, veio uma alta generalizada: o Índice Nasdaq fechou o dia avançando 2,15%, a 15.565 pontos. Já o S&P 500 subiu 1,63%, a 4.709 pontos. 

O Ibovespa passou o dia alinhado com Wall Street. A virada aconteceu pouco depois que os índices americanos conseguiram se firmar no positivo. No final, o Ibov encerrou com alta também: 0,63%, a 107.431 pontos. 

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Ibovespa

Além do Fed, os investidores brasileiros também estavam de olho na nossa própria agenda. A começar pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central, mais conhecido como IBC-Br. Ele é considerado uma prévia do PIB – enquanto o produto interno bruto é divulgado a cada três meses pelo IBGE, o IBC-Br é mensal. 

Bom, o indicador de outubro recuou 0,4% – o resultado está em linha com as expectativas do mercado, que previa uma queda entre 0,2% e 0,4%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, ele recuou 1,48%. Já no no acumulado do ano, houve alta de 4,99%; assim como em 12 meses, no qual o IBC-Br subiu 4,1%. 

O mercado, então, pode se preparar para mais uma queda do PIB no quarto trimestre. Seria a terceira seguida: -0,4% entre abril e junho; e -0,1% entre julho e setembro. 

Vale destacar que o Boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda, estima uma alta de 4,65% para o PIB no acumulado de 2021. O Ministério da Economia diz que a alta será de 5,1%. 

Também não saiu do radar o segundo turno da votação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados. A proposta foi aprovada em primeiro turno ontem à noite. O presidente da Casa, Arthur Lira, achou melhor deixar a segunda parte para hoje, por receio de não conseguir quórum durante a madrugada. 

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Na votação de ontem, os deputados aprovaram o limite de pagamento de precatórios até 2026 e também foram a favor de destinar o espaço fiscal da PEC para o Auxílio Brasil e despesas previdenciárias. Também foi aprovada a atribuição de caráter permanente para o programa social que substituiu o Bolsa Família.

Para hoje, ficou faltando discutir mais alguns pontos da PEC, como a retirada da fixação de datas para o pagamento das dívidas do antigo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (o Fundef, que vigorou de 1997 a 2006).

O texto principal já foi aprovado e agora precisa passar por sessão conjunta do Congresso para entrar em vigor. 

Exportação de carne

As ações dos frigoríficos avançaram depois que a China autorizou a retomada das importações de carne bovina do Brasil. O embargo começou em setembro, quando foram identificados casos de mal da vaca louca em fazendas de Minas Gerais e Mato Grosso.

O país é o maior comprador da carne brasileira. De acordo com o Ministério da Agricultura, em 2020, o Brasil exportou US$ 4,04 bilhões de carne bovina para o mercado chinês, o que representa 48% do total das nossas vendas globais. A suspensão, claro, influenciou nas exportações dos últimos meses. Dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) mostram que a queda foi de 43% em outubro e 47% em novembro, quando comparado com os mesmos meses do ano passado. 

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Quem puxou as altas do dia foi a Minerva, após disparar 10,96%. A companhia divulgou um comunicado informando a retomada imediata das operações de abate e produção de carne bovina para a China. As ações JBS e BRF subiram 2,07% e 1,58%, respectivamente. Só a Marfrig foi contra: queda de 1,32%. 

Privatização

Durante boa parte do dia, quem conduziu o grupo dos papéis que mais caíram foi a Eletrobras. Estava marcado para o Tribunal de Contas da União (TCU)  julgar o processo de privatização da companhia. Mas o julgamento precisou ser interrompido por um pedido de vista do ministro Vital do Rêgo.

No jargão jurídico, “pedir vistas” nada mais é do que rever os documentos e informações do processo. Ou seja, o ministro que dar aquela última lida na papelada do processo antes de tomar uma decisão. 

Por causa disso, toda a discussão sobre a privatização da empresa de energia vai ter que ficar para o ano que vem. A próxima sessão do tribunal está marcada para 19 de janeiro, mas ainda não se sabe se o tema estará na agenda. 

Mas tudo indicava que a decisão sobre a privatização deveria se arrastar por mais um tempo. O  próprio relator do processo, ministro Aroldo Cedraz, apontou em seu parecer uma série de falhas no processo e determina que o governo faça vários ajustes. Entre os pontos questionados, estão as informações sobre a precificação da estatal, os parâmetros usados em cálculos de contratos e a falta de estudos sobre a garantia física das usinas. 

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No começo do pregão, as ações de companhias chegaram a despencar quase 12%, mas reduziram o estrago. A perda, no fim das contas, ficou em -0,98%. 

Até amanhã 🙂

Maiores altas

Minerva (BEEF3): 10,96%

Magalu (MGLU3): 7,84%

Americanas (AMER3): 7,80%

Lojas Americanas (LAME4): 7,62%

Meliuz (CASH3): 6,44%

Maiores baixas

Ecorodovias (ECOR3): -2,47%

Iguatemi (IGTI11): -2,32%

Dexco (DXCO3): -1,78%

Banco do Brasil (BBAS3): -1,72%

Marfrig (MRFG3): -1,32%

Ibovespa: 0,63%, a 107.431 pontos

Em NY:

S&P 500: 1,63%, a 4.709 pontos

Nasdaq: 2,15%, a 15.565 pontos

Dow Jones: 1,08%, a 35.926 pontos

Dólar: 0,25%, a R$ 5,7080

Petróleo

Brent: 0,24%, a US$ 73,88

WTI: ,20%, a US$ 70,87

Minério de ferro: -0,80%, US$ 111 no porto de Qingdao (China)

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