Fed mantém no radar nova alta de juros em 2023 e indica taxa acima de 5% em 2024
Powell afirmou que "economia robusta" significa apenas mais trabalho para baixar a inflação à meta de 2%. Bolsas americanas recuam, enquanto Ibovespa sobe à espera do Copom.
Todo mundo tem suas expectativas de curto e de longo prazo. Nesta quarta, o Fed confirmou as apostas de curto prazo do mercado, a de que os juros americanos seriam mantidos na faixa de 5,25% e 5,50% ao ano. E reforçou a sinalização de que, depois da pausa, um novo aumento deve ocorrer até o final do ano. A mediana das projeções indica a “Selic” americana em 5,60% no fim de 2023. Serão mais duas reuniões até o calendário virar: em 1º de novembro e em 13 de dezembro.
A estimativa apareceu nas projeções que o BC americano atualiza quatro vezes por ano. Até o anúncio da decisão de hoje – e mesmo depois da reunião – a maioria dos agentes de mercado ainda apostava na manutenção dos juros por lá.
Acontece o seguinte: o Fed tem sido enfático de que não descansará até que a inflação volte ao patamar de 2%. E pelas estimativas do próprio BC, isso só deverá ocorrer em 2025, quando o PCE (o indicador de preços usado pelo Fed) cairá a 2,2%. Se os preços não baixam, o jeito é manter o torniquete de juros apertado.
Não à toa, a turma de Jerome Powell também sinalizou que a queda dos juros no próximo ano deverá ser bem mais suave do que a antecipada. E aí, o Fed frustrou as expectativas de longo prazo dos investidores. Em junho, os dirigentes do Fed apontavam que a taxa terminaria 2024 em 4,6%. Agora as apostas são de 5,1%, em um patamar não muito distante do atual.
Na prática, se os juros de fato subirem até o final do ano, trazê-los de volta a 5,1% em 2024 significaria uma redução de menos de 1 p.p., para a banda entre 5% e 5,25%.
Analistas ouvidos pela Bloomberg chegaram a dizer, nesta tarde, que o Fed está buscando razões para não precisar agir a partir daqui.
Parte da tranquilidade do BC americano reside na solidez do mercado de trabalho. A taxa de desemprego cravou pé abaixo de 3,8%, isso mesmo após o ciclo de aperto de juros.
Os dados positivos são vistos como negativos pelo Fed. Em entrevista para comentar a decisão, o presidente Jerome Powell afirmou que o pouso suave da economia não é o cenário base do BC, ainda que seja possível. E foi além: “Se a economia for mais forte do que o esperado, isso significa apenas que teremos de fazer mais para voltar para a meta de 2%”.
Investidores não curtiram o mau agouro. Após a decisão, as bolsas americanas viraram para o negativo (confira abaixo). Natural, já que juros consistentemente altos favorecem investimentos em renda fixa em detrimento de ações. Um segundo reflexo é o custo de crédito mais alto para as empresas, o que pode diminuir investimentos e reduzir o lucro potencial no futuro.
O Ibovespa conseguiu manter o sinal positivo, mas reduziu o ímpeto da alta depois do Fed. O índice subiu 0,72%, a 118.695 pontos. O dólar, que vinha em queda, fechou em alta de 0,15%. Na bolsa, o que prevaleceu foi o otimismo com a reunião do Copom, cuja decisão será anunciada por volta das 18h30.
Aqui, o BC brasileiro deixou contratadas três quedas de 0,50 p.p. até o fim do ano, o que levaria a Selic ao patamar de 11,75%. Tanto que, mais uma vez, importa menos a reunião e mais o comunicado dela. É ali que saberemos se o plano de corte dos juros por aqui continua de pé. Teremos que esperar mais um pouco para ter essa resposta. Até lá.
MAIORES ALTAS
Azul (AZUL4): 12,05%
CVC (CVCB3): 8,52%
Gol (GOLL4): 7,03%
Natura (NTCO3): 4,33%
Suzano (SUZB3): 3,87%
MAIORES BAIXAS
Pão de Açúcar (PCAR3): -5,68%
Braskem (BRKM5): -4,25%
São Martinho (SMTO3): -2,46%
PetroReconcavo (RECV3): -2,20%
Raízen (RAIZ4): -1,79%
Ibovespa: 0,72%, a 118.695 pontos
Em Nova York
Dow Jones: -0,22%, a 34.441 pontos
S&P 500: -0,94%, a 4.402 pontos
Nasdaq: -1,53%, a 13.469 pontos
Dólar: 0,15%, a R$ 4,8802
Petróleo
Brent: -0,86%, a US$ 93,53
WTI: -0,91%, a US$ 89,66
Minério de ferro: 0,46%, a US$ 119,72 a tonelada na bolsa de Dalian