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Entenda a queda de 19,82% nas ações da VIIA3 (futura BHIA3)

Companhia levantou R$ 623 milhões em oferta de ações. E vendeu cada papel a R$ 0,80, firmando pé no território das penny stocks. Ibovespa sobe 1,03%.

Por Tássia Kastner
14 set 2023, 18h03

Ainda sob o ticker VIIA3, as ações da Via (ou Grupo Casas Bahia, pelo rebrand da empresa) colapsaram 19,82% nesta quinta-feira. E talvez tenha sido pouco. Trata-se de uma questão matemática.

A companhia levantou R$ 623 milhões em uma oferta de ações. Problema 1: ela tinha a ambição de colocar no caixa R$ 1 bilhão – vieram 37% a menos. Problema 2: para completar a venda, a Via vendeu cada papel a R$ 0,80 – isso enquanto eles eram negociados a coisa de R$ 1. Pior: quando o plano de levantar dinheiro na bolsa foi anunciado, no noite de terça, cada ação tinha fechado por R$ 1,17.

Aí valem as leis da economia: o valor de qualquer coisa é aquele pelo qual as pessoas estão dispostas a negociá-lo. E se para despejar milhões de novas ações no mercado a administração da empresa topou vendê-las por menos, aí esse passa a ser o novo valor. Fim de papo.

Só que essa é uma punição brutal para quem tinha VIIA3 na carteira – são 400 mil investidores pessoa física e outros 600 institucionais, grosso modo, fundos.

Uma ação existe para dar ao sócio o direito a um naco do lucro da companhia. Quanto mais sócios, menor a fatia do lucro total para cada um. Até o follow-on, a empresa era dividida em 1,6 bilhão de ações. Com a venda de novos papéis, agora a Via é fracionada em 2,3 bilhões de pedacinhos. São 43% a mais de papéis para dividir o lucro, o que representa uma diluição de 30% para cada acionista de hoje.

No caso da Via, há um problema adicional: a empresa vem rodando no prejuízo. No segundo trimestre, o rombo foi de R$ 800 milhões, acima dos R$ 574 mi negativos de um ano antes. Resumo: não há lucro a distribuir – e ainda não há luz no fim desse túnel.

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Acontece que a companhia precisava de dinheiro para fazer frente a um endividamento ultra perigoso. A dívida bruta da companhia estava em R$ 8,7 bilhões ao fim do segundo trimestre – ante um valor de mercado de R$ 1,45 bilhão.

Parte da dívida é no esquema com fornecedores, que vai sendo quitada com capital de giro, segundo a empresa. Restam R$ 3,7 bilhões, dos quais R$ 1,2 bi vencem em uma janela de um ano. Ao fim do segundo trimestre, o caixa da empresa era de R$ 2,8 bilhões.

Para complicar, a companhia está flertando com limites de alavancagem estabelecidos em contratos de dívida, os chamados covenants, no jargão do mercado. Se eles são rompidos, credores podem exigir o pagamento antecipado de dívidas. Aí o R$ 1,2 bi de curto prazo se multiplica.

O resumo é que a companhia não tinha a possibilidade de não completar a venda de ações, apesar de vender os papéis com um desconto brutal. A clareza de que a empresa está em uma crise severa prejudica ainda mais a percepção de valor da ação, daí a janela para novas desvalorizações.

Há um problema extra: agora a Via é uma penny stock. E se continuar assim até o fim do ano, inevitavelmente ela deixa o Ibovespa, que não aceita ações abaixo de R$ 1. Isso por que companhias negociadas a centavos registram oscilações muito bruscas. O complicador: ETFs que seguem o Ibovespa precisam vender o papel, e o resultado é um novo ciclo de baixa.

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Antes mesmo de confirmar a conclusão da venda de novas ações, a Via anunciou seu rebranding. Como contamos ontem aqui no FM, agora a Via é Grupo Casas Bahia – em uma mensagem de volta às origens. O ticker será BHIA3. Seja como for, não é isso que vai resolver o problema. 

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Ibovespa sobe 1,03% com mineradoras e Petrobras

A tragédia da Via roubou a cena em um dia positivo para a Faria Lima. Vale e Bradespar (a holding que só tem VALE3 na carteira) dispararam 4,33% e 5,21%, patrocinando uma alta de 1,03% no Ibovespa, que voltou aos 119 mil pontos. A Cosan, dona de 4,9% da mineradora desde 2022, também ficou entre as maiores altas (3,58%).

A outra metade do casal maior do Ibov, a Petrobras, também fez bonito: 2,54% em PETR4

O mundo se viu contagiado por uma onda de otimismo para as commodities, com mineradoras e petroleiras subindo planeta afora também.   

Fato é que os preços do minério e do brent engataram a terceira marcha há algumas semanas. No caso do metal, por conta dos estímulos do governo chinês. No do combustível fóssil, a baixa oferta, enquanto Arábia Saudita e Rússia mantêm a produção em baixa. E hoje, mesmo sem uma notícia nova para impulsionar os preços, o fato é que investidores aderiram em bloco à tese de apostar com mais firmeza nas as empresas produtoras dessas commodities. 

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O Ibovespa agradece. 

Até amanhã.

MAIORES ALTAS

Bradespar (BRAP4): 5,21%

Vale (VALE3): 4,33%

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CSN (CSNA3): 3,82%

Cosan (CSAN3): 3,58%

CSN Mineração (CMIN3): 3,26%

MAIORES BAIXAS

Via (VIIA3): -19,82%

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Azul (AZUL4): -4,31%

Gol (GOLL4): -3,38%

Petz (PETZ3): 1,88%

Assaí (ASAI3): -1,48%

Ibovespa:  1,03%, a 119.392 pontos

Em Nova York

Dow Jones: 0,96%, a 34.907 pontos

S&P 500: 0,84%, a 4.505 pontos

Nasdaq: 0,81%, a 13.926 pontos

Dólar: -0,91%, a R$ 4,8727

Petróleo

Brent: 1,98%, a US$ 93,70

WTI: 1,86%, a US$ 90,16

Minério de ferro: 0,82%, a US$ 118,66 por tonelada

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