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Economia americana segue resiliente – e isso é má notícia para as bolsas

Dados fortes de indústria e varejo nos EUA aumentam apostas de juros altos por mais tempo por lá – derrubando o Nasdaq e, de quebra, o Ibovespa.

Por Bruno Carbinatto
17 out 2023, 17h56

O mercado financeiro é do contra: boas notícias são más notícias. Ao menos quando o assunto é a economia americana.

Novos dados divulgados nesta terça-feira mostram que o maior PIB do mundo está se saindo melhor do que o esperado. As vendas no varejo por lá, por exemplo, cresceram 0,7% em setembro – mais que o dobro das projeções, que falavam em +0,3%. O número indica que o consumo das famílias americanas segue forte, mesmo após um período de inflação alta que corroeu o poder de compra da população.

Outro setor com crescimento acima do esperado foi a indústria. O índice que mede a força do segmento é calculado pelo Fed, o banco central americano, e teve uma alta de 0,3% em setembro – a previsão era de um recuo de 0,1%. A performance surpreendente das empresas de mineração e manufatura ajudou a puxar o número para cima.

As surpresas positivas se traduzem negativamente nas bolsas. O S&P 500 passou o dia sem gás e fechou estável (-0,01%); o Nasdaq tombou 0,25%. O mau humor respingou por aqui: Ibovespa -0,54%.

O que explica o azedume? É que o fato de que a economia está forte indica que o Fed pode seguir com os juros altos por mais tempo nos EUA – e até aumentá-los novamente. Isso porque o banco central americano vem travando uma batalha feroz com a inflação há mais de um ano, subindo as taxas de juros para frear o aumento dos preços. Juros mais altos diminuem o consumo, o que, por consequência, combate também a inflação.

O efeito colateral desse remédio, porém, é o desemprego e o esfriamento da economia como um todo. A missão do Fed – muito difícil, aliás – é tentar vencer a inflação, levando à meta de 2% a.a, ao mesmo tempo que mantém a economia longe da recessão.

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Pois bem: os dados de atividade econômica dos EUA mostram que o país está aguentando bem o tranco, e o que os juros altos não causaram um apocalipse até agora. Nisso, a visão que prevalece no mercado é que o Fed poderá manter os juros nas alturas por mais tempo do que o previsto, e talvez até engatar uma nova alta na taxa, para tentar atingir a meta. 

Há mais duas reuniões do comitê do Fed neste ano, em novembro e em dezembro. Segundo a ferramenta CME FedWatch Tool, da bolsa de Chicago, 40% dos investidores apostam em uma nova alta de 0,25 ponto percentual em dezembro. Em janeiro, que também tem decisão monetária, quase metade das apostas são de uma nova alta.

Essas previsões com base na força da economia americana não são de hoje. O mercado de trabalho americano, melhor termômetro para se analisar o estado da economia, segue aquecido e o desemprego está rondando os 3,8%, um dos menores patamares da história. 

Além disso, o próprio Fed vem dando indicações mais hawkish nas últimas semanas, ou seja, indicando que os juros podem ficar em patamares mais altos por mais tempo do que o previsto anteriormente, o que causou todo um estresse no mercado global. Recentemente, alguns dirigentes do banco amenizaram o tom, indicando uma postura mais dovish. O saldo de tudo isso é que as bolsas caem refletindo a incerteza; juros mais altos, afinal, machucam a renda variável. 

É por isso que boas notícias (economia forte) acabam virando más notícias (juros altos por mais tempo) para o mercado.

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VALE3 e PETR4

O mau humor gringo derrubou também o Ibovespa, que passou o dia instável, fletando entre altas e baixas. O tombo só não foi maior porque as gigantes do índice ajudaram.

VALE3, com o maior peso do Ibov, subiu 0,82%, na esteira da valorização do minério de ferro na China (veja abaixo).

A maior contribuição, porém, veio da performance da Petrobras: PETR4 saltou 2,70%, a segunda maior alta do dia, enquanto PETR3 avançou 2,27%, com a medalha de bronze. Juntas, as ações tem peso de quase 13% no Ibovespa.

Com o preço do petróleo andando de lado hoje, a valorização dos papéis veio após a estatal divulgar, ontem, sua maior produção trimestral de óleo e gás da história. Foram 3,98 milhões de barris de óleo equivalente (boe), 7,8% acima do segundo trimestre. (O boe é uma unidade de medida diferentona porque permite juntar num mesmo montante a produção de petróleo e de gás natural.)

Enquanto isso, o mercado segue acompanhando a guerra entre Israel e Hamas. A situação se agrava nesta terça-feira, após o bombardeio de um hospital em Gaza; relatos iniciais falam de mais de 500 mortos. Apesar de protagonizar com folga os noticiários, o conflito fica em segundo plano quando o assunto é pautar o mercado, já que, por enquanto, não teve impactos claros na economia mundial. O maior temor é que a guerra se espalhe na região e afete a oferta de petróleo no mercado internacional, algo que ainda não ocorreu.

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Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Gol (GOLL4):

Petrobras PN (PETR4):

Petrobras ON (PETR3):

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3R Petroleum (RRRP3):

Braskem (BRKM5):

MAIORES BAIXAS

Magazine Luiza (MGLU3): -5,59%

Cielo (CIEL3): -4,32%

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Carrefour (CRFB3): -4,21%

Yduqs (YDUQ3): -4,15%

CVC Brasil (CVCB3): -4,11%

Ibovespa: -0,54%, aos 115.908

Em Nova York

S&P 500: -0,01%, aos 4.373 pontos

Nasdaq: -0,25%, aos 13.533 pontos

Dow Jones: 0,04%, aos 33.997 pontos

Dólar: -0,04%, a R$ 5,0353

Petróleo 

Brent: 0,28%, a US$ 89,90 por barril

WTI: 0,21%, a US$ 85,44 por barril

Minério de ferro: 0,04%, a US$ 117,30 por tonelada na bolsa de Dalian (China)

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