Continua após publicidade

É hora de abrir uma gelada pelas ações da Ambev?

Depois de ser bem avaliada em relatório do Credit Suisse, a cervejeira teve um dia positivo na bolsa. Ibov fechou em leve alta.

Por Monique Lima, Tássia Kastner
12 jan 2021, 19h27

Tem ações da Ambev na sua carteira de investimentos? Então pega uma gelada aí para comemorar a alta de hoje. Motivo: o alcance de distribuição “incomparável” da fabricante, segundo o Credit Suisse. 

Pelo terceiro ano, o banco produziu um relatório chamado Touring the Brazil beer market (Visitando o mercado cervejeiro do Brasil, em tradução livre e significado literal), em que uma equipe do banco vai a bares em busca dos rótulos das grandes cervejarias do país. Nessa excursão, constataram que havia Ambev em 98% deles, um ganho de dois pontos percentuais em relação aos dois relatórios anteriores. 

Isso, em uma amostra de 302 bares, localizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória da Conquista, na Bahia. Segundo o banco, trata-se de um recorte representativo, ainda que o Brasil tenha algo em torno de 500 mil bares. 

O sistema de logística da cervejeira brasileira é bastante superior ao da sua concorrente holandesa, Heineken, que segundo o relatório, apresentou uma disponibilidade de 78% — abaixo dos 85% do ano anterior. O problema, de acordo com o Credit Suisse, está ainda nas fábricas, o que torna mais difícil a chegada aos estabelecimentos.

Foi uma excelente notícia para a Ambev, que passa por uma tempestade perfeita desde que o coronavírus se instalou pelo mundo.

Comecemos pela chuva no Carnaval — do ano passado, claro, neste as festas estão oficialmente canceladas (extraoficialmente, só o país dirá). A cervejeira teve a fascinante ideia de contratar uma empresa para evitar as chuvas em São Paulo. Pois bem, a tentativa de “levar a chuva” para fora da região central da cidade tinha um motivo bastante óbvio: garantir a permanência dos foliões nos blocos e, consequentemente, a venda de mais cervejas. 

Continua após a publicidade

Momentos desesperadores exigem medidas drásticas: o Carnaval corresponde a 10% do faturamento anual da empresa e o climatempo não estava ajudando.

Mas não funcionou, claro. Choveu muito, as temperaturas ficaram amenas e a arrecadação não chegou ao esperado. Passado fevereiro e chegado março, junto com o coronavírus, a fabricante viu suas vendas despencarem 11,5% no primeiro trimestre de 2020. E o lucro, queda livre de 56%. 

Daí para frente, só piora: pandemia, quarentena, fechamento dos bares, diminuição na produção de insumos para a cerveja e também para as latinhas. Além da crise econômica que diminuiu o poder de compra dos brasileiros e a vontade de tomar uma gelada em casa (o negócio mesmo foi o vinho).

No final do ano, a cotação das ações da empresa no Ibovespa fechou no negativo de 15,64%. Começou 2020 valendo R$ 18,67 e terminou em R$ 15,75. Era de se esperar, mas dá para traduzir em números. 

O lucro líquido do terceiro trimestre (apresentado no final de outubro, o dado mais recente), indicou uma queda de 9% nos valores arrecadados em relação ao mesmo período de 2019, de R$ 2,5 bilhões para R$ 2,2 bi. O balanço final de 2020 deve sair entre fevereiro e março.

Continua após a publicidade

E, para 2021, o cenário não é muito melhor. 

Ele iniciou com a proibição de festas e novas medidas de isolamento social para conter o avanço do vírus, também já abarca o cancelamento do carnaval na data regular e a dificuldade de aprovar uma vacina — o que posterga a liberação de todos os fatores anteriores. 

Não só, talvez o maior desafio da cervejeira em 2021 não seja nenhum desses, mas sim outro: o bolso dos consumidores. 

Mas por hoje, o saldo é bom. A logística “incomparável” rendeu uma alta de 4,35% nos papéis da empresa. Nesse breve acumulado do ano, 7,73%, mas ainda faltam 10% para recuperar os R$ 18,87 do pré-crise.

Com essa alta, a companhia quase figurou no top five de alta do Ibovespa no dia. O índice superou as bolsas gringas e retomou a alta, mesmo sem um motivo muito forte para subir. Fechou aos 123.998 pontos, com subida de 0,60%. 

Continua após a publicidade

Alguns analistas afirmaram que estrangeiros estavam apostando em Petrobras e bancos. Mas tem uma outra explicação do que pode ter acontecido: a combinação da inflação com os juros do país.

Pela manhã, o IBGE divulgou que o IPCA (a inflação oficial do país) fechou 2020 em 4,52%, o que é acima de 4% do ano. Era mais ou menos dentro do esperado, depois que os preços dos alimentos dispararam. Aí que os economistas agora estão divididos sobre o que o Banco Central deveria fazer com a taxa Selic, atualmente em 2% ao ano. 

Subir a Selic para deixar o dinheiro mais caro e reequilibrar preços (e arriscar desacelerar a economia em plena segunda onda de Covid) ou manter assim e arriscar um descontrole da inflação.

Só que o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou que a alta da inflação é temporária, tá tudo certo e não tem mudança de expectativa para a Selic. Isso significa, no consenso do mercado, que os juros começam a avançar a partir do segundo semestre. Enquanto ele falava, no final da manhã, o Ibovespa acelerava a alta.

E o que isso tem a ver com a bolsa? Tudo. 

Continua após a publicidade

É que a combinação de juro a 2% e Selic a 4% deixa o Brasil com o pé bem firme nos juros negativos. Significa colocar dinheiro na poupança para perder. E ninguém gosta de perder dinheiro. Foi isso que fez a bolsa amealhar 80% mais investidores em 2020 e deve continuar amealhando outros em 2021. A vontade de ver o dinheiro render. 

Lá fora, o noticiário segue o mesmo: a preocupação com o avanço do coronavírus, a instabilidade política com a possibilidade de impeachment do Trump, a posse do Biden e o risco de que ocorram atos violentos como o do Capitólio durante a cerimônia.

No final do dia, a expectativa com o democrata e seus estímulos fiscais predominou e levou a desvalorização do dólar ante as principais moedas do mundo. Ajudou a dar um alívio para o real. Só hoje, a queda foi de 3,29% e chegou na cotação de R$ 5,32 — ontem havia fechado acima de R$ 5.50.

As bolsas passaram a maior parte do dia no vermelho, mas conseguiram o respiro. Fecharam assim: S&P 500 subiu 0,04% e a Nasdaq 0,28%.

Num dia morno como esse, só nos resta abrir aquela cervejinha e esperar por dias mais animados. RIP Carnaval 2021. 

Continua após a publicidade

 

MAIORES ALTAS 

Embraer: 7,90%

Carrefour: 6,05%

Rumo: 5,29%

Cyrela: 4,93%

Natura: 4,81%

 

MAIORES BAIXAS 

Copel: -3,23%

Gerdau: -2,76%

Notredame: -2,74%

Vale: -2,74%

Hapvida: -2,64%

 

Petróleo

Brent: 1,65%, a US$ 56,58 o barril

WTI: 1,83%, a US$ 53,21 o barril

Publicidade