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Dólar volta a R$ 5. O que explica a queda livre?

No ano, a moeda americana cai 10,2%. Entenda os motivos e descubra se dá para sonhar com um abraço do Mickey.

Por Bruno Carbinatto, Tássia Kastner
23 fev 2022, 19h01

Hora de tirar a orelha do Mickey da gaveta? Para a felicidade dos amantes da Flórida – ou de quem está desesperado para voltar a viajar –, o dólar seguiu sua queda livre nesta quarta-feira e, quem diria, voltou ao patamar dos R$ 5 – a última vez que isso aconteceu foi lá em julho de 2021. Em alguns momentos, ele chegou a trocar de dígito e bater nos R$ 4,99, mas no fim fechou a R$ 5,0042.

Agora o dólar já vem caindo há um tempinho. Na virada do ano, ele era negociado a R$ 5,57. Isso significa uma queda de 10,2%. O surpreendente mesmo é que isso ocorre na contramão do resto do mundo. No acumulado do ano, a nossa moeda é a emergente que mais se valoriza ante as verdinhas americanas.

Hoje não foi diferente. O índice DXY, que mede a força do dólar perante a seus pares, subiu 0,17% com a crise geopolítica na Europa. No Brasil, porém, perdeu 0,95%.

A explicação para o movimento é clara: tem muito dólar entrando no Brasil, e quanto a oferta aumenta, o preço cai.

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Os motivos são vários, mas bem definidos. Um deles é a Selic, que já está em dois dígitos. A taxa de juros alta funciona como um ímã, atraindo investidores estrangeiros em busca de maior rentabilidade, especialmente quando no resto do mundo os juros seguem na lona.

E a Selic deve aumentar ainda mais: hoje está em 10,75% ao ano, mas a expectativa do mercado é que ela deva passar dos 12% em breve, com a inflação teimando em dar as caras por aqui. 

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O IPCA-15, espécie de prévia da inflação oficial, subiu a 0,99% em fevereiro, o maior para o mês desde 2016. O dado, divulgado hoje, também veio acima das expectativas do mercado financeiro, o que fez com que analistas redobrassem apostas de juros mais próximos de 13% ao ano.

Esse juro é tão alto que tem amenizado o medo das altas dos juros nos EUA. O Fed promete a primeira elevação para março, mas isso deve significar a “Selic” deles entre 0,25% e 0,5%, o que não é nada perto dos nossos dois dígitos.

Mas não só. Depois da sangria que foi 2021 para nossa bolsa, as ações brasileiras agora estão sendo consideradas ridiculamente baratas e voltaram ao radar dos investidores gringos. É o oposto do que ocorre nos EUA, onde o forte são (ou eram) ações com alto potencial de crescimento – as techs. 

Esses papéis tiveram nos últimos tempos um alto movimento de compra, mas agora são considerados caros, supervalorizados. E devem enfrentar um 2022 difícil, justamente porque a alta de juros anunciada pelo Fed machuca com mais força ações de tecnologia – e faz investidores procurarem alternativas em terras emergentes. Tanto que o índice Nasdaq, que reúne os papéis do setor, já acumula quase 17% de perdas no ano. O S&P 500, que também tem grande participação de ações tech, tomba 11% em 2022.

Aqui no Brasil, o trunfo são as ações de commodities, um setor consolidado que, ao contrário das techs, tem tudo para brilhar em 2022. Países ocidentais, com destaque para os EUA, estão investindo rios de dinheiro em infraestrutura para tirar suas economias do buraco no pós-pandemia. E a China, que sempre mandou e desmandou os preços das commodities, vai na contramão do mundo e vem reduzindo sua taxa de juros a fim de estimular a economia, o que significa maior demanda de basicamente tudo. 

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Foi nesse combo de gringos procurando alternativas de investimentos e encontrando os papéis ligados as commodities no Brasil que o dinheiro estrangeiro começou a entrar aos montes no país, derrubando o dólar e garantindo uma recuperação do Ibovespa (que se destaca entre as melhores bolsas do mundo nesse começo de ano, diga-se). Só em fevereiro, o fluxo de investimentos estrangeiros na B3 ultrapassa os R$ 24 bi.

Os papéis da Petrobras e Vale, duas gigantes do setor de commodities (e do Ibov), acumulam grandes ganho de 20% e 11% no ano, respectivamente. E, no top 5 das moedas com melhores performances até agora, temos, além do Brasil, outros quatro países exportadores de commodities: Chile, Peru, África do Sul e Colômbia.

O dinheiro deve seguir entrando por um tempo. Segundo o Banco Central, os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil foram de R$ 23,7 bilhões em janeiro. Para fevereiro, a estimativa do órgão é que entrem R$ 50 bilhões, o que seria o maior valor desde o início da série histórica, que começou em 1995. Com uma vantagem: esse é dinheiro de prazo mais longo, em investimentos, e não deve ir embora tão cedo. E isso é bom para manter o dólar pianinho. 

Sim, estão te deixando sonhar com um abraço do Pateta.

Ibovespa

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Mas a ajuda gringa não foi suficiente para garantir a alta nesta quarta-feira. O dia foi de aversão ao risco no mundo todo, com a crise na Ucrânia seguindo a todo vapor. Pela manhã, o mercado global até acordou otimista com as sanções brandas aplicadas contra a Rússia, mas o humor logo amargou e as bolsas pelo mundo viraram para o vermelho com o medo de uma guerra iminente.

O Ibovespa não resistiu e perdeu 0,78% hoje, se segurando por pouco aos 112 mil pontos. Em Nova York, a queda foi ainda mais acentuada: S&P 500 -1,84%, Nasdaq -2,57%.

Também em Nova York despencaram as ações do Nubank, negociadas na NYSE. Além de enfrentar o mau humor global, a fintech brasileira liberou seu primeiro balanço de resultados como empresa de capital aberto ontem, após o fechamento do pregão. 

Analistas chegaram a dizer que o prejuízo de US$ 66,2 milhões tinha vindo menor que o esperado. O que conta mesmo é como investidores reagiram: e foi mais tenso que o conflito Rússia x Ucrânia: -14,55%.

Até amanhã.

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Maiores altas

Eletrobras PNB (ELET6): 3,27%

Cemig (CMIG4): 2,28%

Eletrobras (ELET3): 2,14%

Taesa (TAEE11): 2,11%

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Pão de Açúcar (PCAR3): 1,92%

Maiores baixas

3R Petroleum (RRRP3): -12,49%

Banco Inter – Units (BIDI11): -12,12%

CVC (CVCB3): -6,31%

Suzano (SUZB3): -6,11%

Alpargatas (ALPA4):  -6,09%

Ibovespa: -0,78%, aos 112.007 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,84%, aos 4.225 pontos

Nasdaq: -2,57%, aos 13.037 pontos

Dow Jones: -1,38%, aos 33.132 ponto

Dólar: -0,95%, a R$ 5,0042

Petróleo

Brent: estável, a US$ 96,84

WTI: 0,21%, a US$ 92,10

Minério de ferro: 0,92%, a US$ 137,03 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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