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Dólar cai 1,82%, bolsa sobe 1,39%

Agradeça às commodities, que valorizam o real e bombam o Ibovespa. Dia só foi triste para quem tem a receita muito atrelada à moeda americana, e não vende produtos que passam por um ciclo de alta.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
28 abr 2021, 19h19

O pregão desta quarta-feira (28) começou emocionante. Um problema técnico causou um apagão no sistema e fez com que algumas ações ficassem desatualizadas. Isso atrapalhou o começo das negociações. Por uns 20 minutos, não deu para comprar os papéis de empresas como Qualicorp, Marfrig, Natura e Pão de Açúcar. 

Mas a B3 conseguiu resolver a falha e a instabilidade ficou só no sistema mesmo. A bolsa brasileira passou o dia no positivo, recuperou as perdas da terça-feira (quando caiu 1%) e ultrapassou o patamar dos 121 mil pontos. 

O desempenho positivo está ligado aos Estados Unidos. Hoje teve decisão do Federal Reserve, o banco central dos EUA, sobre sua política monetária. Para a surpresa de poucos, ou talvez de ninguém, o Fed sustentou a sua posição de manter os juros baixos –  entre 0% e 0,25% – e de permitir uma alta temporária da inflação.

Vale lembrar que a alta da inflação de março (0,6%) foi a maior desde agosto de 2012. E a taxa anualizada está em 2,6%, acima do teto da meta deles, de 2%. 

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que está otimista com a recuperação da atividade econômica, mas que ainda não é hora para uma discussão sobre retirada dos estímulos à economia americana – o Fed segue injetando US$ 120 bilhões em dinheiro novo no sistema bancário, para facilitar financiamentos. 

Queda do dólar

A decisão do banco resultou na queda dos juros dos Treasuries, os títulos públicos de longo prazo do governo americano. Os com vencimento em 10 anos, benchmark do mercado, passaram de 1,61% para 1,60%. 

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Perspectiva de juros baixos nos EUA por mais tempo fazem baixar o valor do dólar (parte do valor de uma moeda é ditada pelos juros que os títulos públicos emitidos nessa moeda pagam. Nisso, o dólar caiu 0,26% em relação ao euro e 0,19% em relação à libra, por exemplo.

Mas o tombo mesmo foi diante do real: queda de 1,82%, a R$ 5,36. 

Agradeça às commodities. Quando elas sobem, puxam a nossa moeda junto. Lembra do dólar a R$ 1,50, lá nos anos 00? Então: era um ciclo de alta dos produtos primários (minérios de ferro, soja, petróleo), que exportamos em quantidades nababescas. 

Petrobras e PetroRio

Comecemos pelo petróleo. Ontem, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) divulgou as suas previsões de recuperação na demanda global de combustível para o segundo semestre. 

A projeção é de que a procura deve avançar 6 milhões de bpd (barris de petróleo por dia) em 2021, depois de ter desabado 9,5 milhões de bpd no ano passado. 

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A expectativa positiva foi suficiente para aumentar o preço da matéria-prima. O tipo Brent, que é referência nos preços internacionais, subiu 1,27%; já o WTI, a referência no mercado americano, ampliou 1,46%. As petroleiras brasileiras gostaram: a PetroRio teve alta 2,43%. A Petrobras subiu 3,77%. 

Vale

O minério de ferro até caiu hoje (-1,43%). Mas o ciclo é, definitivamente, de alta. Ontem, a matéria prima do aço fechou o dia em recorde histórico, a US$ 195,31 a tonelada. De janeiro para cá, o preço subiu 18% – além de ter encerrado 2020 com alta de 74%. 

E quem melhor surfa nesse ciclo de alta do minério é, naturalmente, a Vale, maior produtora global da commodity. Os investidores ainda estão comemorando o lucro de R$ 30,5 bilhões que a empresa divulgou na segunda-feira (26); ontem, os papéis da Vale até atingiram a cotação recorde de R$ 110. E a alta continuou hoje: mais 1,91%.

Frigoríficos

As empresas com receita em dólar, e que vendem produtos que não passam necessariamente por um ciclo de alta (como o do minério) sofrem com a queda da moeda americana. É o caso dos frigoríficos. JBS (-6,17%) e Marfrig (-4,85%) estiveram entre as maiores baixas do dia – após semanas de altas significativas, vale lembrar, então também temos um movimento de realização de lucros aí. 

No caso da JBS, ainda há uma pressão extra, da ONG Anistia Internacional. A entidade reuniu 57 mil assinaturas de pessoas em 84 países que apoiam uma petição, lançada em julho do ano passado, que pede para que a JBS melhore o monitoramento da sua cadeia produtiva para eliminar fornecedores localizados em áreas de preservação ambiental na Amazônia.

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A companhia respondeu afirmando que sua política em relação ao desmatamento ilegal é de tolerância zero. Também iniciou, nesta semana, o cadastro dos produtores na Plataforma Pecuária Transparente, uma ferramenta que usa tecnologia blockchain para monitoramento de dados de fornecimento de gado. A meta é conseguir a adesão de todos os fornecedores ao programa até 2025. A Anistia Internacional, porém, considera o prazo muito longo. E a pressão continua. 

Enfim. A Suzano (-4,90%) e a Klabin (-3,21%), ambas da indústria de papel e celulose e com fortes receitas em dólar, também estiveram entre as grandes baixas. Saldo do dia: o Ibovespa subiu 1,39%, aos 121.052 pontos. 

Temporada de balanços

As ações do Santander dispararam 8,46% em resposta ao balanço do primeiro trimestre. A instituição registrou lucro de R$ 4,01 bilhões – 4,1% a mais do que o mesmo período de 2020. Acontece que o resultado veio acima das projeções dos analistas, que apontavam um ganho de R$ 3,8 bilhões. 

Isso impulsionou as demais ações do setor financeiro: Bradesco (5,10%) e Itaú (4,33%) seguiram de perto o banco espanhol. BTG Pactual (1,96%) e Banco do Brasil (1,78%) também registraram boas altas.

Já o balanço da Cielo suscitou uma reação oposta. Seu lucro nos três primeiros meses do ano foi de R$ 241,3 milhões, 44,6% maior que o do mesmo período do ano passado. O problema é que, quando excluídos efeitos não recorrentes, como a venda da Orizon e atualização monetária da plataforma Elo, o lucro foi de R$ 135,8 milhões – queda de 54,5% sobre o 4T20 e de 18,6% ante o primeiro trimestre do ano passado. Com isso, os papéis caíram 3,01%. 

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WEG

A fabricante de equipamentos WEG registrou lucro de R$ 764,2 milhões, o que representa uma alta de 73,7% quando comparado com os primeiros três meses de 2020 (quando o lucro foi de R$ 440 milhões). 

A empresa reportou uma melhora significativa na demanda do mercado internacional pelos chamados “equipamentos de ciclo longo” – ou seja, máquinas industriais pesadas e motores elétricos de grande porte. Isso indicaria uma forte recuperação na atividade econômica lá fora, o que seria extremamente positivo para os próximos trimestres da companhia.

O bom balanço, enfim, chegou a puxar uma alta de 3% nas ações da companhia no início do pregão. Mas a baixa no dólar (moeda que compõem boa parte da receita da empresa) mais a eterna percepção de que as ações dela estão caras demais (foram 111% só em 2020) jogaram aquele balde de água fria, e a WEG fechou em baixa de 1,22%. Ou seja: para os investidores da WEG, as emoções também duraram pouco. 

Maiores altas

Santander: 8,46%

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Cemig: 6%

Bradesco (BBDC4): 5,10%

Locamerica: 4,92%

Bradesco (BBDC3): 4,78%

Maiores baixas

JBS: -6,17%

Suzano: -4,90%

Marfrig:-4,85%

Klabin: -3,21%

Cielo: -3,01%

Ibovespa: 1,39%, aos 121.052 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,08%, aos 4.183 pontos

Nasdaq: -0,28%%, aos 14.051 pontos 

Dow Jones: -0,48%, aos 33.822 pontos 

Dólar: queda de 1,82%, a R$ 5,36

Petróleo

Brent: +1,27%, a US$ 67,27

WTI: +1,46%, a US$ 63,86

Minério de ferro: baixa de 1,43%, no porto de Qingdao (China)

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