Devagar aí: sem teto de gastos, Ibovespa cai
A bolsa voltou para o negativo depois de Brasília mostrar que não tem ideia do que será das reformas e das contas públicas.
Devagar com o andor que o santo é de barro, diz o ditado popular. Neste momento, o mercado financeiro reza para dois santos: o compromisso fiscal do governo e a agenda de reformas. E hoje foi dia de notícias desencontradas nos dois casos, dessas de fazer o santo balançar e ficar a perigo. Resultado: a bolsa caiu após quatro pregões de alta e deixou um pouquinho mais distante aquele plano de voltar para o azul no ano.
Foi no meio da tarde que o Ibovespa virou para o negativo. Foi quando a Agência Estado publicou que o relatório de uma Proposta de Emenda à Constituição, a chamada PEC Emergencial, de autoria do senador Márcio Bittar, estava se afastando demais do plano inicial do governo.
A PEC Emergencial, enviada para o Congresso em novembro de 2019 propunha medidas duras de controle de gastos em períodos de cofres vazios, como redução de jornada e salários do servidores, suspensão de reajustes e de concursos. O problema é que o texto que deve ir para debate no Congresso, após o relatório de Bittar, não tem essa redução de salários, nem as outras medidas, como desvinculação e a desindexação. Em português, a arrecação de impostos ter destino certo (como saúde e educação) e as despesas serem reajustadas pela inflação. Tem mais: há espaço para gastos fora do tal do teto, aprovado no governo Temer.
Se já parece ruim o suficiente para o mercado financeiro, acrescente a isso o fato de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não sabia o que estava acontecendo com a sua proposta de reforma. O caos.
Depois que a bagunça tava feita, Guedes afirmou que conversou com Bittar, com Bolsonaro e também com o senador Tasso Jereissati (porque ele propôs hoje o substituto do Bolsa Família que o Executivo prometeu e nunca entregou). Os três teriam negado o furo no teto de gastos, disse o ministro da Economia.
Esse é só um dos complicadores da agenda de reformas. Não dá para esquecer que o Congresso está em plena campanha para eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre bem que tentaram dar um drible na Constituição para uma reeleição, mas o Supremo acabou barrando, depois de alguma pressão pública.
Isso criou mais uma dor de cabeça para o Planalto, que até queria ver Alcolumbre mais um tempo no controle do Senado, mas ansiava pela saída de Maia da Câmara.
Maia, por sinal, diz que não quer saber de eleição por enquanto. Quer é discutir a Reforma Tributária. Aí entra a briga política de novo. O governo Bolsonaro não quer deixar o adversário político colher os louros, caso de fato essa proposta avance. E tudo sem que o Congresso tenha aprovado o básico: o Orçamento de 2021.
Investidores andavam fingindo que o(s) problema(s) não existe(m) porque ganharam uma forcinha do exterior. Os gringos voltaram a trazer dinheiro para o Brasil, o que ajudou na arrancada do Ibovespa de novembro para cá.
Só que nesta segunda os índices S&P 500 e Dow Jones tiveram um dia desses meia-boca. Com tanta notícia desencontrada no Brasil, seria estranho mesmo que o Ibov fechasse no azul. Ele terminou o dia em baixa de 0,14%, a 113.589 pontos. O dólar, que começou o dia em forte queda e chegou a ser negociado a R$ 5,08, voltou a R$ 5,12 (ainda em queda de -0,09%, na comparação com a sexta-feira).
Hoje não deu nem para se apegar a notícias sobre a vacina. No exterior, sem novidades. Por aqui, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou o começo da vacinação para 25 de janeiro — sem aprovação da Anvisa e sem os resultados da terceira fase de testes, é bom lembrar.
Como terminou o dia? “Boa sorte a quem fixa dia e mês para vacina.” É bom escolher mais um santo.
MAIORES ALTAS
MAIORES QUEDAS
Bolsas americanas
Dow Jones: -0,49%, 30.069 pontos
S&P 500: -0,19%, 3.692 pontos
Nasdaq: +0,45%, 12.520 pontos
Petróleo
Brent: -0,93%, US$ 48,79
WTI: -1,08%, US$ 45,76