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Decepção no mercado de trabalho dos EUA e risco fiscal por aqui afundam Ibovespa

Abertura de vagas de emprego bem menor do que o projetado nos Estados Unidos desanimou os investidores, que já não estavam felizes com o desgoverno aqui no Brasil.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 4 ago 2021, 18h41 - Publicado em 4 ago 2021, 18h29

Nos últimos dois dias, o Ibovespa até que se segurou – mesmo com o furacão do risco fiscal rondando a economia. Hoje uma parte dessa conta chegou. 

A bolsa brasileira caiu 1,44%, para a casa dos 121 mil pontos. Tudo começou com a decepção do mercado com o último relatório da ADP (empresa que administra as folhas de pagamentos de boa parte das companhias americanas). O setor privado de lá abriu só metade das vagas de emprego previstas para julho. Foram 330 mil postos de trabalho, ante os 653 mil projetados por um levantamento do The Wall Street Journal junto a vários economistas 

Essa foi a menor geração de empregos nos EUA desde fevereiro – vale destacar que o país está enfrentando uma onda da variante Delta e aumento das hospitalizações. Para piorar, os dados de junho foram revisados de 692 mil para 680 mil.

O relatório de criação de empregos no setor privado da ADP é considerado um termômetro para os dados do payroll, que incluem as vagas do setor público e serão divulgados pelo Departamento do Trabalho dos EUA na sexta-feira (06). 

Caso o payroll também fique aquém das expectativas, o mercado pode interpretar isso como um sinal de que o Federal Reserve manterá sua política monetária de juros próximos de zero e compras de ativos por mais tempo – o que, ironicamente, faria as bolsas subirem, mesmo com a economia mancando. 

Hoje, inclusive, teve declarações do vice-presidente do Fed, Richard Clarida. Ele disse que ainda está longe para considerar um aumento nas taxas de juros e que isso só deve acontecer no final de 2022.  

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Isso tudo deixou os índices lá em Wall Street cada um para um lado. O S&P 500 encerrou o pregão com queda de 0,46%, aos 4.402 pontos. Já o Nasdaq conseguiu se recuperar ao longo do dia e subiu 0,13%, aos 14.780 pontos. 

Clima de aversão

Por aqui, o Ibovespa espelhou o mercado internacional e passou o dia no vermelho. Mas também não dá para colocar toda a culpa em Wall Street. 

O fato é que os investidores ainda não esqueceram da sugestão de semi-calote do ministro Paulo Guedes no pagamento dos precatórios e a possibilidade de essa pedalada ser usada para bancar um Bolsa Família mais robusto – o que significa zonear as contas públicas em nome de uma medida eleitoreira (coisa que nem o mercado nem o bom senso toleram). 

Jair Bolsonaro voltou a insistir no valor de R$ 400. Durante uma entrevista à Rádio 96 FM de Natal, o presidente disse que o benefício terá um valor médio de, no mínimo, R$ 300; podendo chegar a R$ 400. Pois é. 

O presidente da Câmara, Arthur Lira, tentou (duas vezes) tranquilizar os ânimos, igual tinha feito ontem: durante uma entrevista à Rádio Bandeirantes e outra à CNN,reiterou que não vai rolar calote e que o Bolsa Família não vai furar o teto de gastos. A ver. 

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Petrobras e PetroRio

Ainda de olho nas eleições de 2022, Bolsonaro voltou a afirmar que a Petrobras poderia usar um fundo de R$ 3 bilhões para financiar a criação do vale-gás, que prevê a doação de um botijão a famílias do Bolsa Família a cada dois meses. Imagina a FELICIDADE dos acionistas da Petro. Queda de 2,12% hoje.

A culpa aí, não foi só projeto presidencial de usar o caixa da estatal para algo que não trará nada de positivo para a estatal. A questão é que o petróleo caiu 3% hoje, dada as preocupações com a variante delta – que pode dar início a uma nova onda de isolamento e restrições de locomoção mundo afora. Com isso, a PetroRio tombou também: -3,55%.

Gerdau

Quem também ganhou destaque foi a Gerdau. A empresa registrou lucro recorde de R$ 3,93 bilhões no segundo trimestre, um salto de 1.149% ante mesmo período de 2020. O Ebitda (que é o lucro antes de juros, impostos e outras baixas contábeis, e dá uma ideia mais clara da solidez de um resultado) foi de R$ 5,897 bilhões – um avanço de 348%. Nada mau. 

Claro, 2020 foi um ano atípico para a economia. No segundo trimestre do ano passado, a companhia teve queda de 15% no lucro quando comparado com 2019. Na época, o lucro foi de R$ 315 milhões, contra R$ 373 milhões. Mesmo assim, estamos falando de uma alta de 953% em relação aos números de 2019, quando a palavra “pandemia” ainda era algo mais relacionado à peste bubônica do século 13. 

Era motivo para uma bela alta? Era. Mas não rolou. As ações ficaram estáveis (0,19%).  

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Bradesco

O bancão apresentou um balanço bem positivo: R$ 6,3 bilhões de lucro  – 63% acima do 2T20. Mesmo assim as ações desabaram: 4%, maior queda do dia. 

O que aconteceu??

Bom, de um lado, o mercado esperava um pouco mais. Os R$ 6,3 bilhões representam uma queda de 3% em relação ao primeiro trimestre deste ano. De outro, o setor de seguros, que tradicionalmente responde por um terço dos ganhos do Bradescão, decepcionou: queda de 58% em relação ao 2T20, e de 49% na comparação com o trimestre passado.

Em entrevista ao Valor, o presidente do banco, Octávio de Lazari Jr, disse que a queda veio por um fator não recorrente: o crescimento dos gastos relacionados à Covid – com mais internações e exames de segurados neste trimestre do que no início no ano (e no 2T20). 

A expectativa de Lazari, então, é que os números voltem ao normal com o arrefecimento da pandemia. Antes disso, porém, é preciso combinar com a variante delta. Algo nos diz que, se ela está neste momento criando novos problemas lá fora, a questão não é de SE isso vai acontecer por aqui. É de QUANDO. 

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Até quinta.

 

 

Maiores altas

Usiminas: 4,65%

Klabin: 2,04%

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CSN: 1,58%

Natura: 1,25%

Eneva: 1,01%

Maiores baixas

Bradesco (PN): -4,36%

Cosan: -4,06%

Bradesco (ON): -3,53%

Locamerica: -3,50%

PetroRio: -3,35%

Ibovespa: queda de 1,44%, aos 121.801 pontos

Em NY:

S&P 500: queda de 0,46%, aos 4.402 pontos

Nasdaq: alta de 0,13%, aos 14.780 pontos 

Dow Jones: queda de 0,92%, aos 34.793 pontos 

Dólar: queda de 0,13%, a R$ 5,1858

Petróleo

Brent: queda de 2,80%, a US$ 70,38

WTI: queda de 3,42%, a US$ 68,15

Minério de ferro: queda de 0,53%, US$ 183,69 no porto de Qingdao (China)

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