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Conversas sobre privatização fazem a Petrobras disparar 6,8%

Medida precisaria da aprovação do Congresso, mas a discussão entre governo e parlamentares já teria começado. Lá fora, Tesla se torna a número um na Europa e passa a valer mais de US$ 1 trilhão.

Por Alexandre Versignassi
25 out 2021, 18h14

Após desabar 7,3% na semana passada, o Ibovespa teve um dia de recuperação: alta de 2,28%. A subida foi generalizada, com quase metade das 91 ações que compõem o índice apresentando altas de mais de 2%. Ou seja: o mercado entendeu que o desconto dos últimos cinco dias úteis colocou as ações brasileiras a preço de Black Friday, e saiu para as compras.

Mas houve um grande destaque mesmo assim, e de proporções históricas: a Petrobras disparou 6,84% depois da notícia, dada pela CNN, de que o governo leva a sério a ideia de privatizar a estatal. Horas antes, Bolsonaro havia dito numa entrevista para uma rádio mineira que “a privatização da Petrobras está no radar”.

A Petrobras é composta por 13 bilhões de ações. 5,6 bilhões são preferenciais (PETR4, que dá direito, em tese, a uma parcela maior dos dividendos); 7,4 bilhões são as ordinárias, que dão direito a voto. A união detém 50,26% das ordinárias, o que lhe faz a dona da companhia. Privatizar a companhia significaria vender essa fatia no mercado. A preços de hoje, isso significaria R$ 109 bilhões para os cofres do governo – mais do que o bastante para bancar o Auxílio Brasil de R$ 400 por um bom tempo. 

Com a eventual venda viria um bônus um ônus bem claro. O bônus seria tirar o peso político dos aumentos nos preços de combustíveis das costas do governo – o fator que motivou Bolsonaro a começar as conversas sobre privatização. O ônus, porém, não é pequeno: a Petrobras tem um peso simbólico no imaginário nacional. 

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A ideia de que ela é um “patrimônio do povo brasileiro” é bem arraigada, tanto entre a esquerda como entre a direita – a exceção aí são os liberais, como Paulo Guedes que defendem a privatização sob qualquer circunstância. Mas o Congresso, que precisaria aprovar a venda, não é exatamente o lar do liberalismo. Boa parte dos deputados e senadores consideraria a “entrega” da Petrobras à iniciativa privada uma mancha em sua biografia.    

Outra questão é: faria sentido o Estado entregar um monopólio a um agente privado? O próprio Bolsonaro levantou a questão: “privatizar qualquer empresa não é como alguns pensam, que é pegar a empresa botar na prateleira e amanhã quem der mais leva embora. É uma complicação enorme. Ainda mais quando se fala em combustível. Se você tirar do monopólio do Estado, que existe, e botar no monopólio de uma pessoa particular, fica a mesma coisa ou talvez até pior”.

O monopólio da Petrobras na distribuição de combustíveis não é garantido por lei. Quem quiser montar uma refinaria e vender combustíveis pode. Mas ninguém faz isso, já que a Petrobras é dona de 98% da capacidade de refino do país. Não dá para competir com ela. Esse é o monopólio que deixaria de ser do Estado, e passaria a uma Petrobras privatizada. De fato: isso poderia significar qualquer coisa, menos gasolina e diesel mais barato – algo que só teria como nascer a partir de um ambiente de competição, que não existe. 

O projeto de privatização que o governo discute, de acordo com a CNN, envolve a ideia de transformar a Petro numa “corporation” – uma companhia cujo controle é diluído, sem um “dono”. É o que acontece com Apple, por exemplo: os maiores acionistas lá não têm mais do que 6% da empresa. Isso, porém, não faria a menor diferença na parte do monopólio. A Petrobras ainda o teria de um jeito ou de outro. 

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O governo também manteria uma “golden share” – ou seja: poder de veto sobre decisões estratégicas. Se os novos acionistas decidissem vender suas participações para uma Shell da vida, o governo poderia vetar. É o que acontece na Embraer – uma “corporation” na qual o governo detém poderes de veto. A união também teria o poder de indicar o/a presidente da companhia (o que não acontece no caso da Embraer). 

Bom, se por aqui é uma petroleira quem agita o mercado, lá fora é basicamente o oposto, uma empresa de carros elétricos.

Tesla: 1,02 trilhão

A Tesla subiu 12% hoje na Nasdaq, na esteira de duas notícias extremamente positivas: a Hertz, empresa de locação de carros, encomendou 100 mil veículos da companhia de Elon Musk. O número em si não é um abuso: a Tesla já vende 240 mil carros por mês. Mas ele indica o início de uma corrida das empresas de locação rumo à eletrificação de suas frotas. E isso faz toda a diferença. 

A outra notícia veio da Europa: o Tesla Model 3, veículo menos caro da Tesla (R$ 230 mil lá fora) se tornou o carro mais vendido no continente no mês passado. Foram 25 mil unidades – bem à frente do segundo colocado, o Renault Clio, que vendeu 18 mil. 

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Com a alta de hoje, cada ação da Tesla passou de US$ 1.000. Com a empresa é composta por 1 bilhão de ações, é só fazer as contas: 1.000 X 1.000.000.000 = 1 trilhão. Esse é o novo valor de mercado da companhia, que agora ingressa no clube das empresas trilionárias dos EUA. Apple, Amazon e Alphabet (a controladora do Google) completam o time – o Facebook segue de perto, com US$ 926 bilhões em valor de mercado. 

O que dá para fazer com US$ 1 trilhão? Bom, dá para comprar 15 Petrobras. 

Boa semana.  

Maiores altas

Petrobras (PETR4): 6,84%
CVC (CVCB3): 6,14%
Petrobras (PETR3): 6,13%
Iguatemi (IGTA3): 5,63%
Ecorodovias (ECOR3): 5,31%

Maiores baixas

Suzano (SUZB3): -2,52%
Yduqs (YDUQ3): -1,32%
BRF (BRFS3): -1,27%
Marfrig (MRFG3): -1,19%
Magalu (MGLU3): -0,64%

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Ibovespa: 2,28%, a 108.714 pontos

Nova York

Dow Jones: 0,18 %, a 35.741 pontos
S&P 500: 0,47%, a 4.566 pontos
Nasdaq: 0,90%, a 15.226 pontos

Dólar: -1,27%, a R$ 5,5557

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Petróleo 

Brent: 0,54%, a US$ 85,99
WTI: 0%, a US$ 83,76

Minério de ferro: 0,37%, a US$ 119,08 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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