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Controle da inflação pela dor

Brasília discute suspender reajustes em contas de luz. Medida equivale a congelamento de preços e pode representar nova quebra de contrato.

Por Tássia Kastner
18 Maio 2022, 08h19

Na terça-feira, Jerome Powell, o presidente do Fed, afirmou que poderá haver alguma dor envolvida no processo de controle da inflação. Traduzindo: a desaceleração econômica será inevitável, o foco é evitar um aumento significativo no desemprego, o efeito colateral do processo.

A dor de cabeça é global. Na Inglaterra, a inflação saltou a 9% ao ano – e agora também é a maior alta de preços em quarenta anos. O Banco da Inglaterra (o BC deles) prevê inflação de dois dígitos em outubro, quando deve haver reajustes nos preços de energia.

A história se repete por todos os lados. Também no Brasil. Por aqui, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, pressiona para que reajustes nas tarifas de energia elétrica sejam suspensos. O objetivo é diminuir o estrago político que o aumento na conta de luz causará na inflação e, por consequência, nas eleições de outubro.

Já foram concedidos reajustes a empresas que operam no Ceará, na Bahia e no Rio Grande do Norte. A medida poderia ser aplicada a todas as concessionárias do país.

Barrar reajustes programados nas tarifas, e previstos em contrato, equivale a um congelamento de preços. Nunca na história da humanidade uma medida como essas serviu para conter a inflação. Pelo contrário: congelamento de preços realimenta a inflação. Se uma empresa não obtém o retorno esperado com um negócio, ela simplesmente desiste e vai fazer outra coisa. O estrago é de longo prazo. A gente explicou aqui.

E que travar os aumentos significa ainda quebrar contratos com as distribuidoras de energia, péssimo para um país que se diz interessado em promover crescimento econômico à base de investimentos do setor privado.

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A estratégia é manjada. A última vez que o governo interveio no setor foi no governo Dilma, no começo da década passada. Foi na mesma época do controle de preços na Petrobras,  e o objetivo era o mesmo. Evitar o estrago que a inflação alta causa na popularidade dos governantes. 

O problema é que uma hora ou outra a represa precisa ser aberta. Quando isso aconteceu, os preços estouraram e foram para acima de 10% ao ano. Hoje, o IPCA em 12 meses está ainda mais alto, em 12,13%. Você sabe, não existe a possibilidade de uma mesma ação gerar resultados diferentes.

Enquanto isso, investidores olham para o outro lado. O Ibovespa tem cinco altas seguidas na conta. Nesta quarta, o viés lá de fora voltou a ser negativo, isso após a forte subida nos índices ontem. 

Bons negócios.

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Humorômetro - dia com tendência de baixa

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Agenda

9h Roberto Campos Neto participa da abertura de evento da Petrobras e do BB sobre mercado de carbono. Paulo Guedes participa do mesmo evento às 11h. 

14h30 TCU deve decidir se dá aval à privatização da Eletrobras

 

market facts

Pressa

O TCU decide hoje se libera ou não a privatização da Eletrobras, e sob quais condições. A ideia é que seja fixado um preço mínimo. O presidente da companhia, Rodrigo Limp, quer que a privatização saia “no menor prazo possível”, como disse à Folha. O governo pretende vender novas ações da Eletrobras, e assim diminuir a sua fatia na empresa. O problema é que o cenário atual não é favorável para ofertas de ações. As bolsas atravessam período de alta volatilidade por causa da alta de juros nos Estados Unidos. E justamente o juro maior deixa investidores menos dispostos a apostas arriscadas. Ainda assim, as ações da Eletrobras (ELETR6) acumulam alta de 30% na bolsa neste ano.

 

Vale a pena ler:

Cheque em branco – e voador

Os IPOs de empresas “cheque em branco” foram como um furacão no mercado americano – e chegaram a superar os IPOs tradicionais. A ideia de um IPO do cheque em branco é captar dinheiro com investidores e listar uma empresa “fantasma” na bolsa. Depois, a pessoa que coletou o dinheiro vai atrás de uma companhia para comprar. A Eve, a empresa de carros voadores da Embraer, entrou na bolsa americana depois de ter uma participação comprada por uma SPAC. O problema é que nem sempre sai como esperado. Esta reportagem da Bloomberg, reproduzida pelo Valor, conta a história de Denis Sverdlov. Ele saiu da lista de bilionários da Bloomberg depois que sua empresa de carros elétricos se fundiu com uma SPAC. 

 

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