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Por que o congelamento de preços gera mais inflação?

Não tem erro: impôs congelamento, começa a faltar produto. Com menos coisas à venda, o preço daquilo que estiver disponível dispara. Entenda.

Por Alexandre Versignassi
11 fev 2022, 07h10

Porque não tem erro: impôs congelamento, começa a faltar produto. Com menos coisas à venda, o preço daquilo que estiver à venda entra em leilão. Sobe. A ideia de impor preços máximos por decreto tende a parecer sedutora. Afinal, inflação é um fenômeno que você percebe no supermercado, na concessionária, na imobiliária. E o pessoal parece subir os preços por ganância. Então por que não proibir de uma vez os aumentos e pronto?

É o que pensava o sujeito que fez este discurso aqui: “Se os excessos perpetrados por gananciosos tivesse um freio; se essa avareza por lucrar sem pensar na humanidade tivesse um freio… Daria para enfrentarmos a situação em silêncio. Mas o desejo desses loucos descontrolados vai contra a necessidade pública,” Os “loucos” aí eram todas as pessoas que vendiam coisas – fossem bens ou serviços. E o autor é Diocleciano, imperador romano entre 284 d.C. e 305 d.C.

Diocleciano, então, pede gentilmente: “Seria um prazer se os preços desta tabela aqui fossem observados em todo o Império.” A tabela estabelecia preços máximos para 900 mercadorias (cerveja, cevada, sapatos, túnicas…) e 130 serviços (pedreiro, professor, carregador de água…). Para quem não concordasse era pena de morte.

E aí vem um problema. Num cenário de inflação, preços não sobem em uníssono. Algumas coisas ficam mais caras antes. Se o preço da cevada tivesse subido logo antes do congelamento, os fabricantes romanos de cerveja teriam de pagar mais caro pela matéria-prima, sem ter como embutir esse aumento no preço do suco de cevadis. Uma hora não valeria mais a pena fabricar. Não se sabe se aconteceu exatamente isso. Mas é inevitável que tenha rolado em diversas áreas da economia.

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Para sobreviver, alguns produtores passam a vender mais caro por baixo dos panos. Como havia uma (severa) punição para quem fosse pego, o ganho precisava compensar o risco. E os preços subiam mais ainda. Por conta disso, o congelamento romano deu em água em questão de meses. 

Mesmo assim, ainda houve quem tentasse coisa igual quase dois mil anos mais tarde: o Brasil. Em fevereiro de 1986, o então presidente José Sarney baixou um congelamento para estancar a inflação da época, que tinha batido em 285% ao ano. Não deu outra. Começou a faltar cerveja no supermercado, picanha no açougue, carro na concessionária. A inflação oficial foi a zero, mas a do mercado paralelo seguia rampante. E nove meses depois o governo se viu forçado a acabar com a palhaçada. E o Brasil só se livraria da hiperinflação oito anos mais tarde, com o Plano Real – sem congelamento.

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(Arte/VOCÊ S/A)
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