China torna o bitcoin ilegal – e mesmo assim a cripto se segura
Queda de 5% é um cisco diante da magnitude do evento. Mas isso não significa que o bitcoin tenha um futuro tranquilo no resto do mundo.

A China já tinha desferido uma pancada myke-tysoneana no bitcoin lá atrás, em setembro de 2017. Foi quando o governo proibiu as exchanges (corretoras) de cripto por lá, numa época em que elas dominavam 80% desse mercado no mundo. E não adiantou.
Em setembro de 2017, o bitcoin estava cotado a US$ 4 mil. Um mês depois do banimento das exchanges chinesas, ele entrou em disparada – chegaria a US$ 19 mil em dezembro.
A China, sem querer, tinha ajudado o bitcoin. As grandes exchanges chinesas simplesmente saíram do país. A maior delas, a Binance, se mudou para as Ilhas Cayman. Era uma amostra firme de resiliência, que ajudou o bitcoin a chegar onde está hoje: US$ 40 mil a unidade.
A medida de agora é mais severa. O governo chinês anunciou hoje que qualquer operação envolvendo bitcoin agora é ilegal no país, e que vai fechar o cerco sobre os cidadãos que se atreverem a usar exchanges extrangeiras.
Coisas de uma ditadura: não há “debate público”, votação, articulista xingando. Nada. O governo falou, tá falado. Os incomodados que se mudem.
Mesmo assim, o bitcoin se segurou bem. Caiu meros 5%. Pouco para algo que acaba de ser tornado tão ilegal quanto uma droga de alta potência na segunda maior economia do mundo.
Isso não significa, porém, que o bitcoin vai sair dessa fortalecido de novo, depois que a poeira baixar. A China não persegue o bitcoin porque é “má”. Nenhum governo do planeta está disposto a perder o controle sobre o dinheiro que circula em seu território (com a exceção de El Salvador, que tornou o bitcoin uma “moeda oficial” do país, numa jogada de marketing só possível para nações nanicas, que já são obrigadas a tolerar dinheiro de outros países circulado como moeda corrente).
O bitcoin circula livremente nas democracias porque ainda é um brinquedo. Um brinquedo que vale quase US$ 1 trilhão (se você somar o valor de todos os 18,8 milhões de BTCs em circulação). Coloque mais US$ 1 tri se você somar o valor de mercado das outras 87 criptomoedas com “valor de mercado” de US$ 1 bilhão ou mais.
Bom, no dia em que o bitcoin ou alguma outra cripto de fato ameaçar a moeda oficial de algum país relevante, significa que o governo perdeu o poder sobre a política econômica. De nada adiantará, por exemplo, baixar os juros para estimular a economia – como o Brasil fez em 2020, e os EUA seguem fazendo. Se o grande meio circulante for o bitcoin, danou-se, porque o governo não terá impressoras de bitcoin.
E não importa o quão livre um país seja. Duas coisas sempre serão prerrogativas do Estado em países sérios. Uma é o monopólio sobre o uso da violência. Outra é o controle sobre a própria moeda. E apostar no fim desse staus quo é, para dizer o mínimo, uma temeridade.
Quem defende a cripto – ou as criptos – diz que o lance delas não é ser moeda circulante. É ser “reserva de valor”.
Perdão, pessoal: a razão de ser uma moeda, seja ela cripto ou não, é se tornar um meio universal de troca. Se a coisa tem o nome de “moeda” e não cumpre esse papel, essa coisa não é nada. Vale zero.
O bitcoin vale alguma coisa porque, ao longo de sua breve história, não faltou quem quisesse torná-la uma moeda de fato. O caso mais recente, e relevante, foi o de Elon Musk, quando ele disse que aceitaria bitcoins em troca de carros de sua Tesla – ideia da qual ele voltou atrás, como tantos outros empresários antes dele (não é simples aceitar como moeda algo cujo valor flutuou entre US$ 4 mil e US$ 70 mil nos últimos três anos – seu balanço vira uma zona, para início de conversa).
O futuro do bitcoin é incerto. Já o da imensa maioria outras criptos é bem certeiro. Boa parte delas tende a deixar de existir. Quem acha que não é uma bolha o fato de 88 criptos, fora o bitcoin, possuírem mais de US$ 1 bilhão em valor de mercado, precisa rever seu conceito de “bolha”. Até por isso as outras criptos com alguma popularidade (ethereum, XRP, Solana, Binance Coin) tiveram quedas mais expressivas hoje, perto de 10%.
Maior inflação desde 1994
De resto, este foi um dia morno para o mercado internacional, com as bolsas americanas andando de lado e fechando basicamente nas mesmas cotações de ontem.
Por aqui, foi diferente. O IPCA-15 (prévia da inflação para o mês) veio em grossos 1,14%, superando a mediana das expectativas (1,02%). É a maior inflação para um mês de setembro desde o início do plano real, em 1994 (1,63%). Na comparação com qualquer outro mês, essa é a mais alta desde fevereiro de 2016 (1,42%).
Nisso, não deu outra: queda de 0,69% no ibovespa.
Gasolina e energia elétrica responderam, juntas, por 0,34 pontos percentuais. Essa é uma boa notícia. Em condições normais de temperatura e pressão, esses aumentos tendem a ceder (com uma eventual baixa do barril e a eventual volta da chuva).
O problema mesmo é outro: a inflação do setor de serviços saltou de 0,24% para 0,74%. Isso mostra que as altas rampantes nos juros não estão fazendo efeito sobre o setor mais importante da economia – e que não depende de sazonalidades externas, como o clima.
Isso pode ser, de fato, um sinal de descontrole. E abre portas para o pior dos mundos: aquele que conjuga inflação alta e juros altos (que barram o crescimento econômico). É o demônio da “estagflação”, que não víamos justamente desde 2016.
Se realmente entrarmos numa estagflação, melhor o Brasil desistir de vez e abraçar o bitcoin 🙁
Sextemos com essa.
Maiores altas
Minerva (BEEF3): 4,52%
PetroRio (PRIO3): 3,87%
JBS (JBSS3): 3,72%
Pão de Açúcar (PCAR3): 3,08%
BRF (BRFS3): 2,68%
Maiores baixas
Méliuz (CASH3): -7,08%
Americanas SA (AMER3): -3,75%
CSNA (CSNA3): -3,58%
Natura (NTCO3): -2,92%
Totvs (TOTS3): -2,86%
Ibovespa: -0,69%, aos 113.283 pontos
Em Nova York
S&P 500: +0,15%, aos 4.445 pontos
Nasdaq: -0,03%%, aos 15.047 pontos
Dow Jones: +0,10%, aos 34.798 pontos
Dólar: +0,64%, a R$ 5,34
Petróleo
Brent: +1,09%, a US$ 78,09
WTI: +0,93%, a US$ 73,98
Minério de ferro: sem negociações devido a feriado em Qingdao, China