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China e desleixo fiscal do governo derrubam o Ibovespa: -0,72%

VALE3 tomba 3% com falta de fôlego do dragão chinês. Haddad diz que vai ampliar o pacote de benesses para montadoras, numa amostra de falta de austeridade.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 28 jun 2023, 18h20 - Publicado em 28 jun 2023, 18h09

Depois de ter chegado ao auge do ano, 120.420 pontos na quarta-feira passada (21), o Ibovespa engrenou quatro quedas nos últimos cinco pregões (sendo que a única alta, na sexta, foi só um registro de estabilidade, 0,04%). Hoje foram mais 0,72% negativos para a conta, a 116.681 pontos. Desde o recentíssimo pico, então, a queda já é de 3,10%.   

Qualquer correção é natural em meio a um rali – foram nove semanas de alta, afinal. Mas o fato é que o dia trouxe notícias pouco alvissareiras para quem espera dias melhores.

No fim da tarde, saiu que o governo vai estender o programa de estímulos à compra de carros zero – a informação foi dada por Fernando Haddad em entrevista à jornalista Miriam Leitão, que vai ao ar hoje às 23h na GloboNews.  

Os R$ 500 milhões concedidos às montadoras na forma de crédito tributário em troca de descontos estão quase no fim. E a ideia do governo seria ampliar a benesse para R$ 800 milhões, de acordo com a Broadcast. 

Bom para as montadoras, péssimo para quem queria ver mais austeridade fiscal no governo. Porque sem austeridade não há como vislumbrar juros realmente mais baixos lá na frente – ao menos não num país funcional. Resultado: os DIs futuros subiram, e a bolsa, que já vinha numa queda ao redor de 0,50% ao longo do dia, estendeu suas perdas. 

Para piorar, a política estendeu mais um tentáculo sobre o BC. Rodrigo Pacheco disse, também no fim da tarde, que levará Campos Neto ao Senado para que ele explique as razões por trás dos juros a 13,75%. 

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Bom, a tentativa de interferência política no trabalho do Banco Central é justamente uma das razões.

VALE3: -3,16%

A China também trouxe más notícias. O lucro industrial do país registrou queda pelo terceiro mês seguido: -12,6%. Trata-se de um tombo menor que o de abril (-18%). Isso levou a uma leitura mista do dado. No começo do dia, quando o mercado chinês de minério de ferro fecha para quem está deste lado do globo, venceu o lado poliana do cabo de guerra: alta de 2,47% na commodity. 

Mas ao longo do dia o lado hiena Hardy (“oh, vida, oh céus”) virou o jogo. Prevaleceu a interpretação pessimista, e a Vale (VALE3), que tem na China seu maior cliente, acabou o dia em -3,16%, a R$ 64,72. Bradespar (BRAP4), grande acionista da mineradora, acompanhou: -3,79%. CSN Mineração (CMIN3) ficou em -2,30%.    

Agora a Vale se aproxima mais um pouco da mínima no ano (R$ 63,81, em 31 de maio). Desde o topo de 2023 (R$ 98,00 em 26 de janeiro), a queda acumulada já é de 34%.  

Já a outra componente do casal maior do Ibovespa teve uma quarta mais feliz. A queda nos estoques de petróleo dos EUA veio maior que a esperada: foi de 9,6 milhões de barris na semana passada, versus uma expectativa de que a baixa ficasse em 1,8 milhões   

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Isso deu um gás para o Brent, que fechou em rechonchudos 2,39%. PETR4 não chegou a tanto, mas terminou no verde, em 0,95%. No mês, a alta já é de 25,56%. Nos últimos 12 meses, de 50,14%. 

Dólar: 1,02%

O Brasil aumentou seus juros um ano antes de EUA e Europa começarem a fazer o mesmo. Logo, não seria ilógico iniciar uma baixa aqui antes. Roberto Campos Neto, de qualquer forma, costuma citar o clima hawkish do exterior para justificar sua postura cautelosa. E isso nos leva a outra notícia pessimista desta quarta.

Os donos da política monetária global estão reunidos na bucólica cidade de Sintra, Portugal, para o fórum anual do Banco Central Europeu. Hoje, falaram Christine Lagarde, do BCE, Andrew Bailey, do BC inglês, Kazuo Ueda, do BC japonês e Jerome Powell, do Fed. 

Powell disse que aumentar os juros americanos nas duas próximas reuniões do Fomc (o Copom americano) é uma possibilidade “que ainda está na mesa”. Lagarde comentou que a zona do euro “ainda tem terreno a percorrer”, que a alta dos juros precisa ser tão persistente quanto a inflação, e que provavelmente haverá uma nova alta na taxa em julho.

O clima austero lá fora, com a certeza de mais juros nas moedas fortes, levou o dólar a uma alta relevante: 1,02%, a 4,84.

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Por fim, a confirmação do primeiro caso de gripe aviária numa ave doméstica no Brasil jogou as ações dos frigoríficos no bueiro (veja abaixo), já que uma eventual expansão do vírus H5N1 pelo país pode quebrar as pernas das exportações do setor.   

Oh, vida. Oh, céus. 

E até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Yduqs (YDUQ3): 4,63%

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Embraer (EMBR3): 4,30%

Gol (GOLL4): 2,59%

MRV (MRVE3): 2,11%

Cogna (COGN3): 1,98%

 

MAIORES BAIXAS

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BRF (BRFS3): -4,27%

JBS (JBSS3): -4,22%

Bradespar (BRAP4): -3,70%

Dexco (DXCO3): -3,61% 

Minerva (BEEF3): -3,25%

 

Ibovespa: -0,72%, aos 116.681

 

Em Nova York: 

S&P 500: -0,03%, aos 4.377 pontos

Nasdaq: 0,27%, aos 13.591 pontos

Dow Jones: -0,21%, aos 33.853 pontos

 

Dólar: -1,02%, a R$ 4,84

 

Petróleo

Brent: 2,39%, a US$ 74,21

WTI: 2,75%, a US$ 69,56

 

Minério de ferro: 2,47% negociado a US$ 114,64 na bolsa de Dalian (China).

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