Brasil tem um Orçamento de Guerra (eleitoral) para 2022
Congresso aprovou aumento salarial para policiais, fundão eleitoral bombado e uma torneira sem fim de dinheiro em emendas do relator. Entenda como isso afeta a bolsa de valores.
Bom dia!
O Brasil amanhece com um Orçamento de 2022 aprovado após ter sido manualmente talhado para beneficiar políticos em um ano eleitoral. Se não, vejamos. São R$ 1,74 bilhão para dar aumento a policiais, que compõem a base eleitoral de Jair Bolsonaro, R$ 4,9 bilhões para financiar campanhas eleitorais e R$ 16,5 bilhões em emendas do relator.
Emendas do relator servem como moeda de troca usada pelo Executivo para aprovar projetos de seu interesse. O Planalto usa essa bolada para pingar no reduto eleitoral do deputado uma graninha para benfeitorias em redutos eleitorais – isso quando não se trata de financiamentos suspeitos.
O lance é que esse dinheiro é fatiado de maneira a bancar coisas muito modestas, como asfaltar estradas vicinais, comprar maquinário para Prefeitura ou construir postos de saúde. A causa pode ser eventualmente nobre, mas o benefício para o país é praticamente nulo.
Por outro lado, investimentos com I maiúsculo vão minguando. São R$ 44 bilhões, o menor montante da história. E essa grana mal serve para reformar ativos que já existem, para evitar que se depreciem. Que dirá melhorar a eficiência do país, algo necessário para o crescimento econômico. Sem que a economia cresça, não tem milagre que o mercado financeiro possa fazer: as pessoas ficam com a renda achatada, o consumo é limitado, e as empresas têm mais dificuldades de elevar seus lucros.
Nisso, o mercado financeiro aposta suas fichas nas concessões. Ontem, a Anac (a agência nacional de aviação civil) aprovou o edital de concessão dos aeroportos de Congonhas e Santos Dumont – ainda é preciso passar pelo crivo do TCU. O lance é que concessões ficam ainda mais difíceis de sair do papel em ano eleitoral, quando a economia e investidores em geral estão no modo alerta.
Isso quer dizer que o país enfrentará um 2022 ainda mais dependente do cenário externo. E as notícias vindas de fora são dúbias. Nesta quarta, o Reino Unido divulgou alta de 1,1% no PIB do terceiro trimestre, um número menor que o 1,3% esperado pelos economistas. Ele também representa uma desaceleração em relação ao segundo trimestre. Mais tarde, às 10h30, saberemos o dado final do PIB americano no terceiro trimestre – ele não costuma trazer surpresas, já que são três e tampouco movimentar o mercado profundamente.
Hoje pode ser uma exceção. O grosso dos investidores já saiu para o Natal, e os volumes de negócios já diminuíram, o que deixa o mercado mais suscetível a mudanças de humor. Os contratos futuros dos principais índices americanos não têm uma direção única nesta manhã, após a alta expressiva das bolsas na véspera.
Por aqui, dependeremos não só dos EUA, mas também de quão confortáveis investidores ficaram com um Orçamento feito para uma guerra – a guerra eleitoral. Boa quarta.
Futuros S&P 500: -0,03%
Futuros Nasdaq: -0,16%
Futuros Dow: 0,08%
*às 8h05
—
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,15%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,14%
Bolsa de Paris (CAC): 0,19%
*às 8h04
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,02%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,16%
Hong Kong (Hang Seng): 0,57%
Brent: 0,34%, a US$ 74,23*
Minério de ferro -2,62%, a US$ 123,39, no porto de Qingdao na China
*às 8h02
10h30 – O governo americano faz a leitura final do PIB do terceiro trimestre. A previsão é de crescimento de 2,1% no período.
14h30 – Tesouro divulga o Relatório da Dívida Pública brasileira de novembro.
Caminho difícil
A Alpargatas (ALPA4) fechou um acordo para comprar 49,9% da fabricante americana de calçados e bolsas Rothy’s. A aquisição vai custar US$ 475 milhões e deverá ser concluída até metade de 2022. Investidores não curtiram e, durante o pregão, as ações chegaram a tombar 11,2%. No fechamento, a baixa foi de 4,37%, ainda a ações do Ibovespa com o maior tombo do dia. O mercado financeiro tende a ficar com o pé atrás com as aquisições feitas pela dona da Havaianas. Recentemente, ela vendeu algumas de suas marcas, como a Mizuno e a Osklen, por causa da baixa rentabilidade. A Rothy’s, segundo a XP, tem dois riscos principais para a Alpargatas: dificuldade de ganhar escala, já que são calçados mais caros, e o crescimento da concorrência, que vende modelos parecidos a preços menores.
Empurrãozinho de milhões
A startup de saúde Alice anunciou a captação de US$ 127 milhões em uma rodada de investimentos que foi liderada pelo fundo japonês SoftBank. É um dos maiores aportes feitos em startups de saúde no Brasil. Fundada em 2020, a Alice oferta planos de saúde individuais e tem mais de 6 mil clientes no Estado de São Paulo. O valor de agora soma-se a outros US$ 47 mi já captados em outras duas rodadas de investimentos. Com isso, a empresa deve seguir avançando no segmento de saúde corporativa. O primeiro passo foi dado no mês passado com a aquisição da Cuidas, uma plataforma que oferece teleatendimento médico para funcionários de empresas.
Fatia de pizza mais cara em NY
A alta de preços nos Estados Unidos está vitimando um clássico de Nova York: as fatias de pizza vendidas a US$ 1. Numa das cidades mais caras do mundo para se comer, elas são uma das alternativas mais em conta. Só que, diante de uma inflação de 6,8% nos últimos doze meses, os estabelecimentos que sobreviveram à pandemia estão reajustando o preço da fatia. Ou, ao menos, cogitando. Leia a reportagem do New York Times.
E menos fritas no Japão
Entre os japoneses, quem vai sofrer são os clientes do McDonald ‘s. É que a rede de fast food anunciou um racionamento de batatas fritas que são vendidas no país, um dos seus maiores mercados depois dos EUA. As versões média e grande que compõem os combos de lanche da rede serão substituídas pela pequena e os clientes receberão um desconto em compensação. A medida é um plano emergencial, adotado por causa de problemas logísticos enfrentados no Canadá, que é de onde o Méqui importa suas batatas. No Valor Econômico.