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Bradesco desaba 8,8% após queda de 50% no lucro

Não foi só 2021: as previsões para este ano também frustraram os investidores. Mesmo assim, Ibov segurou alta de 0,2%, cortesia de um dia positivo nos EUA.

Por Tássia Kastner e Bruno Carbinatto
9 fev 2022, 18h50
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 (Caroline Aranha/Foto: Reprodução/VOCÊ S/A)
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O Ibovespa bem que tentou, mas não deu para decolar nesta quarta-feira. Difícil subir quando as ações do Bradesco, o segundo maior bancão do país e a quarta empresa com maior peso no Ibovespa, despencam quase 9%. 

A queda foi uma reação dos investidores aos resultados fechados de 2021, apresentados ontem após o fechamento do mercado. O lucro recorrente caiu 2,8% na comparação anual, o que foi um pouco pior do que as projeções de investidores – sozinho, o tombo não faria um estrago. O problema é que lucro recorrente pode dizer muita coisa, ou nada. Depende do malabarismo feito nas contas pelo pessoal do financeiro do banco. 

O que vale mesmo é o lucro contábil. E esse despencou 42% no último trimestre do ano passado quando comparado com 2020. E 52% na comparação com o terceiro tri.

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Contabilidade criativa? Não exatamente. É bem comum que empresas da bolsa apresentem seus resultados “recorrentes” ou “ajustados”. A ideia é tirar perdas (raramente lucros) extraordinárias dos números, para que investidores consigam avaliar como o negócio está indo de uma maneira geral. E, salvo alguma barbaridade, analistas do mercado financeiro vão olhar para esse número recorrente.

Só que o Bradesco lançou uma perda não recorrente de R$ 1,8 bilhão com “instrumentos financeiros” para negociação. Bem grosso modo, é como brincar de day trade, tomar um prejuízo e fingir que a grana perdida nunca existiu. Você até pode fechar a conta fingindo que nunca perdeu aquele dinheiro – ainda assim, você ficou mais pobre. 

Teve mais: o banco desconsiderou das despesas do negócio uma reserva financeira de R$ 440 milhões para reestruturação de agências. Quer dizer: pode até não ser recorrente, mas é uma despesa estratégica em um momento em que bancos fecham agências para reduzir custos. E mesmo assim, os custos operacionais do Bradesco cresceram, o que sempre é um péssimo sinal para a Faria Lima.

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Mas isso nem foi o principal motivo do susto dos investidores – e ainda ficou em segundo plano nas avaliações dos analistas que acompanham o banco.

O problema mesmo é o futuro. Acontece que, dentre todos os bancões, o Bradesco vinha recebendo uma avaliação mais pessimista do mercado. A dúvida é antiga: qual é a  capacidade das grandes instituições financeiras continuarem a crescer com a mesma velocidade e a entregar lucros sistematicamente maiores à medida que nubanks e outras fintechs da vida começam a disputar mercado. O Bradesco era considerado um dos maiores perdedores dessa disputa. E as notícias de ontem acabaram reforçando essa percepção.

Junto com os resultados de 2021, o banco divulgou suas metas para este ano – o guidance. Nas contas do Credit Suisse e do Bank of America, se as metas forem cumpridas, o lucro de 2022 deve ficar em R$ 27,8 bilhões (BofA) e R$ 28,4 (Credit), o que dá um crescimento anual de 6% a 8%. Pareceu pouco para o mercado financeiro, visto que o Bradesco crescia a uma taxa anual de dois dígitos antes da pandemia. 

Um dos motivos para o crescimento relativamente menor é o aumento das despesas para cobrir eventuais calotes, algo que reduz a rentabilidade das operações de crédito – e do banco em geral, já que crédito é o negócio principal de um banco, enquanto cobrar tarifa tá fora de moda.

O ROE, o indicador que mede a rentabilidade do acionista, não deve voltar a ficar acima de 20%, pelo menos não até 2023, nas contas do BTG Pactual.

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Ainda assim, BTG, Credit e BofA têm recomendação de compra para a ação, com preço-alvo na faixa dos R$ 30 – patamar que a ação não registra desde antes da pandemia, é bom dizer. Considerando o fechamento desta quarta, dá uma valorização de mais de 40%. Se eles estiverem certos, a ação está numa megapromo – mas mesmo assim, por hoje, não fez brilhar o olho de nenhum investidor.

Ibovespa e Wall Street

O Bradesco levou de arrasto os outros bancões da bolsa. O Santander, que divulgou resultados também decepcionantes na semana passada, caiu 2,13%. O Itaú presta contas ao mercado já, já. Escaldados com os números que já saíram, investidores derrubaram ITUB4 em 3,98%.

Ainda assim, o Ibovespa conseguiu subir 0,2%, a 112.461 pontos. O milagre veio do norte. Os índices dos EUA tiveram forte alta hoje, com destaque para a recuperação dos papéis das techs, que vêm enfrentando um cenário de guerra neste começo de ano. 

Os chamados dip buyers foram às compras e as ações da Meta subiram 5,37% hoje, após a empresa perder mais de um quarto de seu valor de mercado em um único dia na semana passada, com resultados trimestrais para lá de decepcionantes. 

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Os juros dos treasuries, por sua vez, deram uma folga e caíram nesta quarta-feira depois de atingirem o patamar mais alto desde 2019 ontem. 

Quem tem segurado o tranco por lá tem sido uma temporada de balanços forte: das 317 empresas listadas no S&P 500 que já divulgaram seus dados, 76% superaram as estimativas de lucro dos analistas. 

Resta saber se as empresas brasileiras vão conseguir surpreender analistas – já que os bancos estão decepcionando nessa tarefa.

Dólar

A moeda americana seguiu sua trajetória de queda nesta quarta-feira, recuando 0,62%, a 5,2269. Hoje, dados do Banco Central mostraram o que todo mundo já sabia: o dinheiro gringo está entrando aos montes no Brasil. No acumulado do ano, já entraram quase US$ 10 bi por aqui, e o fluxo cambial está positivo em US$ 5,725 bilhões.

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Investidores gringos vêm em busca de ações consideradas baratas, após o massacre que o Ibov enfrentou em 2021, e papéis ligados à commodities, em um ano que o governo chinês aposta em medidas de estímulo para a segunda maior economia do mundo (isso enquanto o Fed se prepara para aumentar os juros nos EUA em março e acabar com a mamata do mercado). 

Esse movimento explica, em grande parte, a ótima performance do Ibov no começo deste ano – uma das melhores bolsas do mundo, com alta de 8% até agora. A Selic voando também ajuda a atrair dinheiro gringo aos montes.

Até amanhã!

Maiores altas

Natura (NTCO3): 7,83%

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Azul (AZUL4): 6,44%

Minerva (BEEF3): 5,84%

Méliuz (CASH3): 5,71%

TIM (TIMS3): 5,06%

Maiores baixas

Bradesco ON (BBDC3): -8,80%

Bradesco PN (BBDC4): -8,58%

Itaú (ITUB4): -3,98%

Via (VIIA3): -2,42%

Santander (SANB11): -2,13%

Ibovespa: 0,20%, aos 112.461 pontos

Em Nova York

Dow Jones: 0,86%, aos 35.768 pontos

S&P 500: 1,45%, aos 4.587 pontos

Nasdaq: 2,08%, aos 14.490 pontos

Dólar: -0,64%, a R$ 5,2269

Petróleo

Brent: 0,85%, a US$ 91,55

WTI: 0,34%, a US$ 89,66

Minério de ferro: -2,01%, cotado a US$ 146,49 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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