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Bolsas sobem após mercado de trabalho forte nos EUA reforçar tese de “pouso suave”; entenda

Payroll confirma que 2023 foi um dos melhores anos em termos de contratações para a economia americana. Por aqui, Ibovespa fecha a primeira semana de 2024 em queda de 1,6%.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 5 jan 2024, 19h05 - Publicado em 5 jan 2024, 18h59

O ano que acabou de acabar desafiou a lógica dos livros, pelo menos quando o assunto é a economia americana.

Os EUA fecharam 2023 com um dos melhores saldos em termos de mercado de trabalho, de acordo com o payroll, o relatório oficial de empregos do governo americano. A edição de dezembro foi divulgada hoje, e superou as expectativas: 216 mil novas vagas, quando eram esperadas 175 mil. 

Com isso, somando o acumulado dos doze meses, o ano fechou com 2,7 milhões novas vagas. É uma desaceleração considerável em relação a 2022 e 2021, quando o número ficou em 4,8 e 7,3 milhões respectivamente, é verdade. Mas estes dois anos ainda se beneficiaram das da recuperação do baque da pandemia, que apagou 9,3 milhões de empregos no país em 2020, e das recontratações que seguiram.

Excluindo esse período de correção, então, o mercado teve a melhor performance desde 2015. E é ainda mais impressionante se considerado que o contrário era esperado. Boa parte dos economistas apostava que 2023 seria um ano de recessão na maior economia do mundo. Em outubro de 2022, por exemplo, a Bloomberg chegou a calcular que as chances de uma recessão eram de “100% em um ano”.

O motivo para esses palpites é claro. Depois da pandemia, uma onda inflacionária atingiu os EUA (e todo o mundo). O aumento dos preços chegou a passar dos 9% por lá, o maior salto em quatro décadas. Em resposta, o Fed, banco central americano, subiu os juros rapidamente para patamares altos, atingindo a faixa de 5,25%-5,5% ao ano, onde ainda se encontra.

Juros altos encarecem o crédito, freiam o consumo e, assim, esfriam a economia – o que, por sua vez, diminui a inflação. O efeito colateral é o aumento do desemprego e uma provável recessão. O mercado previa que isso aconteceria nos EUA, com juros tão altos. Acontece que, apesar de haver sim uma desaceleração, o cenário atual está longe do caos projetado, e o mercado de trabalho americano segue aquecidíssimo. Prova disso é que a taxa de desemprego atual está em 3,7%, próxima da mínima histórica.

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Mais: a inflação no país está diminuindo, atualmente em 3,1% – bem próximo da meta do Fed, de 2% ao ano. Assim, reforçou-se a tese de “pouso suave” (“soft landing”), cenário em que a inflação é vencida sem a economia ter que passar por uma recessão. O melhor dos mundos, que antes era a visão apenas de uma parcela mais otimista do mercado, mas agora parece ser majoritária.

Tanto que a maior parte dos investidores aposta que o Fed vai começar a cortar os juros em breve, já em março. Segundo a ferramenta FedWatch do CME Group, 62% dos palpites prevêem uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa na reunião de 20 de março. 

Enquanto isso, o próprio Fed não confirma. Pelo contrário: os direcionamentos mais recentes dos seus dirigentes foram hawkish, e fizeram o otimismo do mercado diminuir um pouquinho. Apesar disso, o palpite de cortes em março continua majoritário.

Nesta sexta-feira, foi a vez de Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos EUA, afirmar com todas as letras que, na opinião dela, a economia americana já está em pouso suave.

De qualquer forma, a ideia de que o “soft landing” está ocorrendo já tinha tomado o mercado há algum tempo, mesmo antes do payroll de hoje. Tanto que a divulgação do documento teve impacto limitado nas bolsas americanas nesta sexta-feira, que subiram pouco: S&P 500 +0,18%. O índice vem de uma sequência de nove altas semanais, justamente porque o mercado comprou a ideia do cenário positivo para a economia.

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Correções nas bolsas

Por aqui, o principal índice acionário brasileiro terminou a sexta-feira em alta de 0,61%, aos 132.022. No fechamento da semana, porém, o Ibov abriu 2024 em queda: -1,61%. Uma correção natural após uma euforia. 

Isso porque o tropeço vem logo após um forte rali na reta final de 2023, que levou o Ibovespa para cima dos 133 mil pontos, maior patamar nominal histórico. Aconteceu, também, nos EUA. Após nove semanas seguidas de alta no S&P 500, o índice fechou em queda de 1,52% na semana que termina hoje.

O Nasdaq, que concentra as ações de tecnologia, tombou bem mais na semana: -3,25%. Isso porque, nos últimos dias, o setor foi abalado após alguns analistas demonstrarem pessimismo com o papel da Apple, a empresa mais valiosa do mundo. Há preocupações quanto à demanda de seus produtos para 2024, em especial porque a economia chinesa está mais fraca do que o esperado.

De qualquer forma, o mercado americano está claramente otimista com a questão dos juros, talvez até demais. O próprio Fed tenta aumentar a cautela, mas com efeitos limitados. Quedas como a desta semana podem indicar que investidores estão moderando toda a euforia e corrigindo a festa exacerbada do final de 2023. A ver se isso se sustenta.

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Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Grupo Soma (SOMA3): 6,85%

Cielo (CIEL3): 5,40%

Alpargatas (ALPA4): 4,57%

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Hapvida (HAPV3): 3,89%

Locaweb (LWSA3): 3,32%

MAIORES BAIXAS

Pão de Açúcar (PCAR3): -7,87%

Braskem (BRKM5): -2,71%

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IRB Brasil (IRBR3): -2,55%

Telefônica (VIVT3): -1,81%

TIM (TIMS3): -1,43%

Ibovespa: 0,61%, a 132.022 pontos. Na semana, -1,61%.

Em Nova York

S&P 500: 0,18%, aos 4.697 pontos. Na semana, -1,52%.

Nasdaq: 0,09%, aos 14.524 pontos. Na semana, -3,25%.

Dow Jones: 0,07%, aos 37.466 pontos. Na semana, -0,59%.

Dólar: -0,73%, a R$ 4,8722. Na semana, alta de 0,39%.

Petróleo

Brent: 1,50%, a US$ 78,76. Na semana, alta de 2,23%.

WTI:  2,24%, a US$ 73,81. Na semana, alta de 3%.

Minério de ferro: -1,38%, cotado a US$ 140,84 por tonelada na bolsa de Dalian (China).

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