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Bolsas americanas respiram com freada na inflação. Ibovespa não acompanha

Esperança da primeira manutenção da taxa do Fed em um ano, ou de um aumento restrito a 0,25 p.p., anima o S&P 500. Mas o medo de uma crise sistêmica derruba o petróleo em 4%, e deixa o Ibovespa no vermelho. NTCO3 cai 17,49% com balanço fraco.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 14 mar 2023, 17h56 - Publicado em 14 mar 2023, 17h54

Chegou a hora de se despedir da frase “os EUA têm a maior inflação desde 1982”. Agora o sarrafo subiu mais um pouco na linha do tempo. O CPI (“IPCA” deles) está em 6%. É o maior desde dezembro de 1990. Sim, 1990 está tão longe de nós quanto 1958 estava de 1990. Mas já é um alívio. 

Só que ainda se trata de um nível horripilante – se 5,6%, a inflação brasileira no momento, está ruim para nós, imagina 6% para eles, um país cuja média dos últimos 30 anos foi de 2,4%, e com um banco central determinado a chegar à meta 2%? 

Nos últimos dias, ganhou corpo a ideia de que o caso SVB aliado a uma desaceleração no CPI (que estava em 6,4% no mês passado) tornaria plausível uma manutenção da taxa de juros em 4,75% na próxima reunião do Fomc, encerrando uma traulitada de oito altas consecutivas em um ano. Mas essa hipótese está perdendo força. As apostas do mercado de derivativos, apuradas pelo CME Group, apontavam a chance de manutenção em 35%. Agora, essa hipótese caiu para 25%. 

O palpite mais firme hoje é o de uma alta de 0,25 p.p., elevando a taxa de juros a 5%, maior patamar desde 2007. 

Por outro lado, as apostas numa alta de 0,50 pp caíram a zero com a falência do SVB – pois juros altos aumentam o perigo de uma quebradeira bancária. Antes da crise atual, na semana passada, ela era a hipótese favorita, com 70% da preferência. 

Fato é que a consolidação de expectativa de 0,25 p.p., aliada a ainda vida esperança de 0,00 p.p., deu uma força para as bolsas. Alta de 1,68% no S&P 500. Também ajudou um rebote nas cotações dos bancos regionais, como do First Republic Bank, também da Califórnia, como o SVB. 

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Depois de perder 74% entre sexta e segunda, quando sua ação caiu de US$ 115 para US$ 30, ele subiu 27% nesta terça, a US$ 39. Não significa, claro, o fim do receio com a saúde do sistema financeiro americano – a diferença entre o preço pré-SVB ainda é brutal. 

All in all, a incerteza machuca o preço do barril, o que tem efeitos deletérios para o Ibovespa, onde a Petrobras sozinha responde por 11% do índice. PETR4 cedeu 1,78% hoje, colaborando para o que o índice fechasse em fracos -0,18%. 

Natura

NTCO3 ficou com a medalha de lata deste terça, a de maior queda do dia. Foram grossos 17,49%, após a divulgação de seu balanço: prejuízo de US$ 890,4 bilhões no quarto trimestre de 2022, ante um lucro de R$ 695,5 milhões no mesmo período do ano passado. 

A ausência de novidades sobre a eventual venda da Aesop (marca australiana de cosméticos de luxo que a Natura adquiriu na década passada) também foi um ponto negativo. A expectativa é a de que a venda possa gerar mais de R$ 10 bilhões para a companhia. Como não tocou-se no assunto, essa possibilidade de geração de caixa não fez preço. E NTCO3 entrou em queda livre. 

Desde julho de 2021, o pico histórico, a Natura perdeu 80% de seu valor de mercado.

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Passagens aéreas a R$ 200

Márcio França, ministro de Portos e Aeroportos e que já foi governador de São Paulo, fez barulho ao anunciar um certo “Voa Brasil”. Você deve ter visto: um programa que obrigaria as companhias aéreas a vender de 5% a 20% dos assentos nas épocas menos requisitadas do ano (fora dos períodos de férias) por R$ 200 o trecho. “5% a 20%” porque o programa começaria em 5% e iria ampliando sua fatia até os 20%. 

Seriam elegíveis para o programa estudantes inscritos no FIES, aposentados pelo INSS e pessoas com renda mensal inferior a R$ 6.800. Se essa pessoa fosse um funcionário público (ou um aposentado), ganharia a chance de parcelar em 12 vezes pelo consignado da Caixa.   

A ideia: como a média de vacância nos assentos das aeronaves chega a 20%, por que não vender os lugares que já voam vazios mesmo a preços mais baixos? 

Tem um problema, sim, França. Companhias aéreas vendem com desconto as passagens compradas com antecedência, e com ágio as adquiridas em cima da hora – em geral por executivos. Esse é o modelo de negócio delas desde sempre. 

Com a venda de 20% das passagens por R$ 200, o desconto para quem compra con antecedência (o grosso dos passageiros) diminui. Ou seja: as passagens ficam mais caras. E menos gente vai voar. 

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Com menos demanda, a oferta de voos diminui. Aí os preços aumentam mais ainda, por conta da perda de escala. Uma hora, teríamos voos com 20% dos assentos ocupados por gente rica, capaz de pagar ágios pesados, 20% por gente que conseguiu se inscrever no programa governamental e 60% de assentos vazios. 

Qual seria o passo seguinte? Obrigar a vender por R$ 50 os novos assentos vagos? Não, porque a essa altura não haveria mais companhias aéreas nacionais. O sistema não se sustenta, por melhores que tenham sido as intenções de Márcio França. 

O governo, ao que parece, concorda com essa afirmação. À coluna de Malu Gaspar, no O Globo, um auxiliar de Lula disse: “O cara não combinou com ninguém, e ainda divulgou uma ideia estúpida. Ninguém no governo gostou”. 

O próprio Lula mostrou seu descontentamento, na reunião ministerial de hoje: “Qualquer genialidade de alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil. Para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República”, disse. 

Lula, porém, não chegou a jogar a ideia no lixo (apesar de a palavra “genialidade” referir-se normalmente a algo que seja seu oposto). Aparentemente, o maior problema para o Presidente não foi o conteúdo da proposta, mas a forma como ela foi divulgada. Lula completou: “Que a gente possa chamar o autor da genialidade e então anuncie publicamente como uma coisa do governo”. 

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Que a próxima “genialidade”, a próxima solução simplória para um problema complexo saída de algum ministério, seja anunciada de supetão também. Dessa forma, o risco de ela vingar diminui. 

Até amanhã.

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Maiores altas

Embraer (EMBR3): 3,88% 

Raízen (RAIZ3): 3,44%

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3R (RRRP3): 3,07%

Azul (AZUL4): 2,83% 

Ambev (ABEV3): 2,50%

 

Maiores baixas

Natura (NTCO3): -17,49%

CVC (CVCB3): -7,89%

Rede D’Or (RDOR3): -5,07%

Qualicorp (QUAL3): -4,84

Localiza: (RENT3): -4,07

 

Ibovespa: -0,18%, a 102.932 pontos

 

Em NY:

S&P 500: 1,68%, a 3.920 pontos

Nasdaq: 2,14%, a 11.428 pontos

Dow Jones: 1,06%%, a 32.155 pontos

 

Dólar: -0,22%, a R$ 5,25

 

Petróleo

Brent: -4,11%, a US$ 77,45%

WTI: -4,64%, a US$ 71,33

 

Minério de ferro: -0,22%, a US$ 133,71 a tonelada na bolsa de Dalian

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