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Bolsas amanhecem em depressão após queda de 89% nos lucros da Target

Futuros do S&P 500 caem quase 1% depois do balanço da rede de supermercados, pois ele fortalece um fantasma: o de que após a inflação global virá uma recessão galáctica.

Por Bruno Vaiano, Alexandre Versignassi e Camila Barros
Atualizado em 17 ago 2022, 09h06 - Publicado em 17 ago 2022, 09h01

A Target jogou água no chopp da bolsa americana. Ontem, o Walmart e a Home Depot tinham engatado um barril de IPA na torneira, apresentando balanços fortes, e dando mais esperança de que a recessão americana fosse só uma ilusão contábil (a dos dois trimestres de queda no PIB, mas com manutenção de pleno emprego).

Os números da rede de supermercado, porém, dão a entender que o buraco é mais embaixo. Foi o segundo trimestre seguido de resultados decepcionantes: US$ 183 milhões de lucro no trimestre, uma queda estonteante de 89% em relação ao 2T21. O mercado até esperava um tombo, para US$ 370 bilhões, mas, como dizia o técnico Zagalo, “foi surpreendido novamente”.  

O motivo é aquele que já está no autocompletar dos textos do noticiário econômico, como este que vos fala: consumidores gastando menos por medo da inflação e dificuldade de repassar as altas dos fornecedores. Também entra no bolo os descontos pesados que a rede teve de oferecer para dar uma clareada no estoque de produtos mais caros, como os eletrônicos, numa época em que o escorpião está ativo no bolso dos clientes.  

Resultado: uma queda forte nos futuros da bolsa americana, que regem o humor econômico deste pálido ponto azul do Sistema Solar. Os do S&P 500 amanheceram caindo quase 1%.

O que vai rolar nesta quarta

Hoje o Fed divulga a ata de sua reunião mais recente – o tradicional termômetro para o que pode vir na próxima (que rola daqui a um mês, com encerramento no dia 21 de setembro). Também vamos ter por lá a divulgação dos dados semanais de estoque de petróleo e os números do varejo em junho.  

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Na Zona do Euro, já tem um PIB preliminar para o segundo trimestre, e o Reino Unido chega melancólico ao rolê com sua inflação oficial de julho. No Brasil, por outro lado, vieram boas (ainda que esperadas) notícias no campo da alta baixa de preços. 

Vamos a elas.

IGP-10: -0,69% 

Começando por nós, a manhã é de café com aroma de deflação. O IGP-10 de agosto, publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), veio com uma queda de 0,69% em relação ao de julho, alinhado com as expectativas do mercado e com IPCA de julho.

(Lembre-se: o dado oficial do IBGE recuou 0,68% em relação ao mês anterior – a maior queda de preços da história do real e da série histórica disponibilizada pelo IBGE, que começa em 1980).

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A sigla IGP significa Índice Geral de Preços, porque o dado leva em consideração tudo – do barril de petróleo ao preço final dos bichinhos de pelúcia, sem distinção entre indústria e consumidor final. O número sai na segunda quinzena do mês e considera preços coletados entre o dia 11 do mês anterior (neste caso, julho) e o dia 10 do mês atual (agosto, é óbvio).

Por causa da grande sobreposição entre os espaços amostrais (muitos preços coletados pelo IGP já aparecem no período considerado pelo IPCA), ele não é um número dos mais hypados. Mas é uma notícia boa, de qualquer forma, e reforça o corte contagioso no ICMS dos combustíveis – com diesel e gasolina mais baratos, o transporte de mercadorias sai mais em conta. E tudo chega mais barato às gôndolas. 

Bom para a B3, que conta com o fim no ciclo de alta da Selic para respirar. 

Europa

Talvez os brasileiros possam ir ao pub consolar o Reino Unido: a inflação de julho deles (o dado oficial só saiu agora) ficou em 10,1% para os últimos 12 meses. Trata-se da subida mais rápida entre os países do G7 desde que o surto inflacionário global começou, em 2021. 

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E é a maior inflação no Reino Unido desde a época em que a Princesa Diana estava no quinto mês de gestação do príncipe William: fevereiro de 1982.    

No mês a mês, a alta de preços foi de 0,6% vs. os 0,4% previstos pelo mercado.

O resultado, claro, será uma alta de no mínimo 0,5 pp na taxa básica de juros deles, para ver se alguém segura essa bola de rugby. As bolsas da Europa já reagiram tristonhas a esse dado e ao PIB da Zona do Euro no segundo trimestre, que cresceu 0,6% vs. a expectativa de 0,7% dos investidores. 

EUA

Nos EUA, os dados sobre estoque de petróleo podem decidir se haverá uma recuperação ou uma queda ainda mais acentuada no barril para os próximos dias: quando o número vem alto, é sinal de demanda baixa, e o Brent geralmente cai. Se o número vem baixo, é porque o Tio Sam está bebendo muito óleo, e os preços tendem a subir.

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A tendência atual é de queda: se o Ocidente fechar seu mais recente acordo diplomático com o Irã – resumidamente, que o país ponha o pé no freio do enriquecimento de urânio em troca de poder fazer mais comércio com o lado de cá do globo – a quantidade de barris no mercado vai aumentar bruscamente. 

Para o varejo americano, a expectativa é que o consumo tenha aumentado um pouquinho (0,1%), já que os EUA também tiveram sua queda nos preços dos combustíveis – e o mesmo raciocínio que vale para nós, vale para eles. 

Por fim, após uma euforia inicial com a melhora dos dados inflacionários dos EUA em julho, espera-se que ainda venha pelo menos uma alta de 0,75 pp em setembro. Juros mais bruscos dependem do mercado de trabalho continuar forte e da inflação ainda vir acima de 9% na comparação anual, mesmo que a haja queda de um mês para o outro. Se a taxa de desemprego aumentar e a inflação der mais sinais de cansaço, o Fed pode ficar só em 0,5 pp.

Por ora, a Target vai ditando o clima de urso em Wall Street. Dê uma olhada no humorômetro aqui embaixo. E tenha um bom dia. 

Humorômetro - dia com tendência de baixa

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Futuros S&P 500: – 0,70%

Futuros Nasdaq: – 0,83%

Futuros Dow: – 0,51

*às 7h50

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): – 0,51%

Bolsa de Londres (FTSE 100): – 0,33%

Bolsa de Frankfurt (Dax): – 0,90%

Bolsa de Paris (CAC): – 0,57%

*às 08h20

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,94%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,23%

Hong Kong (Hang Seng): 0,46%

Commodities

Brent: – 0,44%, a US$ 91,93

Minério de ferro:  – 2,23%, a US$ 104,25 a tonelada na bolsa de Cingapura

*às 8h26

market facts

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Agenda

9h30: Vendas do varejo em julho nos EUA.

11h30: Estoques de petróleo nos EUA da semana até 12 de agosto.

15h: Divulgação da ata do Fomc nos EUA.

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