Bolsas amanhecem em baixa no exterior. A ver se o Brasil embarca no bonde
Medo de recessão segue contaminando o mercado global. Por aqui, falas de Lula contra a independência do BC também não devem ajudar. E fundos DI seguem em queda na esteira dos debêntures da Americanas.

Ontem o Ibovespa descolou do exterior, com alta de 0,71%, versus -1,56% para o S&P 500. Não é o normal, já que as bolsas dos EUA tendem a dar a direção de todas as outras – tanto que Tóquio e Hong Kong fecharam em baixa, na esteira de Wall Street, e a Europa também opera no vermelho (veja lá embaixo).
Caso a nossa bolsa volte a pegar o bonde americano, não será o melhor dos mundos: ele acordou dando ré, com o S&P caindo 0,53% nesta manhã. O fantasma por lá é o medo de que uma recessão se instaure. Ontem divulgaram os dados de venda no varejo americano em dezembro, e o que veio foi uma queda firme, de 1,1%.
Por um lado, isso mostra que as altas nos juros do Fed estão fazendo efeito – menos vendas = menos pressão inflacionária. Por outro, também mostra que a economia americana começa a sufocar com os juros altos.
O receio é o de que comece uma espiral recessiva. Com cada vez mais gente comprando menos, uma hora isso começa a pressionar a taxa de desemprego para cima. Por enquanto eles vão bem nesse quesito, com a taxa em baixos 3,5%. Mas a onda de demissões que já varre o setor de tecnologia (veja abaixo) pode espalhar-se pela economia toda, criando a tal espiral recessiva.
A ver, então, como o mercado reage à divulgação semanal do número de pedidos de entrada no seguro desemprego (que serve como termômetro para o humor do mercado de trabalho).
Lula e o BC independente
A ver também como o mercado daqui vai reagir às falas de Lula contra a independência do Banco Central. Ontem, em entrevista ao G1, o presidente disse:
“Eu posso te dizer com a minha experiência, é uma bobagem achar que o presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente era que indicava”
Trata-se de um desafio à lógica. “Banco Central Independente” significa apenas que um governo eleito deve engolir o presidente e a diretoria do BC indicado pelo governo anterior por dois anos. É o que acontece nos EUA. E a ideia é manter uma certa estabilidade na política econômica.
Quando Lula indicar seu presidente do BC, em 2024, ele ou ela ficarão no cargo até 2028 – independentemente de quem seja eleito em 2026.
Na prática, isso significa manter um BC mais vigilante. Governos do mundo todo tendem a pressionar seus bancos centrais por baixas nos juros, já que eles combatem a inflação a golpes de recessão. O perigo é tal pressão deixar que a inflação saia do controle. Foi o que aconteceu no governo Dilma, quando o BC de então foi impelido a reduzir os juros num cenário em que a curva de inflação apontava para cima.
Lula também questionou: “Por que, com um banco independente, a inflação está do jeito que está? Não faz sentido. A inflação no Brasil fechou 2022 em 5,79%, ante 10,06% em 2021. Nos EUA, ela terminou o ano passado em 6,5%. Na União Europeia, 9,2%. No Reino Unido, 10,5%.
Além disso, a prévia para o IGP-M de janeiro veio em 0,35%, ante 0,77% no mês passado. Uma desaceleração bem vinda.
Vale lembrar também que Marina Silva, atual ministra do meio-ambiente, defendeu a independência do Banco Central na sua candidatura à Presidência em 2014 – e não consta que Marina seja “um fantoche a serviço dos banqueiros” ou qualquer platitude que o valha.
Americanas
Na iminência de pedir recuperação judicial, a Americanas pode gerar um rombo de R$ 7 bilhões nos bancos. É o tanto que Bradesco, Santander, Itaú, Safra, BTG e Banco do Brasil terão de reservar para o caso de calote (a lista está por ordem de exposição, ou seja, dos bancos que detêm mais dívidas da varejista para os que detêm menos).
Para o investidor comum, o maior baque foi nos fundos DI com debêntures da Americanas na carteira. Mesmo aqueles vendidos pelos bancos como de risco baixíssimo, bons para reserva de emergência e nada mais, sofrem quedas. O Itaú Priviledge DI, por exemplo, caiu 0,70% desde o Americanas Day. O NU Reserva Imediata, -1,05%.
Bons negócios.

Futuros S&P 500: -0,54%
Futuros Nasdaq: -0,61%
Futuros Dow: -0,51%
*às 8h23
Microsoft e Amazon farão demissões
Esta semana, Microsoft e Amazon, duas das maiores empresas do S&P 500, começaram a notificar seus funcionários sobre uma demissão em massa que deve atingir um total de 28 mil vagas – 10 mil da Microsoft e 18 mil da Amazon. Ambas disseram que a medida visa conter gastos num cenário de diminuição das vendas e possível recessão pela frente.
Faz parte do movimento de desaceleração das techs que começou no ano passado, acompanhando a alta dos juros norte-americanos. Foi o fim da onda de contratações que rolou durante a pandemia, quando empresas do setor se beneficiaram da alta nas vendas de equipamentos e softwares para trabalho remoto, serviços de delivery e entretenimento online.
Números da consultoria Challenger, Gray & Christmas Inc. mostram que o setor realizou 52.771 demissões em um ano até novembro (mês mais recente com dados disponíveis).
9h: PNAD Contínua, com a taxa de desemprego do trimestre encerrado em novembro.
EUA, 9h: Número de pedidos de entrada no seguro-desemprego da semana passada
Índice europeu (EuroStoxx 50): -1,27%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,78%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -1,23%
Bolsa de Paris (CAC): -1,26%
*às 8h23
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,62%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,44%
Hong Kong (Hang Seng): -0,12%
Brent: -0.94%, a US$ 84,18 o barril
*às 8h25
Minério de ferro: 1,55%, a US$ 125,68 a tonelada, em Dalian
Procrastinação: entenda essa inimiga.
Adiar tarefas importantes em prol de atividades inúteis é uma tendência universal, com raízes biológicas. Mas quando o problema se torna crônico pode (e vai) arruinar sua carreira. Nesta reportagem da Você S/A, conheça as causas da procrastinação e veja estratégias científicas para combatê-la. Só não deixe para ler depois 😉

EUA, após o fechamento: Procter & Gamble
EUA, antes do fechamento: Netflix