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Banco Central libera pagamentos pelo WhatsApp e Cielo sobe 3%

Há 9 meses, investidores apostam no Facebook para tirar as ações da companhia do chão. Enquanto isso, o Orçamento de 2021 movimenta Brasília e o Ibovespa.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
31 mar 2021, 18h34

O WhatsApp Pay desencantou e deu um fôlego às ações da Cielo nesta quarta-feira. A empresa de maquininhas de cartão ainda é a maior do país, mas os papéis estão na lama há anos, depois que o aumento da concorrência corroeu sua rentabilidade. Hoje os acionistas puderam voltar a sonhar.

O sistema de pagamentos pelo aplicativo de mensagens tinha sido anunciado em junho do ano passado. No começo, era um acordo da empresa de Mark Zuckerberg com as bandeiras Mastercard e Visa, os bancos Nubank, Banco do Brasil e Sicredi, e a Cielo.

Mas isso durou uma semana. O Banco Central e o Cade (órgão de defesa da concorrência) barraram a operação. No caso do Cade, era mais simples. O temor é que os contratos fossem de exclusividade, o que diminuiria a concorrência no setor após anos de esforços para a quebra de monopólio. A restrição caiu algumas semanas depois, no início de julho de 2020.

Mas permanecia a proibição do BC. A autarquia mudou as regras e exigiu regulação prévia para a operação do WhatsApp Pay. Ele tinha os seus motivos. O primeiro era realmente de segurança do sistema financeiro. O mercado de pagamentos no país é organizado ao redor das bandeiras de cartão (Mastercard e Visa, por exemplo). Elas são responsáveis por unir todas as pontas do sistema quando alguém decide fazer um pagamento com cartão de crédito ou de débito. Ou seja, quando você passa o cartão na maquininha, a bandeira é quem consulta o seu banco para garantir que você tem crédito. E ela se responsabiliza por fazer o banco pagar o lojista que fez a venda. 

Para o BC, não estava claro qual seria o papel do WhatsApp nessa história e ficou com medo que trouxesse riscos ao mercado de pagamentos. Não é trivial, o aplicativo de mensagens tem mais de 130 milhões de usuários no Brasil. 

Mas tinha um segundo motivo. Em junho do ano passado, o Pix ainda era um projeto em andamento. Se o WhatsApp chegasse com tudo, teria o potencial de tornar o Pix irrelevante de saída. O sistema de pagamentos instantâneos do BC foi lançado em novembro e, cinco meses depois, é um sucesso. A Febraban estima que, pelo menos, 60% já utilizaram a ferramenta. 

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Agora fica mais fácil colocar um novo concorrente no mercado. A autorização para o funcionamento do WhatsApp Pay saiu na noite de terça, nove meses depois. Mas tem um detalhe: por enquanto, o Banco Central liberou apenas a transferência entre pessoas, que é gratuita. Falta autorizar pagamentos a empresas e que há a cobrança da taxa “da maquininha”. Isso sim é o que vai ajudar a Cielo. No ano passado, o anúncio foi de que a taxa seria de 3,99%, custo maior que o da média do mercado hoje.

E nada garante que essa taxa vai continuar igual. Apesar de a Cielo ser a parceira inicial desse projeto, ela não pode ser monopolista. Lembrando que uma das questões do Cade e o BC era justamente manter a concorrência livre, para garantir preços competitivos. 

Ainda assim, as ações subiram. A alta foi de 3,91%, para R$ 3,72. Isso ainda está bem abaixo dos R$ 5,70 alcançados logo após o anúncio do WhatsApp Pay. Agora é acompanhar para ver se as expectativas continuam na mesma direção.

Outra empresa que viu as ações dispararem foi a Equatorial Energia. A holding (que controla as distribuidoras de energia Ceal, Cemar, Celpa e Cepisa) venceu o leilão de privatização da distribuidora de energia gaúcha CEEE-D. Ela fez a única proposta da disputa: R$ 100 mil – o preço de um SUV — pela estatal.

A CEEE-D possui 1,7 milhão de clientes e  atua em 72 municípios, incluindo a capital Porto Alegre. Mas há anos vem enfrentando uma crise financeira e está na lista da Aneel de piores distribuidoras do país. A expectativa é de que a troca de controle faça a empresa se reerguer. A Equatorial Energia subiu 8,39%. 

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Enquanto alguns investidores comemoram, outros não tiveram um dia tão bom. O Ibovespa operou em baixa nesta quarta-feira (31) com as notícias sobre o Orçamento de 2021. Depois de muitos apelos da equipe econômica, o senador Márcio Bittar prometeu cortar R$ 10 bilhões em emendas extras, para que o valor seja utilizado na recomposição de despesas obrigatórias, como o da Previdência Social para pagamento de aposentadorias e benefícios sociais.

Cortes de gastos costumam ser uma boa notícia. Mas o problema é que esse valor não faz nem cócegas no rombo da máquina pública. Segundo relatório dos consultores da Câmara, é preciso cortar, pelo menos, mais uns R$ 23 bilhões para conseguir manter o teto de gastos. 

Além disso, o Orçamento aprovado na semana passada reduziu o montante destinado para despesas obrigatórias e essa é uma medida arriscada. Não dá, por exemplo, para deixar de pagar uma ou duas parcelas dos aposentados. A falta de dinheiro aumenta, e muito, o risco de futuras pedaladas fiscais para equilibrar o orçamento – esse foi o motivo que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e algo que Paulo Guedes quer evitar a todo custo para proteger Bolsonaro. 

Também teve anúncio sobre o auxílio emergencial. O governo confirmou que os depósitos da primeira parcela começam em 6 de abril e os saques em dinheiro estão agendados para 4 de maio. Já a segunda parcela começa em 16 de maio; saques em 8 de junho. A terceira em 20 de junho, com saques em 13 de julho. E por fim, a quarta parcela em 23 de julho e saques em 13 de agosto. 

Dinheiro no bolso da população significa que a indústria pode respirar com um pouco mais de alívio, já que o consumo deve se manter pelos próximos meses. Mas Jair Bolsonaro conseguiu deixar o mercado ressabiado. O presidente voltou a criticar as medidas de isolamento social decididas pelos governadores. Isso mostra que ele está totalmente desalinhado com o discurso que as demais esferas do governo tentam adotar. 

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Na segunda-feira (29), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu o uso de máscaras e pediu para que a população evite aglomerações, principalmente durante a Páscoa. 

E por ironia, poucos momentos antes de Bolsonaro iniciar a sua fala, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, havia acabado de falar sobre a importância de um discurso uniformizado do Comitê de Crise com o governo, além de também defender as máscaras e o distanciamento social. Enquanto o cabo de guerra entre ciência e negacionismo continua, os investidores veem a recuperação econômica ficar cada vez mais longe com a falta de organização para enfrentar a Covid-19 mesmo depois de um ano de pandemia. 

No final, o Ibov encerrou o dia com queda de 0,18%, aos 116.633 pontos. A perda só não foi maior porque a bolsa se apoiou na alta das ações da Petrobras, Vale e siderúrgicas. Apesar disso, o Ibovespa fechou o mês de março com alta de 6%. Não que dê para comemorar muito, já que no trimestre as perdas são de 2%.

Maiores altas

Equatorial Energia: 8,39%

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CCR: 6,34%

Cielo: 3,91%

Eletrobras: 3,38%

Cogna: 3,11%

Maiores baixas

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Yduqs: -4,74%

Gol: -3,67%

Azul: -3,10%

Renner: -3,03%

Suzano: -2,93%

Ibovespa: 0,18%, aos 116.633 pontos

Em NY:

S&P 500: +0,37%, aos 3.973 pontos

Nasdaq: +1,54%, aos 13.246pontos 

Dow Jones: -0,25%, aos 32.983 pontos 

Dólar: -2,31%, a R$ 5,62

Petróleo

Brent: -0,93%, a US$ 63,54

WTI: -2,29%, a US$ 59,16

Minério de ferro: queda de 0,86%, no porto de Qingdao (China)

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