Continua após publicidade

Analistas reforçam recomendação de compra para as ações da Petrobras. Mas cuidado

A estatal está barata, e pagando horrores de dividendos. Mesmo assim, está longe de ser uma bola de segurança – e não é só pelo "risco político". Lá fora, impasse entre Rússia e Ucrânia joga um balde de água fria nas bolsas. Mas Ibovespa fecha em alta. 

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 30 mar 2022, 17h44 - Publicado em 30 mar 2022, 17h36

Com a indefinição do cenário na Ucrânia, o S&P 500 devolveu em parte os ganhos de ontem: queda de 0,63%. Já o Ibovespa manteve a tradição de 2022, descolando de Nova York e encerrando o dia no positivo: 0,20%, sustentando-se acima dos 120 mil pontos. 

No front: apesar das conversas sobre um cessar fogo, o fogo seguiu, com novos ataques no norte da Ucrânia.

O ministro das relações exteriores da Rússia, de qualquer forma, disse que nesta tarde que houve progresso nas negociações. Ele afirma que o governo ucraniano não pretende mais entrar na Otan e, mais importante, que o país vizinho “entendeu que a questão da Crimeia [anexada pela Rússia em 2014] e do Donbass [o território a leste do país, que Putin quer tirar da Ucrânia] já está resolvida. 

Do outro lado, o ministério das relações exteriores da Ucrânia disse que o status final das regiões só será resolvido quando Kiev “restaurar sua soberania nelas”. Como não se imagina a Rússia devolvendo a Crimeia ou retirando suas tropas do Donbass, temos uma sinuca de bico.  

Por aqui, a XP reiterou sua recomendação de compra para os papéis da Petrobras, como o Bradesco BBI havia feito na semana passada. Entenda por que abaixo – e veja se faz sentido apostar nas ações da estatal.

Petrobras barata

Em fevereiro do ano passado, a XP rebaixou sua recomendação de Petrobras para “venda”, por conta da troca no comando – Bolsonaro tinha acabado de demitir o eficiente Roberto Castello Branco, por conta de aumentos sucessivos no preço dos combustíveis, e colocado no lugar uma incógnita, o general Joaquim de Silva e Luna. Investir numa empresa que pode ter um bom CEO sacado pelo governo pelo pecado de produzir lucro para os acionistas simplesmente não fazia sentido, de acordo com a análise da corretora. O “risco político” dentro da Estatal era alto demais. 

Continua após a publicidade

Em dezembro, porém, os analistas da corretora voltaram a atrás. A essa altura, o petróleo já estava em franca ascensão. Tinha passado US$ 51 no início de 2021 para US$ 84 em outubro). A petroleira entregava lucros recordes (fecharia o ano em inéditos R$ 106 blhões). 2021 ainda geraria R$ 7,7 em dividendos por ação. Um payout de absurdos 27% sobre o preço da ação no final do ano – indicativo de que o preço dos papéis estava baixo demais em comparação com os lucros que a companhia proporciona. Mesmo assim, o preço da ação subiu relativamente pouco em 2022: 15%, da casa dos R$ 28 para a dos R$ 32.  

A esse preço, o valor de mercado da Petrobras é de R$ 445 bilhões (o valor somado de todas as ações da companhia). Divida isso pelo lucro anual. Dá 4. Ou seja: a Petro vale hoje míseras 4 vezes seu lucro em 12 meses. Esse é o P/L (índice preço sobre lucro) dela. O da Shell, sua par anglo-holandesa, é de 10. O da Exxon, dos EUA, 15. 

O P/L mostra se uma ação está cara ou barata. Como o da Petrobras está bem abaixo do de suas irmãs do mercado global, temos que ela está barata – cortesia do risco político. 

Mas talvez esteja barata demais, até levando em conta o problema de ela ser uma estatal. Foi isso que a XP considerou em sua análise mais recente da Petro, divulgada hoje. A corretora reiterou sua recomendação de compra, elevando seu preço-alvo para R$ 47,80 – o que representaria uma alta de 38% sobre o valor atual.

Para este ano, a corretora prevê um dividend yield de ainda impressionantes 23% (o dobro da renda fixa, que por si só já está num patamar estratosférico). E imagina que, com os lucros subindo nos próximos anos, graças a aumentos de produção e a um barril num patamar elevado, essa proporção irá se manter nos próximos cinco anos, mesmo com o preço da ação subindo.   

Continua após a publicidade

Um paraíso, em suma. Mas a VCSA faz uma ressalva. O último ano em que investidores apostavam forte na Petrobras foi o já longínquo 2008, quando o P/L da estatal estava em 15 (ou seja, com a ação valendo três vezes mais do que hoje, independentemente da cotação nominal da época). Foi a época do anúncio do pré-sal, hoje responsável por dois terços da produção de petróleo e gás da companhia. A empresa extrai dali 1,9 milhão de barris de óleo equivalente por dia (petróleo e gás somados, e contabilizados na mesma unidade de medida). Somando as outras fontes, são 2,9 milhões de bpd.

A previsão é a de que a Petrobras extraia 8,2 bilhões de barris nos próximos 10 anos. Dá uma média de 2,2 milhões de bpd. Ou seja: não muito acima da atual. 

A produção da Petrobras vinda de outras fontes, por sua vez, caiu. Em 2008, sem o pré-sal, eram 2,4 milhões de bpd – ou seja, uma quantidade não tão menor que os 2,9 bpd de hoje, com o pré-sal. 

Ou seja: é também por isso que a Petrobras está relativamente barata, não apenas por conta do risco político.

Outro ponto: em 2008, carros elétricos eram quase ficção científica. A Tesla fabricava um carrinho esportivo de nicho, o Roadster. Hoje é a montadora mais valiosa do mundo, léguas a frente de suas rivais. Rivais que, por sinal, estão eletrificando suas frotas a toque de caixa. 

Continua após a publicidade

A gasolina representa 44% do que se extrai de um barril de petróleo. O diesel, 21%. Numa realidade com a maior parte da frota global eletrificada, uma fatia substancial da demanda por petróleo deixará de existir. E esse futuro é vislumbrável – coisa para a próxima década já.

Ou seja, a Petrobras pode ser um bela vaca leiteira de dividendos nos próximos anos, e recompensar regiamente os acionistas que entrarem no barco agora. Mas deixou de ser um investimento que faça sentido para o longo prazo – com ou sem risco político.

Compartilhe essa matéria via:

Maiores altas

Banco Pan (BPAN4): 5,68%

Yduqs (YDUQ3): 3,45%

Continua após a publicidade

Méliuz (CASH3): 2,82%

Minerva (BEEF3): 2,65%

JHSF (JHSF3): 2,46%

Maiores baixas

Qualicorp (QUAL3): -5,63%

Continua após a publicidade

Natura (NTCO3): -4,56%

Azul (AZUL4): -4,26%

Iguatemi (IGTI11): -3,82%

Petz (PETZ3): -3,40%

Ibovespa: 0,20%, a 120.259 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,63%, a 4.602 pontos

Nasdaq: -1,21%, a 14.442 pontos

Dow Jones: -0,19%, a 35.228 pontos

Dólar: 0,62%, a R$ 4,78

Petróleo

Brent: 3,46%, a US$ 111,44

WTI: 3,43%, a US$ 107,82

Minério de ferro: 3,53%, US$ 159,00, na bolsa de Cingapura

Publicidade