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Evento de empoderamento feminino tem “festival” de estereótipos

Clichês chamaram atenção em encontro da Atlas Schindler para celebrar assinatura dos "Princípios de Empoderamento das Mulheres", documento da ONU

Por marinaverenicz
Atualizado em 19 dez 2019, 16h34 - Publicado em 18 jun 2019, 16h40

São Paulo – “Três mulheres trabalhando juntas é difícil de lidar”, disse Jóia Bergamo, à frente do escritório de arquitetura que leva seu nome.

A declaração foi dada durante um evento sobre empoderamento feminino nos setores imobiliário e de construção civil, promovido pela Atlas Schindler, fabricante suíça de elevadores, nesta terça-feira (18), em São Paulo.

O propósito do encontro era a assinatura por parte da multinacional da carta de adesão aos “Princípios de Empoderamento das Mulheres”, projeto da ONU Mulheres e do Pacto Global das Nações Unidas que visa promover a equidade de gênero em atividades sociais e econômicas. Mas o debate acabou em um “festival” de clichês.

“Não precisamos partir para o feminismo, para o exagero, para a equidade de gêneros”; “A mulher completa o homem”; “Para os meus filhos é normal uma mãe trabalhar”; “Há quatro anos as mulheres saíram de casa e começaram a trabalhar” foram algumas das frases que chamaram a atenção. Pessoas da plateia se mostraram incomodadas teve até quem deixasse o local.

No palco, além de Jóia, estavam Marici Santos, diretora de serviços e modernização da Atlas Schindler, Eduardo Zangari, engenheiro civil e diretor da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC-SP), Gabriella Spinola, diretora do setor de compras da Accor, e Iná Quintas, sócia e diretora da construtora e incorporadora Vértice.

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Apesar de ser um evento para debater a promoção da diversidade e da equidade de gênero, Jóia, Zangari e Iná disseram não ter políticas ativas para estimular a representatividade de grupos minoritários em suas empresas. A justificativa foi de que deve-se contratar os melhores profissionais, independente do gênero, da cor ou da orientação sexual.

Entre os convidados, estava Theo van der Loo, ex-CEO da Bayer. Conhecido por defender questões raciais e de gênero no mundo corporativo, o executivo pediu a palavra. Da plateia, ele ponderou que estavam sendo discutidas questões como cotas raciais, mas nenhum dos debatedores ali era negro. “A ausência dessas pessoas aqui não é porque não existem negros qualificados. Eu mesmo poderia indicar alguns para esse debate.”

Em resposta ao executivo, Márcia Pretti, gerente de contabilidade e coordenadora do Comitê de Diversidade & Inclusão da Atlas Schindler, que mediava o debate, disse que erros fazem parte do processo de construção de políticas de igualdade.

Por telefone, van der Loo conversou com a VOCÊ S/A sobre o encontro. Ele lamentou o fato de, em geral, apenas homens brancos palestrarem. “Não é proposital. Pessoas privilegiadas acham que está tudo ótimo. Já os que sofrem têm outra visão.”

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Sobre as controversas declarações que presenciou, ele atenuou, dizendo que é preciso estar atento em como se posicionar sobre causas delicadas. “Devemos ter um comportamento adequado. Muitas vezes, as pessoas não se dão conta, falam no automático. Quando se coloca no lugar do outro, você se dá conta da sua realidade”.

Carlos Augusto Júnior, diretor de RH  e de pessoas da Atlas Schindler, lembrou em nota disparada pela imprensa logo após o evento da importância da conversa para estimular o debate sobre diversidade. “Em um país como o Brasil, que deve levar mais de nove décadas para que mulheres se igualem aos homens, segundo dados do Fórum Econômico Mundial, estimular debates como este e se comprometer com o empoderamento feminino no ambiente corporativo é fundamental para que possamos melhorar este cenário e atuarmos como agentes ativos de um futuro mais igualitário, que possa ser desfrutado por homens e mulheres.”

*Estagiária sob supervisão de Elisa Tozzi

 

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