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Conheça a PayFace, startup de biometria facial para pagamentos

A solução de pagamentos que permite transações sem cartão ou celular cresce em ritmo acelerado pelo mundo. Conheça a história e os planos da empresa, pioneira do setor no Brasil.

Por Paulo César Teixeira | Design: Cristielle Luise | Fotos: Divulgação | Edição Alexandre Versginassi
12 Maio 2023, 06h28
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ideia surgiu na fila de um bandejão. Era um dos restaurantes que ficam no entorno do campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Amigos de longa data, Eládio Isoppo, que cursava Sistema de Informação, e Ricardo Fritsche, que havia retornado à faculdade de Ciência da Computação depois de uma década afastado para empreender, percebiam uma demora absurda para pagar um simples almoço.

Desacostumado da rotina estudantil, Fritsche era o que mais se incomodava. Não fazia sentido passar mais tempo na fila do buffet do que almoçando. Em busca de uma solução, imaginou um dispositivo tecnológico acoplado à balança do restaurante que identificasse o cliente e, ao mesmo tempo, providenciasse o pagamento de maneira automática.

Isoppo gostou da ideia. E sugeriu que desenhassem uma tecnologia com biometria facial para vários tipos de negócio. Dessa semente surgiria, em setembro de 2018, a Payface: uma solução de pagamento que permite ao consumidor acelerar a experiência de compra sem uso de cartão ou celular. Basta passar em frente a uma câmera, conferir se a compra está correta, e aprovar.

Como funciona

O conceito já havia sido colocado em prática em 2017 por uma empresa do grupo Alibaba (gigante chinês de comércio eletrônico), com o lançamento do Smile to Pay. Dois anos depois, também na China, a Tencent lançou um sistema similar, o Frog Pro. “Quando começamos, o negócio ainda era incipiente. Só uma rede de supermercados e duas de fast food usavam”, conta Isoppo, CEO da Payface.

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Mais tarde o sistema decolaria por lá. Segundo a iMedia, uma companhia de pesquisa de mercado chinesa, 495 milhões de pessoas usaram a tecnologia em 2021 – ou seja, um terço da população do país asiático. O cenário é bem diferente do Brasil, onde a startup catarinense navega quase sozinha. “Existe o uso da biometria facial em transações financeiras. Mas para compras em lojas físicas somos os únicos.”

Apesar de ainda ser novidade por aqui, a tendência é de crescimento vultoso mundo afora. Um estudo divulgado em 2021 pela consultoria Juniper Research estima que, em 2025, 1,4 bilhão de pessoas estarão utilizando sistemas de pagamento seguro baseado em reconhecimento facial.

Para aderir ao sistema da Payface, você precisa baixar o aplicativo da startup, fazer o reconhecimento facial e registrar dados pessoais. Além disso, claro, deve-se escolher uma forma de pagamento. As mais usadas são os cartões de crédito tradicionais e os private label – aqueles que as lojas oferecem. A partir do segundo semestre deste ano, também serão aceitos cartões de débito.

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(Payface/Divulgação)

Mas como é feita a verificação facial? A solução transforma a imagem do rosto em pontos geométricos, que são traduzidos em código binário. É como se ela transformasse os traços da sua face num QR Code – como fazem os iPhones. Quando você vai às compras, o dispositivo da loja ou do supermercado captura a imagem e a compara aos dados da base da Payface. A tecnologia possibilita a verificação biométrica sem a necessidade de armazenar a foto do usuário.

Para o cliente, a principal vantagem é sair sem carteira ou celular e, ainda assim, poder comprar. “As pessoas que passeiam à noite com o cãozinho, por exemplo, não costumam portar dinheiro ou smartphone por medida de segurança”, diz Isoppo. “Agora, podem dar uma passadinha no mercado antes de voltar para casa.”

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Teoricamente, apenas no caso de gêmeos univitelinos pode haver falha na identificação do cliente. Mesmo assim, Giulia Dal Negro, product designer da Payface, desafiou a irmã gêmea a passar-se por ela para testar o sistema, que não se deixou enganar.

Escolha dos investidores 

Quando conceberam a Payface, nenhum dos fundadores era marinheiro de primeira viagem em matéria de empreendedorismo. Entre outras coisas, Eládio Isoppo, 33 anos, havia criado o H2App, aplicativo voltado à compra de galões de água sem sair de casa – o negócio acabou vendido para uma indústria de bebidas da região Sul. Já o sócio, Ricardo Fritsche, tinha fundado a Meritt, uma edtech que recorre à inteligência no uso de dados para aprimorar processos de aprendizagem. A startup teve incentivo da Fundação Lemann e, em 2020, foi vendida ao conglomerado educacional Cogna.

Para começar os trabalhos, a dupla investiu R$ 100 mil em recursos próprios. Em abril de 2019, recebeu R$ 400 mil dos primeiros investidores. O dinheiro foi usado para prototipar e validar a solução de biometria facial. Em outras palavras: certificar-se de que ela era tecnologicamente viável e teria acolhida no mercado. Até meados de 2020, a Payface havia captado R$ 3 milhões de apoiadores como BRQ Digital Solutions, fundo Next A&M, BTG Pactual e Harvard Angels.

Segundo Isoppo, um dos segredos para vencer a fase embrionária do negócio é escolher bem os parceiros; buscar sinergias não só em termos financeiros, mas também de conceitos e valores. Hoje, o total de recursos alocados por investidores ultrapassa os R$ 30 milhões.

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Primeiros clientes

A tecnologia foi testada, a princípio, em 20 restaurantes de Florianópolis. Boa parte funcionava no Passeio Primavera, shopping a céu aberto onde a Payface também abriu seu primeiro escritório. “Como a gente trabalhava lá, testávamos a solução in loco no almoço. Se desse problema, já fazíamos as melhorias”, lembra Isoppo.

Não tardou para que os empreendedores voltassem os olhos aos supermercados, segmento marcado pelo grau elevado de recorrência da clientela. Um dos fatores que impulsiona a fidelização a uma loja específica é a rapidez com que a fila do caixa anda. Logo, trata-se de um ambiente amigo a soluções que acelerem o pagamento.

Em março de 2020, uma rede supermercadista de Santa Catarina avançou em tratativas com a Payface. Mas veio a pandemia. E com ela, a desistência do negócio.

Passado o momento mais agudo da crise, a rede Zona Sul, do Rio de Janeiro, tornou-se o primeiro grande cliente da startup. Depois, veio a St. Marché, de São Paulo, que chegou por meio de um programa global da Mastercard, o Biometric Checkout. “Fomos a primeira operação de pagamento por biometria facial reconhecida no mundo por uma bandeira de cartão de crédito”, orgulha-se Isoppo.

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(Payface/Divulgação)

Cabe lembrar que a pandemia incentivou as pessoas a priorizarem formas de pagamento sem toque físico – touchless. Isso ajudou na expansão do reconhecimento por biometria facial. Por outro lado, o uso de máscaras obrigou a Payface a redesenhar os modelos de algoritmo, de modo a identificar com maior exatidão a parte superior do rosto

O desafio técnico exigiu um esforço extra de energia e recursos. Por conta da máscara, o grau de acurácia do sistema havia diminuído consideravelmente. A cada duas situações, em uma o cliente precisava digitar o CPF para complementar a identificação. Nada muito complicado, mas que reduzia a rapidez da modalidade. Sem a máscara, o percentual cai para 5%.

Em dezembro de 2022, a Payface foi convidada pela Mastercard para participar do Innovation Forum LAC Miami, nos Estados Unidos. Para efeito de demonstração, a startup brasileira integrou seu dispositivo de captura de imagem facial a uma máquina de café, o que propiciou aos participantes vivenciar uma experiência de compra inusitada. “Quando recebia a bebida, a pessoa via o rosto impresso na espuma do café”, relata Isoppo. A tecnologia produziu o que ele chama de “efeito uau”. “É isso que a gente quer causar nas pessoas: entregar soluções que as deixem boquiabertas.”

Crescimento acelerado 

Ainda em 2023, o sistema da Payface deverá ser implantado em farmácias. No total, a quantidade de PDVs que já aderiram à tecnologia passa de 1 mil. Dois fatores deverão contribuir para a expansão do negócio. Em breve, a empresa lançará um novo produto, o Pixface. A ideia é que o usuário tenha no app da Payface uma conta de banco para realizar operações via Pix, usando apenas o rosto como identificação. 

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Outro fator que deve abrir uma boa perspectiva de crescimento é a implantação de pagamento por biometria facial nas maquininhas de cartão convencionais. Desse modo, o sistema poderá ser adotado em qualquer ponto de venda, da padaria ao pipoqueiro da esquina. Já nos libertamos do dinheiro de papel. O passo seguinte parece ser, de fato, não precisarmos de mais nada – além de dinheiro na conta do banco.

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