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Conheça o empreendedor afegão que procurou refúgio no Brasil e abriu marca de bolsas

A ambição de Esmatullah Mohsini, ou simplesmente Esmat, deu origem à Esmat Wear: uma confecção de fundamento sustentável. Conheça sua história.

Por Luana Franzão
Atualizado em 4 out 2024, 13h42 - Publicado em 4 out 2024, 08h00
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 (Esmat Wear/Divulgação)
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e um vilarejo no interior do Afeganistão, à capital do Irã, a São Paulo. Essa é a jornada percorrida por milhares de refugiados que procuraram o Brasil após a retomada do Talibã no país muçulmano, em agosto de 2021.

Em setembro daquele ano, o Brasil abriu as portas para quem fugia do conflito – o único país do mundo a fazê-lo. Era possível para cidadãos afegãos que tivessem alguns documentos, como passaporte, solicitar um visto de acolhida humanitária em quatro embaixadas brasileiras diferentes em países vizinhos ao Afeganistão. Muitos procuraram refúgio, e o fluxo migratório dessa população ao Brasil viu seu auge no segundo semestre de 2022.

Esmatullah Mohsini pousou no aeroporto de Guarulhos em novembro de 2022, quando tinha 19 anos. Quando o grupo fundamentalista islâmico tomou o vilarejo em que vivia, anos antes da tomada total do país, Esmatullah e alguns membros da família se mudaram para a capital do Irã, Teerã. Com dificuldades de renovar o visto iraniano, ele tentou a oportunidade de seguir para a América do Sul. “A gente não sabia se ia dar certo, porque muitas pessoas não conseguiram [o visto]”, relatou à Você S/A.

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(Esmat Wear/Divulgação)

Tendo parado os estudos aos 10 anos para ajudar a família na confecção de roupas e bolsas, Esmatullah não sabia falar inglês, muito menos português. O aeroporto de Guarulhos, estampado com placas no alfabeto romano, era indecifrável para os olhos acostumados com o alfabeto árabe – com o qual se escreve o farsi e o pashto, línguas persas mais comuns no Afeganistão.

Foram dois meses vivendo no saguão do aeroporto. Lá, ele conheceu muitos afegãos em busca de abrigo, e muitos brasileiros que tentavam ajudar. Lá, Esmatullah virou Esmat, apelido que ganhou dos colegas.

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Durante sua estadia no aeroporto, conheceu Sheila e Charles Chainho, um casal de brasileiros que se afeiçoou ao jovem afegão. O sentimento foi recíproco, e o casal que morava sozinho, logo o acolheu.

Esse é o começo da história da Esmat Wear, marca criada por Esmat, Sheila e Charles.

Primeiros passos

Esmat tinha uma missão principal: aprender português.

Começou o beabá com Sheila, aprendendo a escrever, falar e compreender o idioma. A língua portuguesa, a tal da última flor do Lácio de Olavo Bilac, não é fácil – talvez esse seja um dos poucos consensos no mundo. Aos poucos, foram falando o português em casa com mais naturalidade, e hoje, Esmat fala a língua com fluidez.

Das poucas coisas que sabia sobre a nova vida, uma delas era que gostaria de continuar trabalhando com corte e costura. As opções nesse ramo para um refugiado, no entanto, eram limitadas – fugir de uma precarização extrema parecia uma missão quase impossível.

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Dos três partiu o estalo de começar uma produção própria, ao invés de procurar uma confecção onde o imigrante pudesse trabalhar.

No Irã, Esmat cerzia réplicas de bolsas e mochilas de marcas de luxo. Sheila sabia que esse tipo de mercadoria não daria o mesmo lucro aqui – já existe uma tal de 25 de março que supre essa demanda na capital paulista.

De presente, o afegão recebeu uma máquina de costura da mãe brasileira. Ainda que fosse o modelo errado para costurar bolsas, Esmat diz que foi “o melhor presente que poderia ter ganhado”. Com o novo equipamento, começou a usar todos os tecidos espalhados pela casa para criar os primeiros modelos.

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Sheila e Charles deram o empurrão que ele precisava para profissionalizar a coisa. Pesquisaram e sugeriram uma linha de bolsas e mochilas com tecidos sustentáveis, tingimentos naturais e sem uso de couro animal. O design foi inspirado por marcas esportivas e de itens de aventura europeias, que encontravam pouco no Brasil.

A Esmat Wear é a junção de todos esses fatores e encontros improváveis.

Funcionamento

Até hoje, Esmat é responsável pela confecção de todas as peças à venda no site da marca. Ele desenhou todos os modelos, e costura cada uma das encomendas.

Na verdade, não dá para dizer que ele desenhou todos os modelos. Sheila relata que nunca viu um croqui de Esmat: ele já aparece com as novas bolsas prontas.

“Ele fala: ‘tenho uma ideia de bolsa’. Alguns dias depois, chega com ela feita. Nunca desenha. Fazemos algumas alterações nesse modelo piloto, mas as criações sempre são espontâneas dele”.

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Os pais brasileiros continuam animados em ajudá-lo. “Ele é um costureiro de mão cheia. Tudo onde coloca a mão, dá certo”, gabou-se a mãe.

Futuro

Esmat realizou o sonho de ter a própria marca, mas ainda não está satisfeito. Quer expandir e criar linhas de tênis e roupas.

Sua maior vontade, entretanto, é trazer a família, que ainda mora no Irã, para ajudá-lo no negócio. Tenso com a situação de seu país e a animosidade com o país vizinho, gostaria de ter a família por perto.

Com a última atualização das regras para emissões de vistos humanitários para afegãos, a família brasileira está esperançosa em trazer a família afegã de Esmat para viver por aqui.

Brasileiro ou afegão, business is business

Antes de concluir a conversa com a Você S/A, Sheila Chainho fez questão de destacar: Esmatullah é um refugiado afegão que veio ao Brasil e investiu no país. 

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Ao chegar, conseguiu tirar o próprio CPF, Carteira de Trabalho e Cartão SUS. Conseguiu também abrir seu próprio CNPJ, e logo passou do faturamento anual limite para MEIs. Agora, Esmat tem sua pequena empresa e paga impostos no Brasil.

E ele não é o único. O programa Refugiado Empreendedor, do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas, o Acnur, ajuda mais de 165 empreendimentos liderados por refugiados.

Levantando dados de 63 participantes, a entidade apontou que 96% dos entrevistados querem expandir seus negócios no Brasil, e 71% já possuem CNPJ, o que significa que operam formalmente. Ainda, 44% contrataram funcionários no país. Para Esmat, as portas se abrem vagarosamente para aqueles que insistem.

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