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CEO da Irani (RANI3) conta os planos da empresa quatro anos após o “re-IPO”

As ações da Irani (RANI3) sobem 120% desde o “re-IPO”, em 2020. E agora Sérgio Ribas, diretor-presidente da empresa de embalagens de papel e dona de 34 mil hectares de floresta, pretende começar um novo ciclo de investimentos, e dobrar o tamanho da companhia.

Por Thais Folego
19 fev 2024, 06h00

Irani nasceu em 1941 e está na bolsa desde 1977. Mas essa fabricante de embalagens de papel e papelão com sede em Porto Alegre tinha um free float baixo, com o grosso das ações nas mãos dos controladores. Essa história mudou em 2020.

A companhia fez um grande follow-on no início daquele ano. Basicamente um novo IPO, ampliando a base acionária em 90 milhões de papéis – um incremento de 60%, que trouxe R$ 405 milhões para investimentos e tornou a empresa mais pulverizada, com 43,7% das ações nas mãos de minoritários.

O negócio da Irani começa em suas florestas, que somam uma área equivalente a 34 mil campos de futebol – 82,4% em Santa Catarina, 17,6% no Rio Grande do Sul. Das árvores, vem a celulose, matéria-prima das embalagens e das caixas.

Parte da madeira vai para a geração da energia de que a empresa necessita, via usinas de biomassa – produção complementada por pequenas centrais hidrelétricas.

Na ponta final da cadeia, reciclagem. “Fazemos o papel, compramos as aparas [de caixas usadas] e as reciclamos para produzir novas caixas. É um negócio extremamente sustentável, com um circuito fechado”, diz Sérgio Ribas, diretor-presidente da companhia desde 2017.

Desde o “re-IPO”, as ações sobem 120%, elevando o valor de mercado para R$ 2,5 bilhões. E os investimentos deram frutos, como o crescimento de 30% na produção de celulose. Agora, Ribas planeja um novo ciclo de injeção de capital, que pode envolver mais um follow on, com o objetivo de dobrar o tamanho da empresa.

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RANI3 faz parte do IDIV, o índice de dividendos da B3, com um yield de 8,52% nos últimos 12 meses. O Ebitda ajustado foi de R$ 133,3 milhões no terceiro trimestre de 2023, redução de 2,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. A margem, porém, teve um incremento: de 31,1% no 3T22 para 32,7% no 3T23. E a dívida líquida é relativamente baixa, em 2,1x o Ebitda. Nesta entrevista, Ribas fala sobre o presente e o futuro da Irani.

Qual é o seu principal desafio hoje à frente da Irani?

É manter um ritmo de crescimento adequado para uma empresa de capital aberto. Temos a ambição de ganhar mais relevância no mercado nacional com crescimento por meio de investimentos orgânicos [projetos greenfield, levantados do zero], como fizemos no último ciclo, ou por eventuais aquisições e fusões, que podem ser uma estrada de crescimento importante.

Nossa expectativa é dobrar o tamanho da empresa nesta década.

Quais foram os investimentos da Irani nos últimos anos?

A Irani é uma empresa de capital aberto desde os anos 1970, mas tinha um percentual de ações disponíveis para negociação [free float] muito pequeno, pois grande parte estava com o grupo controlador.

Lançamos um re-IPO [follow-on] em 2020 e hoje temos 82 mil acionistas pessoa física. A oferta primária foi toda destinada para um ciclo de investimentos que chamamos de Plataforma Gaia.

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Vários desses investimentos estavam maduros para serem realizados, mas não tínhamos estrutura de capital para isso. Com a oferta pública, destravamos esse processo de crescimento.

É um conjunto de vários investimentos com o objetivo de atualizar a plataforma da Irani, que envolve atualização tecnológica, redução de custos, eficiência energética, aumentar a autoprodução de energia, melhorar as questões ambientais da fábrica de papel, ampliar a capacidade de produção de celulose e de papel ondulado.

São investimentos que somaram até agora R$ 910 milhões – R$ 405 milhões vieram da oferta pública e a outra parte financiada por meio de dívida. Os principais já foram realizados e, com eles, ampliamos a produção de celulose em 30% e melhoramos as emissões de gases.

Também crescemos em 56% a produção de papelão ondulado na fábrica de Santa Catarina, automatizamos todas as plantas industriais e estamos aguardando licenças ambientais para fazer a renovação das nossas PCHs [pequenas centrais hidrelétricas], que vão aumentar nossa capacidade de geração de energia.

Vocês estão investindo no crescimento da produção. De onde esperam crescimento de demanda?

Temos três linhas de negócios. No de papel para embalagem, os motores de crescimento são o avanço do PIB, já que nossos negócios são muito atrelados à economia real, associado a outras duas tendências.

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A primeira é a substituição de plástico por papel, material que está sendo demandado em nichos dos quais antes não participava.

A segunda é o crescimento do e-commerce, que amplia o mercado de papéis para embalagem, uma vez que consome caixa de papelão para entregar os produtos para o consumidor final.

A ampliação do e-commerce foi extremamente robusta na pandemia, e vai continuar. São duas tendências fortes que têm aumentado a demanda estruturalmente. Esse é o negócio original da Irani, estamos há 82 anos nesse mercado e somos líderes em vários nichos. Por exemplo, papéis para panificação, industriais e para sacolas, que é um segmento que cresce muito.

O segundo negócio é o de papel ondulado, que é diferente do setor de papel. Trata-se da produção de caixas. É um negócio de economia circular perfeita: temos a semente, fazemos a mudinha, plantamos a árvore, cortamos a árvore, parte vai para biomassa e parte vai para a produção de celulose, fazemos o papel, fazemos a caixa, as vendemos, compramos as aparas e as reciclamos para produzir novas caixas.

É um negócio extremamente sustentável, com um circuito fechado. Os clientes são grandes indústrias: frigoríficas, alimentícias… Toda a indústria de transformação é cliente de empresas de papelão ondulado.

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O terceiro negócio é o de resinas sustentáveis. Temos um ativo florestal no Rio Grande do Sul, do qual extraímos resina, parecido com o processo que se faz com a borracha, em que você faz estrias na árvore e ela solta resina. Ela se transforma em dois produtos: em breu e terebintina.

O breu é usado para colas e isolantes na indústria. A terebintina é para perfumes e produtos de limpeza – o cheiro do Pinho Sol, por exemplo, é o da terebintina. Exportamos quase toda a produção, que tem um apelo de sustentabilidade, porque concorre diretamente com as resinas à base de petróleo.

Todos os nossos produtos são de base florestal, renovável. 80% do faturamento vem do mercado interno e 20% do externo. Exportamos 30% do negócio de papel e 100% do negócio de resinas. Papelão ondulado não exportamos, porque é muito volumoso. Nossas caixas se tornam embalagens de exportação para os nossos clientes.

O crescimento do país deve se intensificar com a redução dos juros. Isso vai se traduzir em maior consumo. E mais consumo é mais papel.

Como planejam financiar o próximo ciclo de expansão?

Vamos acessar o mercado de capitais, tanto de dívida quanto de ações. Nossa expectativa é estar com o novo ciclo definido até o fim deste ano. Uma indústria de papel e embalagem tem que fazer tudo muito bem planejado, porque os investimentos levam alguns anos para acontecer e mudam o patamar de rentabilidade da empresa.

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(Foto: Irani Divulgação/VOCÊ S/A)

Desde 2020, as ações da Irani subiram mais de 100%…

A empresa tem ganhado credibilidade no mercado porque entregou mais do que prometeu no re-IPO. Na época, as principais empresas fazendo IPO eram de educação, saúde, tecnologia, que são teses mais óbvias.

Como uma companhia relativamente pequena para os padrões das empresas listadas e num segmento supertradicional, tivemos que fazer promessas muito sérias de retorno para o mercado. A credibilidade vem justamente dessa consistência, entre o que a gente prometeu e o que a gente entregou.
Nosso negócio tem uma correlação muito forte com o PIB. E entendemos que o crescimento do país deve se intensificar a partir de agora com a redução das taxas de juros e o afrouxamento monetário maior. Isso vai se traduzir em maior consumo. E mais consumo é mais papel. Mais papelão ondulado.

Estamos concluindo um ciclo de investimentos. E o retorno será capturado ao longo dos próximos anos. Existe todo um um potencial de crescimento da rentabilidade. Nosso compromisso é continuar trabalhando para gerar resultados cada vez melhores e remunerar adequadamente os nossos acionistas.

Como a empresa busca inovar?

Há 10 anos, criamos um programa de inovação interna chamado Inova Ideias, em que colaboradores podem sugerir propostas – e serem premiados caso elas sejam implementadas. O programa já recebeu quase 7 mil propostas de colaboradores, gerou retorno financeiro de R$ 13 milhões e distribuiu R$ 300 mil aos idealizadores.

Um desafio envolveu a gestão de resíduos. Por exemplo: na compra de aparas para reciclagem e produção de papelão, a gente recebe muito plástico junto com o material.

Ele é extraído e hoje temos uma fábrica de plástico para juntá-lo e vendê-lo em fardos para a produção de outros subprodutos, como mourão para cercas e tijolos para casas. É uma forma de prolongar o ciclo de vida de um material que seria danoso para o meio ambiente se fosse descartado em aterros industriais.

Outro programa é o Irani Labs: lançamos desafios para startups, e podemos comprar a ideia para implementá-la ou investir para que a startup continue desenvolvendo o produto.

Temos hoje três investidas e estamos indo para a quarta, que são startups voltadas para temas nos quais nós temos interesse. Por exemplo, embalagens sustentáveis a partir de outras matérias-primas. Tem uma empresa que trabalha com fibra de mandioca e de palha de milho para fazer embalagens.

Quais fatores mais impactam o negócio da Irani?

A demanda de uma empresa de papel e de embalagem pode cair, mas quando isso acontece são 2% ou 3%. Não é como alguns outros negócios em que a demanda cai 80% em momentos de crise.

Você também não vai ver uma mudança de patamar de rentabilidade muito grande para cima. Espera-se uma certa estabilidade. E o pagamento de dividendos é robusto. Nossa política determina a distribuição de 50% do lucro.

Também estamos trabalhando muito forte a questão da diversidade. Temos um banco de talentos para pessoas negras, LGBTQIA+ e com deficiência. Avançamos no debate interno, de que a empresa deve refletir em seus quadros a mesma proporção que existe na sociedade.

É uma questão pessoal para mim, já que sou gay num segmento em que não há pessoas gays nas diretorias. Queremos ser protagonistas
em diversidade.

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