Festa no apê das bolsas americanas; Netflix e pote de sorvete no Ibovespa
S&P 500 volta ao topo e recupera US$ 12 trilhões que tinham sumido das bolsas. Por aqui, a debandada na equipe de Guedes deixa o clima morno.
Lá fora foi dia de festa. Mas por aqui a instabilidade do governo jogou água no chopp. O S&P 500 fechou em 3.380 pontos – alta de 1,40%. A pontuação do principal índice das bolsas americanas chegou a 3.387 pontos durante o dia. Um pontinho a mais que o recorde histórico de fechamento, do dia 19 de fevereiro. O recorde intraday é um pouco maior: 3393 pontos. Então não teve recorde nenhum hoje.
Mas isso é uma questão meramente filosófica. O fato é que, sim, o S&P 500 recuperou basicamente o patamar pré-pandemia, que era de topo do pico da euforia. Isso marca o fim do ciclo de queda depois de meros 175 dias. Nesses seis meses, o S&P 500 foi ao inferno e voltou: US$ 12 trilhões que tinham desaparecido do preço das ações estão de volta.
É a recuperação mais rápida da história. Na Grande Depressão, o S&P 500 só voltaria ao nível pré-crash de 1929 e em 1954 – 25 anos depois.
De resto, o Dow Jones fechou nos 27.976 pontos (+1,05%) – não muito longe do recorde, de 29.551, também registrado em fevereiro. Já a Nasdaq, que já tinha ultrapassado o recorde pré-pandemia na semana passada, avançou 2,13%, para 11.012 pontos. Cortesia das donas do mundo: Microsoft (+2,90%), Apple (+3,37%), Amazon (+2,66%), Google (+1,78%) e Facebook (1,41%).
Já o Ibovespa ficou empacado: -0,06%. Zerou.
Culpa da saída do secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar. O secretário pediu demissão do Ministério da Economia na terça-feira (11) junto com outro auxiliar direto de Guedes, Paulo Uebel, da Secretaria de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.
De malas prontas para deixar sua secretaria, Mattar fez declarações duras contra o governo, apontando a falta de uma agenda liberal e o ritmo lento, quase parando, das privatizações. Sem falar no outro problema: Guedes pretende manter uma política austera de gastos públicos, em nome de segurar a dívida pública, o que permite a manutenção dos juros perto de zero. Até aí, tudo certo para Mattar e Uebel.
Só que o restante do governo quer o oposto: mais gastos públicos para combater a recessão da Covid, e consideram as dívidas um problema menor. Bolsonaro tende a ficar do lado do pessoal dos gastos públicos, já que é candidato à reeleição, e gastos públicos geram votos. Nisso, os secretários entenderam que o governo como um todo não está empenhado na manutenção sustentável da economia, e pediram para sair.
Boa parte dos investidores fez o mesmo, e decidiu se desfazer de suas ações, jogando os preços no vermelho. A bolsa até tinha aberto em alta (de 0,64%, a 102.831 pontos, seguindo os EUA), mas virou para a queda após as declarações de Mattar. Chegou a operar em 100.697. Depois recuperou-se do baque, e fechou em 102.117 – quase a mesma pontuação do fechamento de ontem.
Essa recuperação na reta final veio em parte por conta de um dia feliz para aquela coisa tão brasileira quanto a feijoada, a caipirinha e os governos instáveis: as commodities. O petróleo subiu bem, de novo, e o minério de ferro segue em alta.
Sobre o petróleo: nesta quarta-feira, a OPEP divulgou o seu relatório mensal que mantém a previsão otimista de demanda global em 7 milhões/bpd (barris por dia) para 2021. Outro fator determinante para a alta foi uma queda: a queda 4,5 milhões de barris nos estoques dos Estados Unidos, ante uma projeção de recuo de 2 milhões. Foi a terceira semana consecutiva de queda nos estoques. Resultado: alta de 2,55% no petróleo WTI (referência nos EUA), cotado a US$ 42,67 o barril; o tipo Brent (referência global) subiu 2,09%, a US$ 45,43. Com isso, os papéis da Petro fecharam em alta de 1,73% .
No caso da mineradora, as ações seguem se beneficiando com o ciclo de alta nos preços do minério de ferro, subiram 2,02%. Os ganhos da Vale estenderam para a Bradespar, que detém uma boa participação na Vale. A empresa de investimentos do Bradesco fechou o dia em alta de 2,10%.
Na ponta negativa, um dos destaques foi a Eletrobras, naturalmente. A maior empresa de energia da América Latina, que estava no topo da lista de privatizações, registrou queda de 3,55% depois de Mattar ter jogado a toalha. A manutenção do controle da companhia nas mãos do Estado, afinal, é vista com maus olhos pelos acionistas – como acontece basicamente no caso de todas as estatais. Governos, afinal, tendem a ser pouco atentos à saúde financeira das empresas que gerem (sejam esses governos de direita ou de esquerda). No Brasil, pior ainda.
E caramba. Não é que o voo da Gol e da Azul ontem foi de galinha mesmo? Foi uma possibilidade que adiantamos ontem. Era uma galinha robusta, diga-se: depois de a dupla aérea ter fechado ontem acima de 6% cada uma, impulsionada pela “Vacina Sputnik”, elas abriram hoje subindo quase outro tanto. Mas não resistiram.
Por volta do meio dia já registravam baixas. E fecharam no negativo. -3,85% para a Gol, que conseguiu cair mais do que a Eletrobras. -1,80% para a Azul. Pois é. Enquanto a vacina russa não ganhar o aval de confiável por parte da comunidade científica internacional, as aéreas seguirão num sobe-e-desce – em voos que lembram mais um 14-bis do que um 747.
Resta saber se essa regra também se aplica ao voo do mercado internacional.
Maiores altas
Marfrig: +4,77%
Klabin: +2,38%
Bradespar: +1,66%
Vale: +2,02%
JBS: +2,57%
Maiores baixas
Hering: -5,95%
Gol: -3,85%
CVC: -3,10%
Cyrela: -2,75%
IRB Brasil: -3,45%